Projeto "Botas que Unem" oferece equipamento para dar mobilidade a crianças com deficiência

O principal objetivo do "Botas que Unem" é oferecer lazer, esporte e inclusão à crianças com deficiência em Fortaleza

22:52 | Ago. 23, 2019

Lançamento do Projeto Botas que Unem no aterro da Praia de Iracema (foto: JÚLIO CAESAR/O POVO)

Chutar uma bola: uma experiência comum a grande maioria da população, mas que pode causar uma emoção indescritível àqueles que nunca tiveram tal oportunidade. Além disso, andar, poder ficar em pé é uma novidade transformadora na vida de crianças como José Otávio. Aos seis anos, ele viveu esta experiência poucas vezes na vida. Em todas elas, ele foi acompanhado pela mãe.

José Otávio tem paralisia cerebral, um distúrbio congênito que afeta o movimento do corpo e a coordenação muscular. De acordo com a mãe, Rejane, a doença é causada pelo nascimento prematuro. A experiência de praticar esportes é proporcionada por um equipamento que o conecta ao corpo da mãe, onde ela o dá sustento e direciona seus movimentos. Através do projeto "Botas que unem", José Otávio pode dar os primeiros passos junto a mãe.

O projeto de inclusão social é idealizado por Regiane Patrícia Araújo Ataíde, ou, como gosta de ser identificada, Gigi Ataíde. Gigi tem 54 anos de idade e é tetraplégica. Acompanhada de voluntários vinculados à ONG Ame a Vida, ela lançava oficialmente o projeto nesta sexta-feira, 28, no evento World Beach Sports (WBS) Fortaleza, no aterro da Praia de Iracema.

O principal objetivo do "Botas que Unem", conforme Gigi, é oferecer lazer, esporte e inclusão à crianças com deficiência. "Esse projeto vai contar com um campeonato. Temos muitas crianças que precisam desse tipo de esporte, desse tipo de lazer", explica. Segundo Gigi, o equipamento, que consiste em um colete e botas que unem o corpo da criança a algum adulto que lhe acompanhe nos movimentos, serve para dar autonomia às crianças.

Para a realização do campeonato, que será de cobrança de pênaltis, Gigi e os integrantes do projeto ainda realizam levantamentos para indicar a quantidade de participantes. "Vamos desenvolver, inclusive, um outro equipamento bem melhor do que esse", afirma.

A iniciativa recebeu o apoio direto do vereador Dr. Porto, que propôs o Projeto de Lei nº 269/2019, que busca instituir em Fortaleza o Programa de Inclusão Social "Botas que Unem", para oferecer à crianças com deficiência de até 14 anos a oportunidade de praticar atividades físicas esportivas.

Conforme o texto do do PL, a execução do programa se dará através da competição de pênaltis citada por Gigi, com o uso do equipamento composto por colete e bota. O jornalista Tarcísio Matos ajudou a compor a justificativa do projeto. Ele explica que a compreensão das necessidades e carência de inclusão que o vereador Dr Porto possui ajudaram na fundação do "Botas que Unem".

"Dr Porto tem um irmão que tem Síndrome de Down. É mais ou menos puxado pelas necessidades desse irmão que ele amplia a sensibilidade e a visão do auxílio que se tem que dar a essas pessoas que estão fora da sociedade, que estão em um patamar de sofrimento exatamente pela falta de possibilidade de fazer aquilo que gostariam de fazer", esclarece Tarcísio.

O jornalista pontua que o cuidador - sendo pai, mãe ou responsável - tem a possibilidade de fazer de si a extensão do corpo da criança, dando a ela a oportunidade de realizar tarefas simples mas muito gratificantes.

Buscando dar visibilidade ao projeto, os participantes estiveram na solenidade de abertura do evento WBS para dar uma demonstração da proposta do "Botas que Unem". José Otávio e Sara, de 5 anos, ambos acompanhados de suas respectivas mães, trocaram passes de bola com Gigi, sendo aplaudidos e apreciados pelo público presente.

Segundo a voluntária Renata Mota, da ONG Ame a Vida, quando José Otávio retirou o equipamento, logo depois da primeira prova, ele pediu a mãe que o colocasse de novo, afirmando que nunca se cansaria daquilo. Para Renata, essa é a importância desse projeto, dar visibilidade e oferecer experiências felizes às crianças contempladas. O sorriso nos rostos de Sara e José Otávio durante a troca de passes justifica a fala de Renata.