Entre no mundo de Tron: empreendedorismo e jogos virtuais

Amante do mundo virtual ou não, empreender no segmento de jogos digitais tem se mostrado bastante promissor. O investimento na área, entretanto, requer alguns cuidados especiais

09:18 | Dez. 04, 2018

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Inventados há cerca de 50 anos, os games atravessaram gerações e estão mais populares do que nunca. A disseminação da internet e a popularização dos dispositivos móveis, como tablets e smartphones, ajudaram a alavancar o mercado mundial de games. No Brasil, os números do segmento animam investidores.
 
De acordo com o 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, realizado pelo Ministério da Cultura (MinC) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entre 2014 e 2018, o número de desenvolvedoras passou de 142 para 375, representando um aumento de 164%. 
 
O estudo revela ainda que nos últimos dois anos, foram produzidos 1.718 jogos no País, 43% deles desenvolvidos para dispositivos móveis, como celulares, 24% para computadores, 10% para plataformas de realidade virtual e realidade virtual aumentada e 5% para consoles de videogame. 
 
Jogos profissionais
Quando se fala em jogos virtuais, vem logo à cabeça a ideia do entretenimento. As possibilidades oferecidas pelos jogos digitais, no entanto, vão muito além. Segundo o estudo do MinC, dos mais de 1.500 jogos desenvolvidos nos dois últimos anos no Brasil, 874 foram jogos educativos e 785 voltados ao entretenimento.
 
Para o desenvolvedor de games Ítalo Furtado, presidente da Associação Cearense de Desenvolvedores de Jogos (Ascende), duas vertentes do segmento seguirão em alta nos próximos anos e vale o empreendedor ficar de olho. A primeira é a de jogos de impacto social, educacional e cultural, os quais deverão estar cada vez mais presentes dentro das salas de aula e das corporações.
 
A outra é a de oferta de experiências utilizando realidade virtual. São jogos que proporcionam aos usuários a vivência de situações inéditas. “Uma coisa é você participar de uma simulação em que você salta de paraquedas usando a realidade virtual. Outra é você saltar de paraquedas para salvar pessoas entregando suplementos em uma aldeia que precisa de recursos. As experiências vêm sempre ligadas a narrativas”, explica o especialista.
 
O que você precisa saber antes de investir nos games
Investir no mercado de games certamente é promissor, mas requer alguns cuidados especiais pelas peculiaridades da área, principalmente para quem deseja montar uma empresa de games.
 
O primeiro deles é a falta de um Cadastro Nacional de Atividade Econômica (CNAE) específico, o que não permite a inscrição da empresa na categoria de Microempreendedor Individual (MEI). É necessário começar o negócio como microempresa (ME), aderindo ao regime tributário do Simples Nacional.
 
O consultor e professor de jogos de empresas, Paulo Grangeiros, aponta a falta de mão-de-obra especializada, o custo dos projetos e a falta de gestão de negócios como algumas das dificuldades do segmento. “Geralmente quem se aventura a fazer um game são alunos que se destacam muito em jogos digitais, têm alta capacidade de estudar e buscam inovação na área, mas não são empreendedores. E aí vão ter dificuldade de transformar a ideia num negócio.” 
 
Barreiras a serem quebradas 
Há oito anos no mercado, Ítalo Furtado aponta três barreiras principais para o novo empreendedor da área. A primeira é cultural. “Existe uma cultura de que jogo é divertimento. Algumas pessoas acreditam que a gente fica fazendo joguinho e se divertindo. É prazeroso, intrigante, mas a palavra divertimento a gente mal aplica no nosso trabalho. A gente entrega divertimento”, destaca.
 
A segunda barreira está no próprio profissional da área que, segundo Ítalo, ainda precisa entender que é uma classe trabalhista e trabalha entregando resultados. “A gente dá muita palestra falando isso para os estudantes: leve a sério como se fosse Direito, Medicina, Engenharia... É um trabalho como outro qualquer. Não dá para entrar no mercado achando que é só uma brincadeira.”
 
Já a terceira barreira é a falta de estímulo das instituições financiadoras. “O nosso desafio é fazer essas pessoas realmente entenderem o impacto real que os jogos podem fazer em qualquer solução proposta”, pontua. 
 
Dicas de quem está no mercado
- Para gamers que planejam entrar no mercado, o primeiro passo é esquecer a paixão por jogos. “Você tem que ter muita disciplina para entender que está vendendo entretenimento e não consumindo enquanto desenvolve. Você tem que separar muito bem as duas coisas”, alerta Ítalo Furtado. 
 
- Persista nos objetivos. “Como é uma área de vanguarda, muito nova ainda, as pessoas não entendem muita coisa. A gente tem que fazer um trabalho de evangelização para fazer as pessoas entenderem a importância dos games”.
 
- “Esteja sempre aberto a novas experiências. A gente tem que estar sempre atento ao que está acontecendo à nossa volta. As soluções aparecem e não necessariamente vêm dos jogos, mas elas podem ser usadas nos jogos.”