Cajucultura: o cultivo do fruto que virou cultura no Ceará
Por que o caju é tão importante na cultura e na economia do Ceará?
05:00 | Nov. 12, 2025
O caju faz parte da identidade cultural dos cearenses. Da invenção da cajuína a referências musicais, o fruto integra a imagética local. Mas você sabia que a importância do caju extrapola a memória coletiva cearense e tem mais relevância em nosso dia a dia do que muitos imaginam?
Fato é que a cultura do caju possui elevada importância econômica e social para o Nordeste inteiro, mas no Ceará o destaque é maior. É que o Estado lidera a produção nacional da castanha de caju, gerando grandes reservas financeiras e sustentando a agricultura familiar, especialmente no litoral.
Por essas terras, o pedúnculo (a parte do caju com a qual se produz o suco) é cada vez mais aproveitado em produtos gastronômicos, o que garante a utilização total dessa riqueza. Ao redor, adentre no mundo do caju cearense, colhendo informações relevantes e curiosidades sobre o fruto.
Composição e uso
O caju é formado pela castanha, que é o fruto verdadeiro, e pelo pedúnculo (pseudofruto), popularmente visto como a “carne” do caju. Este representa cerca de 90% do peso total e, embora antes fosse pouco aproveitado pela indústria, hoje ganha cada vez mais espaço na gastronomia.
Origem e tradição
O cajueiro é uma planta típica de clima tropical e de origem brasileira. Povos originários (como Tupinambá e Tupiniquim) já utilizavam o caju fartamente em sua alimentação e em bebidas fermentadas, como o cauim e o mocororó.
Para onde foi
Registros portugueses sobre o caju existem desde meados do primeiro século da colonização. A planta foi levada pelos colonizadores para a África e a Ásia, onde também se adaptou bem.
Liderança econômica
O Ceará é o maior produtor de castanha de caju no Brasil, sendo responsável por cerca de 60% da produção nacional. A castanha é o principal produto de exportação e representa uma commodity com alta demanda no mercado global.
Variedade em substituição
No Ceará, os cajueiros se dividem entre o comum e o anão. Este último, desenvolvido pela Embrapa, é mais produtivo e de menor porte, facilitando o aproveitamento do pedúnculo. Graças às pesquisas da instituição, vem ocorrendo uma substituição gradual do cajueiro comum por clones de cajueiro anão com melhor desempenho agroindustrial.
Colheita recorde
O investimento no cajueiro-anão trouxe uma colheita recorde. Após mais de uma década, o Ceará voltou a ultrapassar a colheita de 100 mil toneladas de castanhas. Em 2024, o Estado produziu 101.931 toneladas de castanha de caju, de acordo com levantamento Produção Agrícola Municipal (PAM), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Impacto regional
A surpreendente colheita de 2024 representa 64% de toda a safra do Brasil (159 mil toneladas). A cajucultura impulsiona projetos de assentamento da reforma agrária e gera renda para o pequeno e médio produtor.
Valor nutricional
O caju (incluindo o pedúnculo) é um fruto riquíssimo em Vitamina C, cálcio, fósforo e ferro.
Inventor cearense
O escritor e farmacêutico cearense Rodolfo Teófilo é reconhecido como o inventor da cajuína, tendo registrado sua fórmula final em 1900.
Museu do Caju
Localizado em Caucaia, o Museu do Caju é um espaço comunitário, mantido por um coletivo de pesquisadores, artistas e entusiastas da cultura do caju.
Subprodutos industriais
Após prensada, a casca da castanha gera um óleo exportável, utilizado na fabricação de vernizes ou até mesmo em lonas de freios para veículos. Do caju não se perde absolutamente nada!
Versatilidade culinária
O pedúnculo pode ser triturado para produzir a "carne de caju", utilizada em pratos como moqueca, paçoca, strogonoff, escondidinho, pizzas e hambúrgueres.
Produtos alimentícios
O pedúnculo é a base de diversos produtos cearenses, como a cajuína (bebida fermentada), sucos, licores, vinhos e doces como a cajuada.
Safra estratégica
A safra do caju ocorre de julho a dezembro, período que historicamente coincide com a estação de poucas chuvas no Nordeste, sendo crucial para a subsistência.
Referências musicais
Cajuína
(Autor e intérprete: Caetano Veloso, 1979)
“A cajuína cristalina em Teresina”
Caju em Flor
(Intérprete: Nana Caymmi, 2009)
“Encontrei esse amor que vem de lá / Caju em flor, meu bem, vem cá”
Chuvas de Cajus
(Autor e intérprete: Alceu Valença, 1985)
“Ela virá no verão / Com as chuvas de cajus”
Caju
(Autora e intérprete: Liniker, 2022)
“Que vai me esperar em casa? Polir a joia rara? / Ser o pseudofruto, a pele do caju?”
Noda de Caju - Luiz Fidelis
(Intérprete: Banda Noda de Caju, 1990)
“O teu xodó / É que nem noda de caju / Desde que abracei tu / Nunca mais quis me largar”