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Cristiane Rodrigues de Andrade

03:00 | 12/05/2013
INCOMPARÁVEL AMOR COMUM
Minha mãe é mulher comum. Berra, chora, aconselha, intromete-se, briga e, ao fim, diz que não vai mais dizer uma palavra sequer.
Depois, com jeitinho de criança ferida e abraço melado, começa tudo de novo, ao arremate do argumento universal: ?só quero o seu bem!?.
Minha mãe é mulher muito comum.
Derrete-se com um presentinho mixuruca, mas estranha quando se lhe dá um banquete, porque não se deve ficar gastando tanto, que é preciso pensar no dia de amanhã, e ela, afinal, não está precisando de nada.
Depois, junta as economias e me dá o objeto mais valioso que já passou pelas suas mãos, cantando que a gente só leva da vida o que se bebe e o que se come, então, melhor mesmo é gastar agora do que deixar aí para os outros disputarem depois que ela se for.
Minha mãe é comum demais. Perdendo a cabeça de ciúmes, briga com os namorados dos filhos. Vigia, vigia e vigia um pouco mais. Toma as dores dos filhos e, como a natureza é sábia, espanta, afinal, os pretendentes menos confiantes. Aos bravos fecha a cara e a porta, até que se apega, enfim, a eles, mas, ainda assim, não abandona a ladainha ?se comporte direito, se não você vai ver...?. Os filhos rubram de raiva e vergonha, os namorados se rearranjam dentro das calças, e ela vai à cozinha fazer o melhor almoço que já provamos. Tempinho mais tarde, começa o mantra ?CASAMENTO?...
Minha mãe é realmente bem comum. Trabalha demais, preocupa-se demais e não se sabe se sofre mais pelos filhos que perdeu ou pelos que restaram. E, nesse trágico caminho onde o coração se equilibra sobre agulhas, deixou-se revelar e revelou, afinal, que filhos são serpentes se aprontando para o bote, feras tão cruéis que cravam os dentes no alvo mais fácil.
E, por ser tão humanamente comum, minha mãe envelhece, o cansaço a ronda, ela titubeia, mas, como acontece com tantas mães, permanece firme no árduo propósito de manter suas crias de pé. Até que um dia, filha comum que sou, devo descobrir também eu o que é ser guiada pelo amor.

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