Aulas em campo ajudam alunos a entenderem assuntos estudados

Utilizada como ferramenta metodológica, as atividades fora do ambiente escolar aproximam os conteúdos ensinados do dia a dia dos estudantes e beneficiam o aprendizado

08:00 | Out. 17, 2018

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Ir além da sala de aula tradicional pode ajudar estudantes a entenderem melhor alguns assuntos abordados pelos professores. Mais do que um passeio comum, aulas em campo proporcionam vivências, aproximando dos alunos a teoria explicada pelos docentes. Levar a turma para visitas a museus e lugares históricos ou até mesmo ao cinema para assistir a filmes relacionados aos temas estudados pode ajudar nesse processo.

Atualmente, de acordo com o professor pesquisador Casemiro Campos, mestre e doutor em Educação, pesquisas na área da Pedagogia apontam que o conteúdo é fixado quando há vivência ou contextualização. "Quando o professor não faz com que o conteúdo interaja com a realidade da vida do aluno, ele vai ficando mais distante, porque fica muito abstrato. [...] O professor passa uma atividade e o aluno a responde, mas ele não tem a relação daquilo com o concreto das suas relações do dia a dia. Isso deixa a aprendizagem mais distante", afirma.

A pedagoga e coach educacional Débora Menezes afirma que a aprendizagem é fixada quando é "significativa". De acordo com ela, em sala, o aluno pode não assimilar o conteúdo por não ter vivências sobre a situação ensinada. "Muitas vezes, por exemplo, indo viajar, [a família] passa sempre pela entrada de uma cidade, os pais não têm conhecimento de que ali aconteceu algum fato importante e aquilo passa despercebido. Quando a criança vai com a escola, tudo que aconteceu ali de fato histórico, de relevância, abre-se para ela como uma possibilidade enorme de aprendizagem", exemplifica.

Porém, a pedagoga destaca que essa atividade só cumpre sua função avaliativa quando os professores conseguem extrair a experiência vivida pelos alunos. "A aula em campo não é um passeio. Então, conhecimentos têm que ser extraídos, elaborados. É preciso gerar discussão sobre isso", aponta. Mais do que um relatório, por exemplo, Débora sugere um diário de bordo em que o estudante explique o trajeto feito, o que vivenciou e o que aprendeu. "É preciso que o professor coloque muito claro os objetivos dele com a aula e os pais percebam o retorno disso na forma do discurso da criança e do adolescente", afirma.

Casemiro Campos pontua que não basta que os professores repitam conteúdos em sala de aula. As metodologias problematizadoras — como a "aprendizagem baseada em problemas" (ou problem-based learning, em inglês) — podem estimular a curiosidade dos alunos. "Ao invés de o professor fazer uma aula expositiva, puramente teórica, ele vai problematizar. Quando problematiza, ele mobiliza os alunos sobre a circunstância da atenção, para que guardem significativamente aquilo que tem sentido na vida deles", afirma. Nesse cenário, segundo o pesquisador, as aulas em campo e as metodologias problematizadoras abrem possibilidades para "uma escola desafiante para a vida".

Experiências

As aulas em campo fazem parte do planejamento do Colégio Lourenço Filho. De acordo com Walther Silva, supervisor do Ensino Fundamental 2 — que inclui do 6º ao 9º ano —, são realizadas cerca de duas aulas em campo por ano letivo, que, segundo o supervisor, têm "quase 100% de participação" dos alunos. "Hoje, não dá para trabalharmos com os adolescentes simplesmente a aula expositiva. [...] Quando eles vivenciam realmente o que está sendo estudado, valorizam muito mais, voltam bastante felizes."

Em 2018, por exemplo, o centro da Cidade foi um dos palcos para aulas fora da instituição. "Visitamos o Museu da Indústria quando os meninos estavam estudando sobre a industrialização no Ceará e aproveitamos para conhecer o Passeio Público e a história daquela região, da fundação de Fortaleza." Além disso, os estudantes também conheceram o Ecomuseu Natural do Mangue, no bairro Sabiaguaba, onde vivenciaram questões voltadas à Geografia, a Ciências e ao ambientalismo. O aluno Eduardo Silva, 12, cursa o sétimo ano no Colégio Lourenço Filho e conta já ter participado de aulas em campo em que a turma foi ao cinema para assistir a filmes educativos. Um deles foi o longa "Extraordinário" — que conta a história de Auggie Pullman, garoto que fez 27 cirurgias plásticas por ter nascido com uma deformidade facial e pela primeira vez precisa adaptar-se a uma escola.

"A última [aula da qual participei] foi para o Museu Senzala Negro Liberto [na cidade de Redenção], que contava a história dos escravos aqui no Ceará, mostrava como eles eram tratados e tudo mais", relata. Para ele, ir às aulas em campo ajuda a entender melhor os conteúdos aprendidos em sala — além de serem momentos de diversão. "É legal aula em campo, mas não seria legal se você fosse sozinho. Você vai com seus amigos, brinca durante a viagem, a aula fica mais divertida”, conta.

Mais benefícios

Para além do aprendizado, essas atividades podem ter outras vantagens. De acordo com Débora Menezes, questões como socialização, comportamento em grupo e respeito às regras do local visitado também são trabalhadas nelas. "Se for uma aula em campo em que a criança acaba passando um pernoite, por exemplo, tem toda essa vivência também de cuidar das suas próprias coisas, cuidar do seu material e não deixar nada jogado. É uma série de questões que são vivenciadas de uma maneira muito ampla."

Walther Silva acrescenta que esses momentos podem ser oportunidades para os alunos mostrarem "outro lado" de suas personalidades. "De repente, aqueles alunos que são calminhos, quietinhos em sala de aula [...] podem mostrar algumas lideranças. Aqueles que são mais introspectivos acabam se soltando", afirma.