O dia que meus pais descobriram que eu era empreendedor

Ter ou não o apoio dos pais na decisão de começar uma empresa faz toda a diferença no desempenho de jovens empreendedores. A receita do sucesso leva boas porções de talento, capacitação e até pitadas da mais pura teimosia

09:36 | Set. 17, 2018

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“Pai, precisamos conversar”. Jonatan ainda estava no caminho de volta para casa, mas decidiu pegar o telefone e ligar para o seu velho. “Pai, o senhor está me ouvindo direitinho? Então...Descobri o que eu quero fazer da vida. Sabe a loja online que eu e a Larissa criamos só para completar a grana pra essa viagem? Pois é, ela está dando tão certo! Queria que o senhor sentisse a mesma emoção que eu senti quando as clientes começaram a escrever dizendo que ficaram muito felizes usando as nossas coisas. É tão bonito poder encantar alguém desse jeito, pai! E eu decidi que quero trabalhar com isso pro resto da minha vida. Aí eu queria saber a opinião do senhor”. 
 
O casal Jonatan Herculano e Larissa Maria ainda não tinham 21 anos quando decidiram criar a Praiou, loja dedicada à moda praia feminina. Desde então, já se passou mais de um ano, e a loja que surgiu no Instagram apenas para vender biquíni e pagar uma viagem de férias virou trabalho sério em várias plataformas online. 
 
“Lembrado disso, é até engraçado, porque acho que meu pai sempre teve a certeza que eu iria ter uma carreira corporativa e tal. Mas naquele dia, a primeira coisa que ele falou foi que me apoiava totalmente e que quando eu precisasse, estaria sempre ao meu lado”, lembra Jonatan. 
 
Nadando contra a corrente
Assim como muitos jovens, Jonatan foi condicionado desde a adolescência a achar que a vida seria estudar, arranjar um emprego bom em uma firma e, quem sabe, passar em um concurso público. Nunca ouviu dizer que abrir o próprio negócio seria uma opção. Ainda assim, as pessoas na faixa etária de 18 a 24 anos estão em segundo lugar no ranking de pessoas que mais empreendem no Brasil. 
 
Segundo estudo de 2017 da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), referência no assunto, 20,3% dos novos negócios são criados por pessoas nessa faixa. Talvez pela persistência (alguns diriam teimosia típica da juventude), muitos não se deixam esmorecer diante das críticas recorrentes. 
 
“Quando alguém perguntava se eu trabalhava, eu respondia: ‘sim, tenho um negócio próprio’, e a pessoa logo me olhava assim, meio sem dar crédito”, lembra Jonatas. “Outras diziam nas nossas caras que éramos muito novos e que era muito difícil nosso negócio dar certo, que deveríamos estudar primeiro e depois procurar trabalho, essas coisas. Simplesmente não demos ouvidos”, diverte-se. 
 
Ana Parente, gestora estadual do Empretec*, diz que essas “batalhas internas” muitas vezes não chegam nas sala de aula de cursos de formação, mas que elas são relevantes e afetam diretamente o desempenho de jovens que decidiram empreender. “Não sabemos o que cada um passa em casa, se a família incentiva ou desanima o jovem que tem aquele sonho. No entanto, tentamos dar subsídios para que todos assimilem e fortaleçam dentro de si atitudes empreendedoras”, ressalta.
 
 
*O Empretec é uma metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU) que busca desenvolver características de comportamento empreendedor, bem como a identificar novas oportunidades de negócios. No Brasil, o Empretec é realizado com exclusividade pelo Sebrae.