Aposentado cearense faz sucesso em Fortaleza com fusca enfeitado
Com o carro, Francisco de Assis ficou famoso em seu bairro e no restante do Ceará. Veículo foi decorado ao longo dos últimos dez anos para virar o ''caminhão'' da família
18:15 | Ago. 22, 2016

Francisco de Assis Ferreira Barros, 68, já foi marinheiro, motorista particular, taxista e caminhoneiro. Hoje, o cearense aposentado pode ser visto pelas ruas de Fortaleza em um carro peculiar. O fusca de 1980, apelidado de "Perebinha", chama atenção pela série de enfeites que ganhou nos últimos anos. Tem reboque traseiro, televisão, ventiladores e até bonecos do Shrek.
O carro foi comprado no Pecém para presentear a última ex-mulher, mas hoje serve para toda a família. Que, diga-se de passagem, é bem grande. Foram seis mulheres, com as quais ele teve 20 filhos. A quantidade de netos nem ele sabe mensurar. "Eu tive outro fusquinha em 1986. Era táxi, antigamente tudo era fusquinha. Carro de autoridade, ambulância. Acabou-se numa batida e vendi o resto", relembra. Há dez anos, quando deixou de ser caminhoneiro, realizou o sonho de comprar o segundo fusquinha.
Aos poucos, Perebinha deixou de ser carro de passeio para virar uma espécie de caminhão. Tudo para ajudar a sogra, que morava no interior de Jaguaruana e precisava transportar geladeira, máquina de lavar, por exemplo. “Fiz uma brincadeira com a minha sogra e virou promessa: um dia eu ia transformar esse carro num caminhão. Ela faleceu e continua do mesmo jeito. Às vezes eu falo em tirar, aí a dona ‘encrenca’ (ex-mulher) se dana, diz: ‘rapaz isso aí é homenagem à minha mãe’. Aí o carro é dela, né”, brinca.
[FOTO4]
O apelido "Perebinha" foi escolhido porque, conforme o aposentado, o fusquinha parece um carro de taipa "cheio de buracos". Atualmente, com as viagens ficando mais escassas, o fusquinha serve principalmente para levar ao médico a ex-mulher, que tem câncer, e neto de 5 anos, que tem autismo. Uma lixeira de metal, acoplada na lateral direita do veículo, sempre está abastecida com uma garrafa térmica para quando o menino sentir sede.
%2b Confira a galeria de fotos do fusca do senhor Francisco de Assis
A TV também foi instalada especialmente para o neto, segundo Rosyanne de Oliveira, 30 anos, mãe do menino e uma das filhas de Francisco. “Ave Maria, se não fosse esse carro eu não sei como seria pra levar meu filho porque ele se zanga no ônibus. Aqui, quando ele se estressa, o pai para, a gente pega um lanche", descreve ela.
Nesses dez anos, o aposentado garante que o carro nunca apresentou problemas, mas isso porque a manutenção é feita diariamente. "Na hora que eu precisar viajar está sempre em dia. Sou muito conhecido através desse carro, todo canto por onde eu passo é foto pro lado, foto pro outro canto. Graças a Deus está aí. Eu costumo dizer que não posso nem fazer nada de errado, porque se deixar o carro bem ali, a negada ia dizer ‘ah o seu Assis tá ali’”, conta ele, animado.
[FOTO2]
Enfeites e sucesso
As pequenas garrafinhas de água penduradas nos pneus são para evitar que cachorros façam xixi, como a tradição popular manda. Mas, além da quantidade de utensílios funcionais, Francisco coleciona uma série de adereços que aumentam a fama de Perebinha. “Quem trabalha em caminhão sempre gosta de enfeitar, ainda tenho aquele costume de acordar 2 horas da madrugada. Fico acordando contando as telhas, aí me entretenho nele [no fusca] o dia todinho. Eu mesmo compro as coisas, coloco e vejo o que dá certo. Compro na loja, na sucata, chego em casa desmonto e faço de novo!”, diz.
Segundo Rosyanne, em uma das viagens, a família precisou esperar o fluxo de veículos na estrada diminuir por causa do assédio ao fusquinha. "Eram 4 horas da manhã, o pessoal parava os carros buzinando para gente. Tivemos que esperar clarear para não ter acidente. O carro é a vida dele", comenta a filha.
"Perebinha" já escapou de duas tentativas de furtos, de acordo com o senhor Francisco. Na primeira vez, o aposentado estava na casa dele, no bairro Curió, quando ouviu o barulho do carro sendo ligado. "Pensei, é meu carro. Ascendi a luz, corri e ele já estava lá na frente", relembra.
Na segunda vez, o fusca estava estacionado na frente da Capitania dos Portos, e o suspeito correu quando o dono chegou. "Escapou de novo, mas ainda quebraram a vidraça. Sei até quem é o cara, mas não fui atrás de briga. Ajeitei, hoje ele é até meu amigo, grita 'tio’, eu digo ‘opa’”, conta.
O sucesso do fusquinha no trânsito fez o aposentado se atrasar para compromissos e até ser parado por guardas. "Pensei que era multa porque disseram que eu estava correndo muito. Aí bateram uma foto do carro. Rapaz, se eu for cobrar um real por cada foto eu 'to' é rico!", lembra.
Planejamento
Francisco de Assis conta que também sonha em comprar um Veraneio, mas não cogita vender "Perebinha". “Eu não quero negócio de carro novo, mas é porque o Veraneio é um carro maior, cabe mais a família. Um dia eu ainda consigo comprar!”, afirma.
Na rua, o carro recebe gritos de parabéns, enquanto o dono também é festejado. “Já levei nome de doido, de abestado, de corno. Falam: 'carro de véi'. Eu levo tudo na brincadeira, eu não ligo. Eu costumo dizer que esse fusca é 'minha casa minha dívida' porque tudo que eu ganho gasto nele”, completa.