Chikungunya avança no Ceará e tem aumento de mais de 2000% em abril

Secretaria da Saúde do Estado confirmou 6.217 casos da doença até o último boletim epidemiológico, divulgado em 18 de abril. Números de casos confirmados em Fortaleza representam 60% do total

10:37 | Abr. 27, 2017

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A cada semana aumenta o número de casos confirmados da febre da chikungunya no Ceará. O boletim epidemiológico mais recente da Secretaria da Saúde, divulgado no último dia 18 de abril, confirmou 6.217 casos - os números em Fortaleza representam quase 60% do total. É possível notar o avanço significativo da doença em comparação com o mesmo período do ano passado, quando apenas 276 casos haviam sido contabilizados no Estado, representando um aumento de mais de 2.000%.


O Ceará teve os primeiros registros da doença em 2014, mas apenas em 2016 apresentou cenário epidêmico. No ano passado, a Sesa contabilizou 49.516 casos suspeitos de chikungunya, sendo 31.482 confirmados em 139 municípios. Os casos confirmados até 18 de abril deste ano equivalem a 19% em comparação ao ano anterior. São investigados ainda 12.137 casos. Até o momento em 2017, foi confirmado uma morte por chikungunya. No ano passado, o número de óbitos chegou a 37.


Na últimas duas semanas, as confirmações da febre da chikungunya aumentaram em 81% no Estado, saltando de 3.428 para 6.217. Em Fortaleza, o crescimento foi de 102%, de 1.827 para 3.690. Na Capital, uma situação de subnotificação da doença tem sido registrada nos hospitais particulares, como adiantou O POVO na edição desta terça-feira, 25. Diante da alta nos números, dos mais de 8 mil casos notificados no município, apenas 1,5% é oriundo de unidades de saúde particulares.


Em Caucaia, os dados apontam avanço de 509 para 888 casos, registrando aumento de 74%. Dos municípios com maiores taxas de incidência dos casos confirmados no Estado, Tejuçuoca se destaca com crescimento de 930%, saindo de dez para 103 nas últimas duas semanas.

 

Segundo a coordenadora de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria da Saúde (Sesa), Daniele Queiroz, a pasta tem acompanhado os casos com sinal de alerta e realizado estratégias para combater o avanço da doença no Estado. Entre os fatores que podem ter contribuído para o aumento de casos, a titular da Coordenadoria cita que, por se tratar de uma doença nova no Estado, toda a população está suscetível a adoecer.

 

A mudança em 81% das gestões municipais também dificultou, tendo em vista que atividades são descontinuadas no processo de transição. Além disso, características da própria chikungunya influenciam, como o período maior de transmissibilidade e da ação do vírus no mosquito em comparação com a dengue.


"O mosquito tem uma janela maior para transmitir a chikungunya. São dez dias disponíveis no sangue da pessoa contaminada. Diferente da dengue em que o vírus demora mais tempo, o mosquito pica o contaminado e, com dois dias, já consegue transmitir", explica Daniele.


A coordenadora ressalta ações do Estado, como o plano de enfretamento das arboviroses (chikungunya, dengue e zika), no qual é realizado um monitoramente de cada município pela Sesa. Se um município registra incidência nas últimas quatro semanas, a pasta faz um alerta e pede a elaboração de um plano emergencial atendendo os seguintes pontos: assistência ao paciente, vigilância e controle de vetor, mobilização social, comunicação e educação permanente.


"Necessitando apoio, a Secretaria faz visita técnica. Encaminha uma equipe para treinar agentes de endemias do município para formar uma brigada, além dos carros fumacê. Para o enfretamento, tentamos implantar comitês municipais nesses municípios", afirma.


De acordo com Daniele Queiroz, o período mais crítico, considerando a série histórica da dengue, vai até a semana 26 (estamos na 17). "Estamos no meio do enfretamento. A curva ascendente está em seu pico. Daqui a pouco vai haver uma curva decrescente", finaliza.

Os municípios com as maiores taxas de incidência de casos confirmados (acima de 300 casos por 100 mil habitantes) são: Baturité, Catarina, Tejuçuoca, Aracoiaba, Ocara e Pentecoste.


Fortaleza


Para o gerente da Célula de Vigilância Ambiental da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) em Fortaleza, Nélio Morais, o Ceará - destacando a Capital - é a "bola da vez" no cenário epidêmico da chikungunya no Brasil, após a situação registrada em estados como Bahia, Paraíba, Amapá e Rio Grande do Norte. Segundo o profissional da pasta, a chikungunya tem capacidade de retorno do mosquito infectar "bem maior" do que a dengue.


"Toda a população de Fortaleza está sujeita à febre porque nunca teve. Tem um cenário de mais de 2 milhões de pessoas vulneráveis à infecção que pode se transformar em doença", disse Nélio.


Sobre o crescimento de casos em Fortaleza, Nélio conta que fatores naturais, como as condições climáticas e ambientais, favorecem a proliferação do vetor, tendo em vista que o ciclo de reprodução do mosquito é encurtado. Neste período do ano ocorrem os picos de transmissão, ressalta o titular da Célula da SMS.


"Vamos entrar nesse cenário de alto risco. Por isso, devemos regimentar a força coletiva para dar uma resposta para diminuir os casos. Já assistimos esse cenário em outros estados. Agora o Ceará, Fortaleza, é a bola da vez. No cenário em que estamos vivendo, é preciso adotar estratégias, identificando os pontos mais críticos de Fortaleza", comentou.


Entre as ações promovidas pelo município, estão o uso de carros fumacê, o comitê intersetorial de combate ao mosquito, a coleta por meio das operações Inverno e Quintal Limpo, e a operação Foco no Foco. Esta última intervenção seleciona os 100 mil imóveis mais críticos da Cidade para serem visitados frequentemente, e a Secretaria ter o controle destes locais por meio de monitoramente, conforme Nélio.


Os bairros mais críticos de Fortaleza por Regional:


I - Barra do Ceará, Álvaro Weyne e Cristo Redentor


II - Joaquim Távora, São João Tauape e Vicente Pinzón


III - Montese


IV - Antônio Bezerra


V - Mondubim e José Walter


VI - A doença está instalada na região, mas não possui "explosões" de casos em um bairro.


Caucaia


Em Caucaia, o cenário também preocupa o coordenador de Vigilância em Saúde do município, Adriano de Souza. "Consideramos o índice de infestação preocupante, o número de casos preocupante. A Secretaria (da Saúde de Caucaia) está consciente que precisa intervir. Na verdade já estamos intervindo, tomando medidas preventivas de combate", afirmou.


Entre as medidas tomadas, o combate dos focos dos mosquitos com carros fumacê nas localidades com os maiores índices de infestação e investimentos em educação sobre saúde. "Foi criada a brigada de combate ao Aedes. Cada empresa, colégio, tem uma equipe para que possa averiguar o território se há focos do mosquito. No mês de maio, vamos realizar o 'Dia D' de combate ao mosquito no município", comentou Adriano.


O bairro com o maior número de casos confirmados de chikungunya é o Parque Soledade, com 92. A região também lidera as notificações da doença. Capuan e Itambé também se destacam entre os que mais possuem casos confirmados e notificações.


O POVO Online também tentou entrar em contato com a Secretaria da Saúde de Tejuçuoca por meio do email disponibilizado no site da Prefeitura do município, nesta terça-feira, 25. Entretanto, até a manhã desta quinta-feira, 27, não houve retorno.