Justiça arquiva inquérito sobre bala perdida que deixou menino paraplégico

O menino estava em uma pizzaria com a família quando foi atingido por um tiro nas costas e ficou paraplégico

13:05 | Out. 20, 2022

Por: Jéssika Sisnando

A 4ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza decidiu arquivar o inquérito policial sobre o caso de bala perdida que atingiu um garoto de 12 anos de idade. No dia 4 de dezembro de 2020, o menino estava com a família em uma pizzaria quando houve uma confusão no trânsito e um disparo de arma de fogo o atingiu na coluna, provocando a perda dos movimentos das pernas. A família do garoto não concorda com a decisão da Justiça de arquivar as investigações e pede que o caso não caia no esquecimento.

Segundo a mãe do menino, no dia da ocorrência, o garoto e os dois irmãos estavam tendo um dia de lazer. Foram a uma praça no bairro Antônio Bezerra e decidiram comer uma pizza. A família estava sentada quando percebeu uma suposta briga de trânsito entre dois carros que passavam em alta velocidade. Um dos ocupantes do veículo efetuou disparo contra o outro e o tiro atingiu as costas da criança.

"Disseram que ele não ia sobreviver, que se ele sobrevivesse ia precisar de um quarto de hospital em casa, se alimentar por sonda. Quando ele saiu do centro cirúrgico não aceitou ficar entubado, mas conseguiu falar e respirar sozinho, mexer os braços. Foram três meses internado, mas ele não ficou tetraplégico, como os médicos disseram, mas da cintura para baixo ele não mexe", explica a mãe. 

Um ano e 10 meses após o caso, a mãe relata que o menino faz acompanhamento, mas que usa um remédio para dor que custa R$ 500 reais. Ela recebe um salário mínimo, que é usado para pagar fraldas, remédios, lenços umedecidos e uma série de gastos. O garoto pratica esportes e usa o violão. Tudo isso é para acalmar o menino das dores. A mãe relata que o cérebro do adolescente emite ordens para as pernas e como essas ordens não são obedecidas pelos membros inferiores isso gera uma dor, um desconforto que acomete o jovem 24h. 

Imagens

 

A mãe não concorda com a decisão judicial de arquivar a investigação do caso. Ela relata que as imagens das câmeras de segurança foram enviadas à Polícia, mas por meio das imagens não foi possível identificar o autor do crime. Ela também comenta que menos de dois anos é pouco tempo de investigação para que o inquérito seja arquivado e acredita que ainda há possibilidade de descobrir quem efetuou o disparo. Além disso, a mãe comenta que há outros casos, mais complexos, que foram desvendados. Ela pede Justiça para que o crime não caia no esquecimento.


Conforme o documento do Ministério Público, obtido pelo O POVO, que pede pelo arquivamento do inquérito, o caso é um homicídio tentado por erro de execução. A vítima estaria em uma lanchonete e ouviu um barulho distante, momento que percebeu que foi atingido por um disparo nas costas, que não era para ele, tratando-se de uma bala perdida. Houve uma discussão de trânsito e os indivíduos estavam em um carro modelo Celta de cor preta, atiraram em um homem que dirigia uma caminhonete prata, mas o disparo acabou por acertar o menino.

Conforme o documento, não houve identificação dos protagonistas da discussão de trânsito, quem disparou e quem era o alvo. Várias diligências foram realizadas, conforme o documento, porém sem indícios de autoria.

"A autoria e a motivação são ignoradas. Não houve a identificação de imagens ou filmagem do crime. Até o presente momento não foram coletadas informações significativas sobre a autoria. É baixa a probabilidade de coletar evidências suficientes sobre a autoria que autorizem o oferecimento de uma ação penal", informa.

 

Por se tratar de uma vítima da violência menor de idade, O POVO opta por não divulgar os nomes