Dia de São Pedro: com chuva, pescadores celebram em Fortaleza

Após dois anos sem comemorações presenciais, devotos se reuniram na orla da Capital cearense para homenagear o padroeiro dos pescadores

14:52 | Jun. 29, 2022

Por: Gabriel Borges
PROCISSÃO após a missa começou com chuva (foto: FáBIO LIMA)

A tradicional Procissão de São Pedro voltou a ser realizada em Fortaleza, após dois anos sem comemorações presenciais devido à pandemia da Covid-19. Na manhã deste dia 29, pescadores se reuniram em uma missa no Meireles e, logo em seguida, partiram para o mar.

"É um dia de reviver algumas lembranças que ainda tenho dos meus pais e avós. Nasci em uma família de pescadores, desde os meus 12 anos que participo disso aqui", relata José Carlos, 56.

Na Capital cearense, as comemorações no dia 29 de junho ocorem desde a década de 1930. Em 2022, a celebração chegou ao seu 10º ano de registro como patrimônio imaterial de Fortaleza.

Os festejos desta manhã também ficaram marcados por um momento simbólico. Entre o término da missa ao ar livre, na Igreja de São Pedro dos Pescadores, e o início da caminhada até o mar, foi possível sentir as gotas de chuva que caíam do céu, no momento em que a imagem do "santo das chuvas" era carregada pelos devotos.

"Tivemos essa chuva no momento do início da procissão. Vejo como uma proteção, principalmente para os idosos, que sofrem com as altas temperaturas, foi um momento lindo", opina Possidônio Soares Filho, 74 anos.

Ao som de cânticos e aplausos, a imagem do padroeiro embarcou em uma jangada acompanhada de ceerca de 20 velas que se lançaram para acompanhar a procissão. De acordo com os pescadores, o número de jangadas foi bem menor em relação aos anos anteriores.

"Achei diferente a procissão deste ano, sempre dava muita gente, e hoje vejo poucas pessoas. A tradição que temos aqui, não podemos perder. Mas acho que diminuiu por não ter uma grande organização", opinou o pescador Gerardo Viana.

A baixa adesão também foi observada por José Carlos. "Esse ano, achei um pouco mais fraco. Antes, todas essas embarcações acompanhavam a procissão, mas agora são poucas as jangadas que vão".

De acordo com Graça Martins, gerente da célula de patrimônio imaterial da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor), as incertezas em relação às condições sanitárias durante a data do evento fizeram com que o tempo de organização fosse reduzido.

"Ficamos em dúvida se voltaríamos mesmo neste ano, devido à pandemia. A organização acabou ficando muito em cima da hora, muitas jangadas estavam no mar e não deu tempo de preparar a documentação junto à Capitania dos Portos", explica.

Segundo Martins, embora os pescadores estejam registrados para a atividade, é necessário apresentar a documentação para a Capitania antes da realização do evento. A expectativa é de que mais pescadores participem das comemorações em 2023.

"Queremos ter mais gente no mar, fazer uma divulgação muito maior. É uma festa muito importante para eles, pelo lado histórico e pela fé", completa.

Após passar cerca de uma hora em alto-mar, a imagem de São Pedro foi recebida pelos devotos, que aguardavam na faixa de areia, com bastante alegria. Para Possidônio, a celebração serve como um ato de valorização da categoria.

"A pesca é cantada em prosas e versos, nossas raízes estão no passado, é importante mostrar para a sociedade que o pescador não é um coitadinho, somos trabalhadores do mar e precisamos resgatar esse orgulho", finaliza.