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Campanha presidencial iraniana enfim chega às ruas

14:06 | 10/06/2013

TEERÃ, 10 Jun 2013 (AFP) - Em um canto da rua Vali-Asr, no centro de Teerã, Armin incentiva os transeuntes a votar no reformista Mohammad Reza Aref, a poucos dias da eleição presidencial iraniana, mostrando que a campanha eleitoral finalmente chegou às ruas.

"Eu não quero um presidente que leve uma 'vida simples', um presidente que coma pão e queijo, e que deseje a mesma coisa para mim", disse à AFP este jovem, zombando dos slogans de campanha do candidato conservador Said Jalili,

um dos favoritos para a votação de sexta-feira.

"Eu quero um presidente que coma pizza e que deseje melhorar a economia", acrescenta.

Jalili é o chefe dos negociadores iranianos para a questão nuclear, e sua intransigência frente às grandes potências é elogiada pelos ultraconservadores.

Seus militantes de base são da Basij, a força paramilitar composta de voluntários leais ao regime, e seus partidários são aqueles que elegeram Mahmud Ahmadinejad presidente em 2005 e em 2009.

Mas esse veterano da guerra Irã-Iraque também é criticado por parte da população que acredita que sua firmeza apenas reforçou as sanções internacionais contra o controverso programa nuclear do Irã, mergulhando a economia na crise.

Contra Armin, Mahdi Sadghiani responde exibindo um grande cartaz de Jalili com o slogan "Jalili, a resposta mais forte às sanções".

Aos 22 anos, este estudante de engenharia garante que o Irã "não precisa depender de outros países. Jalili reacendeu a mensagem da revolução" islâmica de 1979.

"Ele é independente e, se Deus quiser, nunca vai se curvar às exigências do inimigo", acrescentou Milad Rahmani, também de 22 anos, que se juntou à conversa.

Ele afirma que, com Jalili no poder, o Irã vai superar as dificuldades por meio da "resistência", um outro slogan da campanha do candidato.

Esta discussão entre um pequeno grupo é um dos poucos sinais de que a campanha chegou às ruas da capital.

Campanha silenciada Em junho de 2009, a cidade fervia a cada dia com debates acalorados entre partidários de Ahmadinejad e dos dois reformistas Hossein Mousavi e Mehdi Karubi.

As ruas se encheram de agitação quando Ahmadinejad foi declarado vencedor na noite do primeiro turno, enquanto seus adversários denunciavam fraudes em massa. Os protestos foram brutalmente reprimidos.

Este ano, a campanha foi limitada a três debates televisionados entre os oito candidatos, e nenhum de peso carrega a tocha dos reformadores ou moderados.

O ex-presidente moderado Akbar Hashemi Rafsanjani, um dos fundadores da República Islâmica, não foi autorizado a concorrer à Presidência. As autoridades proibiram as manifestações nas ruas e a maioria dos candidatos optou por uma campanha silenciosa.

Os reformistas voltaram-se para Aref, mas seus votos também podem ir para o religioso moderado Hassan Rohani.

Na rua Vali-Asr, Ramin, de 23 anos, veste uma camisa com a imagem de Aref, ex-primeiro vice-presidente do reformista Mohammad Khatami (1997-2005).

"Devemos votar em um governo reformista para salvar a nossa economia em frangalhos", diz. "Só este tipo de governo vai nos dar a liberdade de expressão".

Ao lado dele, Meyssam, um engenheiro elétrico de 27 anos, afirma que espera uma aliança entre Aref e Rohani para aumentar as chances dos moderados de estar no segundo turno. "Temos que convencer as pessoas a votar", insiste. "É inútil boicotar a eleição, isso não nos tiraria da situação atual".

As sanções internacionais mergulharam o país em uma crise econômica e isolaram o Irã. Mas Amir, um funcionário público de 36 anos e ex-membro da Basij, acredita que, independentemente de quem seja o próximo presidente, ele "precisa tornar-se amigo do resto do mundo".

"As pessoas querem a energia nuclear, mas a que preço?", declarou Amir na roda, segurando uma caixa vazia de um medicamento para tratamento de câncer de mama, cada vez mais difícil de se conseguir, assim como outros produtos importados; uma consequência indireta das sanções.

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