Grupo protesta em frente a supermercado de Fortaleza contra morte de jovem no Rio

Segurança de unidade do hipermercado Extra no Rio de Janeiro mobilizou e matou jovem de 19 anos. Caso gerou revolta em todo o País

14:57 | Fev. 17, 2019

Jovens fazem ato contra morte de jovem no Rio de Janeiro(foto: Ítalo Cosme/Especial para O POVO)>

Atualizada às 16h25min

Cerca de 50 pessoas protestaram em frente ao hipermercado Extra, na avenida Aguanambi, em Fortaleza, no início da tarde deste domingo, 17. O ato é em repúdio à morte de Pedro Gonzaga, de 19 anos, em uma filial da companhia na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O segurança Davi Ricardo Moreira aplicou um mata-leão no jovem. Já desacordado, Pedro permaneceu sufocado pelo profissional. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu e morreu.

Neste domingo, ocorrem manifestações em pelo menos outras seis capitais em todo o País. 

Na Capital cearense, o protesto teve dois momentos. O primeiro aconteceu dentro do hipermercado. Lá, os manifestantes proferiram frases e palavras de ordem contra o ocorrido. No segundo, já no estacionamento, integrantes de movimentos sociais discursaram e questionaram a atuação e a preparação de pessoas que trabalham com segurança. O caso da jovem chicoteada por um policial militar em Fortaleza também foi lembrando durante o ato.

"Pedimos para parar de matar pessoas negras", resumiu Franciane Oliveira, 28, integrante do Coletivo de Mulheres Negras Cearenses (Inegra). "São pessoas pretas treinadas para matar outras pessoas pretas", analisou o caso. E completou: "Nós (pretos) somos a maioria da população. Se nós fossemos mais organizados e reconhecêssemos mais como população negra aqui estariam muito mais pessoas. Nós não temos consciência dessa matança que estão fazendo com a gente. Mas nós não vamos nos calar, vamos resistir. Porque nossos corpos nos pertencem".

Integrante do Movimento Negro Unificado (MNU), Geyse da Silva, 26, destacou que atos contra o caso ocorreram em todo o País neste domingo e afirmou que outros devem acontecer durante a semana. "É uma denúncia. Não podemos naturalizar e banalizar uma morte feita por uma pessoa que estava para fazer a segurança", reiterou. Geyse alertou ainda para o comportamento da Polícia e do Judiciário. "Existe no sistema um racismo estrutural que faz com que esteja condicionado o lugar do corpo negro. Por isso que é o alvo, é o suspeito".

A ativista sugeriu ainda a discussão sobre racismo nas instituições ligadas à Segurança Pública e ao sistema carcerário.

"A gente encontra na sociedade brasileira - por isso são tempos de guerra - cada vez mais tentativas de minimizar debates de emancipação. Esse debate é de reparação e emancipação do povo negro, que está cansado de estar nesse lugar de subalterno. Mais uma vez, e toda vez que for necessário, a gente vai estar nesses locais denunciando", afirmou Geyse. 

Caso 

O segurança que mobilizou e matou Pedro Gonzaga, Davi Ricardo Moreira, foi preso em flagrante e indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Contudo, na sexta-feira, 15, a defesa pagou fiança e ele foi liberado. 

Jovens fazem ato contra morte de jovem no Rio de Janeiro (Foto: Ítalo Cosme/Especial para O POVO)

Em imagens publicadas em redes sociais, é possível ver Davi já sobre o jovem aplicando o golpe que minutos depois iria lhe tirar a vida. Clientes do supermercado chegaram a alertar o profissional que a vítima estava "roxa" e "sendo sufocada". Os avisos foram em vão. Alguns dos que se manifestaram foram reprimidos verbalmente pelo segurança. 

Em nota enviada à imprensa, o Extra informou que repudia veementemente qualquer ato de violência em suas lojas. A empresa argumenta ainda que investigações preliminares apontam que o segurança teria reagido a uma tentativa de furto da arma que utiliza. "Após o indivíduo ser contido pelos seguranças, a loja acionou a Polícia e o socorro imediatamente", disse.