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Dois assassinatos políticos aumentam tensão eleitoral

18:46 | 03/05/2013
KARACHI, 03 Mai 2013 (AFP) - O procurador que dirigia a investigação pela morte da ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto e pelos atentados de Mumbai em 2008 foi assassinado a tiros nesta sexta-feira, 3, em Islamabad quando saía de sua casa em direção ao tribunal, informou a polícia.

Chaudhry Zulfiqar dirigia seu carro quando foi atingido com vários tiros disparados por homens de moto em uma rua muito movimentada de um bairro residencial da capital paquistanesa. Seu guarda-costas ficou ferido e uma pedestre morreu ao ser atropelada pelo veículo do procurador, segundo a polícia. Os criminosos fugiram.

Segundo os médicos, o procurador morreu antes de chegar ao hospital público de Islamabad. Este assassinato ocorre a oito dias das eleições gerais do país, consideradas históricas, já que o governo civil acaba de terminar uma legislatura completa de cinco anos, fato inédito em um país com um amplo histórico de golpes de Estado militares.

A campanha foi ofuscada, no entanto, por diversos ataques contra os candidatos.
No ano passado, a segurança de Zulfiqar foi reforçada depois que seu nome foi mencionado em ameaças dirigidas aos policiais que investigavam o assassinato de Bhutto, até hoje sem solução.

Os autores dessas ameaças não foram identificados, mas um dos investigadores indicou ter recebido ameaças que o intimavam a não se apresentar ao tribunal sob convocação do procurador. As intimidações foram feitas de um telefone com número identificado no vizinho Afeganistão, bastião dos talibãs.

O presidente Asif Ali Zardari, viúvo de Benazir Bhutto, condenou o assassinato e ordenou uma investigação profunda "para encontrar os verdadeiros culpados".
No momento do atentado, Zulfiqar seguia para uma nova audiência no tribunal antiterrorista de Rawalpindi, a 30 km da capital, dedicada ao assassinato de Bhutto em 26 de dezembro de 2007, morta enquanto liderava o cortejo de seu partido, o Partido do Povo Paquistanês (PPP), exatamente em Rawalpindi.

Esse caso voltou à tona recentemente com o retorno do exílio do ex-presidente Pervez Musharraf, acusado de não ter protegido Bhutto de forma suficiente quando estava no poder. Musharraf é mantido atualmente em prisão domiciliar.
Até agora ninguém foi condenado pelo assassinato de Bhutto. O governo de Musharraf havia acusado em certo momento Baitulah Mehsud, o chefe dos rebeldes paquistaneses, que morreu vítima de um ataque de um avião não-tripulado em 2009. No entanto, Mehsud havia negado sua participação no assassinato.

Um relatório da ONU divulgado em 2010 afirma que o assassinato de Bhutto poderia ter sido evitado e acusa o governo de Musharraf de ter falhado em sua proteção. Zulfiqar também foi o principal promotor, que acusou sete suspeitos de conspiração nos ataques de 2008 em Mumbai. O grupo radical Lashkar-e-Taiba foi responsabilizado pelo episódio, no qual pelo menos 166 pessoas morreram.
Também foi assassinado nesta sexta um candidato de um partido laico às eleições gerais de 11 de maio, junto com seu o filho de três anos, em Karachi, no sul do Paquistão, anunciou a polícia à AFP.

Este é o primeiro candidato a um assento no Parlamento a ser assassinado desde o início desta sangrenta campanha eleitoral, marcada por ataques que deixaram ao menos 63 mortos nas fileiras de partidos políticos desde 11 de abril, de acordo com um registro da AFP. O empresário Sadiq Zaman Khatak disputava pelo National Party (ANP), uma formação laica pashtun, etnia dominante no noroeste do país e também muito presente em Karachi.

"Ele voltava da mesquita depois de assistir à oração de sexta-feira com seu filho de três anos, quando homens armados em uma moto chegaram e abriram fogo. Os dois morreram", declarou à AFP um porta-voz da polícia local, Imran Shaukat.
Um dos líderes do ANP, Bashir Khan, confirmou o ataque e informou que Khatak vinha recebendo ameaças.

Os talibãs reivindicaram a autoria do ataque e ameaçaram cometer novos atentados contra o ANP e seus parceiros da coalizão, o Partido do Povo Paquistanês e o MQM, principal partido em Karachi. "Nós o atacamos e vamos continuar estes ataques no futuro. O ANP, o Partido do Povo e o MQM são nossos alvos", disse à AFP o porta-voz dos talibãs, Ehsanullah Ehsan, por telefone, em uma localização desconhecida.

O primeiro-ministro interino do Paquistão, Mir Hazar Khan Khoso, condenou o assassinato e determinou, mais uma vez, que a segurança dos candidatos seja reforçada. "Esses incidentes têm como objetivo implodir o processo eleitoral no país. O governo federal dará os passos necessários para investigar esses incidentes", garantiu seu gabinete, em declaração divulgada à imprensa.
Karachi, uma cidade de 18 milhões de habitantes, responde por 42% do PIB do país, mas sofre com a violência política e étnica constante.

Com a morte de candidatos, a eleição de 11 de maio será adiada em pelo menos três províncias. Em 11 de abril, um candidato do MQM à Assembleia Estadual (provincial) de Sindh, da qual Karachi é a capital, foi morto a tiros na cidade de Hyderabad. Um candidato independente à Assembleia do Baluquistão também foi morto na cidade de Jhal Magsi na última terça.

Na quinta-feira, a explosão de uma bomba deixou pelo menos cinco feridos perto do comitê de campanha do MQM. Além disso, no último sábado, três bombas mataram três pessoas e deixaram 49 feridos. Duas se destinavam ao MQM, e uma terceira, ao PPP.

AFP

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