A expansão do Guararapes

Intervenções urbanísticas ao longo dos anos contribuíram para que a região se desenvolvesse e se tornasse polo de serviços.O bairro é um dos mais valorizados de Fortaleza

05:00 | Dez. 16, 2016

Bairro de recente expansão, o Guararapes tornou-se uma das regiões mais valorizadas da Capital alencarina, com infraestrutura ampla e múltiplos serviços, desde equipamentos de educação a shoppings centers. Apesar de nova na denominação atual, a área tem registro na Fortaleza do final do século XIX, quando integrava o Cocó.


[SAIBAMAIS]O território do Guararapes era conhecido antigamente como a Mata do Cocó, segundo pesquisou o historiador e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Gleudson Passos. A região foi citada por diversos escritores, o mais conhecido deles, o cearense de Aracati, Adolfo Caminha, representante relevante do naturalismo brasileiro. No romance "A Normalista", o autor descreve um Cocó distante da urbanização.


"O romance dele finaliza na Mata do Cocó. O que tinha lá até a década de 1970, antes da construção do Iguatemi e da Unifor (Universidade de Fortaleza), era mata, pequenos sítios com agricultura de subsistência, roçados, criatórios de gado e ovelhas, comunidades que viviam da atividade da pesca, coleta e caça de animais", diz Gleudson.


O professor emérito e titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) José Borzacchiello da Silva explica que a região do Guararapes, localizada entre as avenidas Washington Soares e Rogaciano Leite, sofreu diversas intervenções urbanísticas ao longo do tempo para chegar ao cenário atual. As mudanças contribuíram para o surgimento de vários equipamentos e, consequentemente, da ocupação do lugar.


"As primeiras ocupações da região ocorrem devido à construção da avenida Perimetral e a segunda ponte sobre o Cocó, na década de 1960 (trecho de encontro das avenidas Engenheiro Santana Júnior e Washington Soares). Todo o Guararapes (naquela época) era conhecido como Água Fria. A via mais importante era a avenida Coronel Miguel Dias, que se estendia da avenida Washington Soares até as imediações da atual avenida Chanceler Edson Queiroz. Tinha características de uma Fortaleza rural com muitas vacarias. Na confluência das avenidas Rogaciano Leite e Washington Soares foi construído o conjunto habitacional Guararapes, hoje descaracterizado devido às intensas alterações no uso do solo urbano com a conversão de antigas residências em estabelecimentos comerciais e de serviços", conta Borzacchiello.


Conforme o professor da UFC, equipamentos como a Unifor e o shopping Iguatemi, inaugurados nas décadas de 1970 e 1980, geraram polos de atividades importantes na região. Nos anos 2000, com a caracterização de Guararapes, a ocupação do bairro se intensificou.


"O shopping instalado em 1982 alterou profundamente o uso do solo no seu entorno. O shopping tem caráter de âncora quando se instala em um espaço urbano. Garante a ancoragem de inúmeras atividades no seu entorno. Foi no contexto desse processo que o bairro de repente se transformou, incorporando outras funções", ressalta.


Força do bairro
Consolidado em Fortaleza, o Guararapes desfruta de prestígio. Segundo o professor Borzacchiello, a força da região ultrapassa sua delimitação oficial. Portanto, surgem denominações como a Grande Aldeota, a Grande Parangaba, o Grande Pirambu, que carregam pesos simbólicos positivos, negativos ou intermediários.


"O Guararapes enquanto bairro ultrapassa em todos os sentidos o que fora o pequeno conjunto horizontal, isolado da malha contínua da Cidade com casas simples e geminadas. Hoje, ele contém e carrega uma carga simbólica muito forte. É um bairro prestigiado pela crônica social e pelos agentes imobiliários. A sua expansão acabou engolindo áreas com outras denominações. O Guararapes goza de prestígio na mídia como bairro arejado, bem localizado e ocupado por pessoas que querem morar bem", completa Borzacchiello.