Ambulantes reclamam da falta de espaço para trabalhar no entorno do Dragão do Mar

Os comerciantes alegaram que estão sem espaço para trabalhar. Alguns se encontram no estacionamento do Dragão do Mar, mas não sabem até quando vão poder ficar no local

19:43 | Jul. 28, 2016

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Os ambulantes do entorno do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na Praia de Iracema, reclamam da falta de espaço para a realização dos seus trabalhos. Os comerciantes alegam que há cerca de duas semanas foram proibidos de ficar em frente ao Porto Iracema das Artes e na rua Almirante Jaceguai. Por esse motivo, alguns ambulantes levaram os seus carros de lanches para o estacionamento do Dragão por conta própria. Entretanto, receiam ser expulsos em um futuro próximo devido ao projeto de requalificação do entorno.
 
Segundo dona Aparecida Souza, proprietária do trailer Gabi Lanches, quando os ambulantes chegam para trabalhar na rua Almirante Jaceguai, por exemplo, encontram agentes da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) que proíbem permanência no local. Já em frente ao Porto Iracema das Artes, na rua Dragão do Mar, a direção da escola afirmou, durante um encontro com uma comissão de ambulantes na última quarta-feira, 20, não querer a presença de carros de lanches em frente à instituição.

 

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Diante disso, Dona Aparecida e outros ambulantes, que trabalham há mais de seis anos no entorno, receiam ser expulsos e terem suas fontes de rendas comprometidas. “A gente resolveu ir para o estacionamento do Dragão, pois não iremos atrapalhar o trânsito. Mas só que vai ter uma reforma muito grande aqui dentro”, conta Aparecida. Além disso, a comerciante conta que a pretensão da Prefeitura é colocá-los próximo ao Acquário do Ceará, na rua dos Tabajaras. “Vão colocar a gente próximo ao Acquário do Ceará. Vão fazer uma passarela que vai ligar o Dragão à Caixa Cultural, mas quem vai comprar lá? São eles que estão mostrando”, explicou.

O POVO Online entrou em contato com a assessoria de imprensa da escola Porto Iracema das Artes para falar sobre o encontro da direção com os ambulantes. A instituição esclareceu que a direção explicou aos comerciantes que o uso das calçadas lateral e frontal é de responsabilidade da Prefeitura. Além disso, afirmou ser incompatível para uma escola compartilhar o mesmo espaço com a venda de bebida alcoólica, pois seu público é em sua maioria de adolescentes.

A Secretaria Regional do Centro (Sercefor), responsável pelo ordenamento da área, afirmou que está ciente do problema enfrentado pelos ambulantes. Um grupo de trabalho, formado por representantes do Governo do Estado, da Prefeitura e empresários do entorno do Dragão; estuda soluções para as problemáticas do local e as dos ambulantes, para que sejam implantadas no projeto de requalificação. Sobre a falta de um representante dos ambulantes, a Regional esclareceu que em nenhum momento um comerciante entrou em contato com a secretaria.

Em contrapartida, Dona Aparecida afirmou que em 2015 e após o período de pré-carnaval deste ano, um grupo de ambulantes procurou a Regional para buscar e propor medidas para solucionar a problemática da ocupação do espaço público. Mas não houve êxito. A Sercefor argumentou que nenhuma medida foi adotada pois já tinham em vista a proposta de requalificação do espaço e, portanto, as soluções serão elaboradas neste período de estudo.

Já a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) comunicou que neste mês concluiu a revitalização da sinalização horizontal e vertical no entorno do Centro Dragão do Mar. Demarcações de vagas de táxi e de faixas de pedestres, criação de vagas exclusivas para motociclistas e a implantação de placas fizeram parte da requalificação. Para manter o ordenamento do local, o órgão afirmou que agentes fiscalizam de forma ostensiva. Além disso, salientou a proibição o estacionamento de veículos no trecho da rua Almirante Jaceguai entre a rua Dragão do Mar e Almirante Barroso, sendo penalizados os condutores que descumprirem as normas de trânsito.

Problema Antigo

A presença de ambulantes em determinados pontos da cidade de Fortaleza vem desde os primeiros anos do surgimento da capital cearense. O professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Eustógio Dantas, explica que essa atividade dinâmica é um reflexo não só socioeconômico, mas cultural. Muitos migrantes, que partiam da zona rural para a zona urbana, encontravam no comércio o meio mais familiar de garantir a fonte de renda. Além disso, a atividade oferece uma perspectiva de ascensão social.

“Eles (migrantes) tinham experiência no comércio. Quando chegavam à cidade, essa atividade era o aspecto mais marcante dessas populações migratórias e por esse motivo deslumbram no comércio uma forma de ascensão social na cidade. Tornar-se um pequeno comerciante”, explicou Eustógio. Sobre a questão do ordenamento do Centro do Dragão do Mar de Arte e Cultura que implica na qualidade da mobilidade urbana, o professor avalia que a melhor solução é oferecer um local estratégico em que os ambulantes possam trabalhar. Caso contrário, voltarão a ocupar outros pontos da cidade.

“Eles dispõem de uma rede de informação bem estruturada e sabem quando vai acontecer uma fiscalização. Com seus equipamentos, eles têm maior facilidade para se transportar e conseguem burlar a fiscalização com maior eficiência. É uma atividade dinâmica que sempre existiu”, concluiu Eustógio.