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Erdogan se recusa a ceder à pressão das ruas

10:27 | 04/06/2013
Apesar das crescentes críticas à sua forma de governar, para muitos autoritária, primeiro-ministro turco continua irredutível e, mantendo agenda, viaja ao exterior. Analistas temem acirramento dos confrontos. Há dias, a Turquia vem experimentando uma onda de manifestações sem precedentes em sua história recente, dirigidas contra o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. Sem precendentes também é a brutalidade das ações da polícia contra a multidão de manifestantes em Istambul, na capital Ancara, em Izmir e em outros centros urbanos na Anatólia. Apesar da situação tensa, Erdogan iniciou na segunda-feira (03/06), como planejado, uma viagem por Marrocos, Tunísia e Argélia. Pelo menos duas pessoas morreram até agora durante as revoltas; mais de 2 mil ficaram feridas e outras 2 mil foram presas em mais de 60 cidades. As manifestações têm participantes de todas as camadas sociais. Elas surgiram com a revolta com os excessos da polícia na repressão a protestos de ambientalistas contra a demolição de um parque próximo à praça Taksim, no centro de Istambul. A intransigência de Erdogan e sua opinião de que as manifestações são orquestradas por "grupos marginais" já levou a comparações com os déspotas derrubados pela Primavera Árabe para muitos exagerada. "Erdogan foi, diferentemente, dos líderes árabes derrubados, um chefe de governo eleito democraticamente", ressalta Günter Seufert, especialista em Turquia do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança. Segundo Seufert, a Turquia não é um regime totalitário e possui uma série de mecanismos democráticos que funcionam. Para o analista político Cengiz Candar, Erdogan apresenta uma certa "fadiga de governo", após mais de dez anos no poder. "Ele tenta abafar essa sua fadiga de governo com vaidade e orgulho e, se necessário, com a crueldade do gás lacrimogêneo e dos canhões de água." Oposição pouco coesa Não é de se esperar que Erdogan peça desculpas ao povo turco por seu comportamento, como reivindicou na segunda-feira o líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu, após uma reunião com o presidente Abdullah Gül. Seufert acredita que o governo Erdogan, conservador e religioso, deve considerar as manifestações como um "sinal". "Suas chances de conseguir novamente uma maioria absoluta nas eleições do ano que vem certamente são reduzidas", alerta. Não é possível afirmar que existe coesão entre os oponentes de Erdogan, embora uma frente de oposição tenha sido formada com participação dos integrantes da principal agremiação de centro-esquerda do país o social-democrático Partido Republicano do Povo (CHP, na sigla turca); os chamados "kemalistas", cujos principais temas são relacionados ao fundador da república, Mustafa Kemal Atatürk; nacionalistas; curdos; alevitas, aceitos no país como uma minoria religiosa pela supremacia sunita, além de grupos religiosos menores, como "muçulmanos anticapitalistas". Mas ninguém ainda sabe o que pode acontecer quando o objetivo comum de derrubar Erdogan for alcançado. A intransigência do premiê turco também é observada na realização do que ele mesmo chama de "projetos loucos", incluindo um terceiro aeroporto de Istambul, um canal para aliviar o Estreito de Bósforo e a construção de mesquitas gigantes em localizações centrais e colinas. A ideia mais controversa, entretanto, é a construção em curso da terceira ponte sobre o Bósforo. A obra deve receber o nome do sultão otomano Yavuz Selim, cujo reinado está associado à perseguição e ao massacre de alevitas. Nesta disputa, ele também se nega a negociar uma outra solução. "Não vamos deixar o nome de um projeto importante ser ditado por um punhado de saqueadores", afirmou. A Síria, mergulhada numa guerra civil em que a oposição é apoiada por Erdogan, aproveitou para alfinetar a vizinha Turquia. O Ministério do Exterior sírio aconselhou seus cidadãos a não viajarem para o país. Um comunicado lido na TV alertou que a situação de segurança nas cidades turcas se deteriorou significativamente, "devido aos atos de violência do governo de Erdogan contra manifestantes pacíficos". Desde o início da guerra, 380 mil pessoas já fugiram da Síria para a Turquia, de acordo com as Nações Unidas.

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