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J Braga Martins

03:00 | 12/05/2013
É minha mãe... Acho que nós vencemos.
Desde a primeira semana que eu nasci que eu te dei trabalho fora do comum. Eu vi você chorando ao dizer para o papai que eu nasci com um problema no coração. Não entendi o porquê de suas lágrimas porque eu tinha apenas 7 dias de vida. Assim como não entendi porquê aos 3 meses você me botou num táxi e foi comigo para um prédio grande, com letras douradas na fachada e muita gente no lado de fora. Achei esquisito a gente trocar nosso quartinho em casa, tão bonito, que você havia mandado pintar de cor-de-rosa pra mim, por aquele quarto estranho, com pessoas vestidas de apenas duas cores: pijama verde ou azul. Logo notei que quem usava verde era aquele pessoal que me enchia de agulhas doloridas, e quem vestia azul eram as mamães. Você me disse que só em ver alguém vestido de azul eu começava logo a chorar, mas você, mamãe, logo me segurava e cantarolava cantigas de ninar inventadas na hora para me acalmar. Quando eu acordava chorando no meio da noite, assu stada com aquele rotina tão estranha para uma criança, você falava "mamãe tá aqui, mamãe tá aqui", e eu, sem nem precisar abrir os olhos, me acalmava e adormecia novamente, por saber que meu anjo protetor estava alerta enquanto eu dormia o sono inocente dos bebês. Quando o papai e a vovó vinham nos ver, você aproveitava aquela meia horinha de visita pra jantar e tomar banho, porquê durante as outras 23 horas e 30 minutos do dia, você não saía do lado da minha caminha nem por um decreto, nem diante da maior fome, e você só se dava ao luxo de cochilar (porquê ninguém dorme em hospital, no máximo cochila) um pouco quando olhava pra mim e também me via dormindo. Até que um dia, minha mãe, eu adormeci e só acordei, meio tontinha ainda, muitas horas depois. Quando - graças a
Deus - reabri os olhinhos, a primeira pessoa que vi, mais uma vez, foi você. Você estava com os olhos inchados de tanto chorar, mas abriu o sorriso mais lindo que eu já vi no seu rosto quando olhou pros meus olhinhos abertos. Você não pôde me abraçar, porque eu estava com muitos fios ligados em mim e com um corte grande no peito. Assim passamos 90 dias. Três meses de expectativas, orações, tristezas pelos amiguinhos que fiz que não tiveram a mesma sorte que eu, e alegria por estar indo pra casa. E depois de tanto tempo de incertezas, minha mãe, eu saí daquele prédio com duas certezas: de que aqueles dias foram bem mais sofridos pra você do que para mim e que eu ganhei um anjo da guarda pra vida inteira: você, minha mãe. É minha mãe... Nós vencemos!

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