Iniciativa distribui ração gratuita a cuidadores e ONGs de proteção animal

Um gesto que transforma a realidade de quem dedica parte da vida a cuidar de animais vulneráveis e, principalmente, dos próprios bichinhos, que dependem completamente desse cuidado. Assim pode ser descrito o programa Ração do Bem, uma das maiores iniciativas públicas de proteção animal já implementadas no Ceará e pioneira no País.

Lançado em outubro de 2025, o programa vai assegurar alimento a cães e gatos resgatados de abandono ou maus-tratos, fortalecendo o trabalho diário de protetores independentes e organizações de proteção animal no Estado. A iniciativa é do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Proteção Animal (Sepa).

Ao todo, 180 toneladas de ração serão distribuídas anualmente, de forma descentralizada, para garantir que o apoio chegue às diferentes regiões cearenses. O cadastramento das instituições e protetores já está disponível no site oficial da Secretaria. Após o cadastro, a Sepa avalia e valida os cadastros, e antes da entrega, o beneficiado recebe um e-mail com a confirmação da data e do horário da entrega da ração.

O programa já desembarcou nos municípios de Quixadá, Granja, Sobral, Fortaleza e suas respectivas regiões e vai contemplar, ainda em 2025, os municípios do Crato e Região do Cariri e de Tauá e Região do Sertão dos Inhamuns.

Os beneficiários, protetores independentes, ONGs e instituições locais, já passaram pelo sistema de cadastramento da Sepa, garantindo transparência, organização e atendimento por regiões.

“O Ração do Bem é um programa que promove segurança alimentar aos animais em situação de vulnerabilidade e fortalece toda a rede de proteção animal do Estado. Estamos falando de dignidade, de apoio concreto a quem resgata, cuida e salva vidas todos os dias. É um marco para as políticas públicas de bem-estar animal no Ceará”, afirma o secretário da Proteção Animal, Erich Douglas.

 

Amor que contagia

Na rua onde mora, no Planalto Ayrton Senna, em Fortaleza, “todos me conhecem”, afirma Darcia Rodrigues, 49. Ela conta que sua relação com a causa animal começou há 17 anos, quando passou a compreender “o verdadeiro amor pelos pets” por meio de duas cadelinhas: Penélope, sua companheira, e Dalila, uma poodle resgatada. “Elas me fizeram enxergar a necessidade que um pet precisa no seu dia a dia”, relata.

A partir da convivência dentro de casa, Darcia passou a observar com mais atenção os animais que viviam nas ruas do bairro. A situação de abandono a marcou profundamente. “Enquanto na minha casa as minhas cadelinhas tinham todo o apoio, aqueles que vivem nas ruas sofriam com fome, sede e a falta de um abrigo”, diz. Esse incômodo a motivou a se tornar protetora independente, buscando, dentro de suas possibilidades, acolher e alimentar os animais da região. Hoje, ela tutora em casa oito cães e oito gatos.

Além do cuidado individual, Darcia acabou se tornando um ponto de referência no bairro. Seu hábito de alimentar e proteger os animais passou a inspirar outros moradores, que começaram a ajudá-la e também a cuidar dos pets da rua. Um comprometimento que acabou criando uma corrente de empatia.

Hoje, ela enfrenta uma rotina ainda mais desafiadora. Precisou deixar o trabalho para cuidar dos pais e, por isso, o programa Ração do Bem chegou em um momento decisivo. “Graças ao Programa Ração do Bem, estou com o alimento garantido pelos próximos três meses. Chegou em uma hora muito boa”, afirma.

Com o apoio recebido, Darcia fez questão de estender os benefícios a quem também ajuda na vizinhança. Parte da ração distribuída pelo programa foi repassada a protetores informais da própria rua. Para ela, essa união reforça o sentido da iniciativa. “Só pelo fato de nós, protetoras, ter com que alimentar nossos pets por vários dias, nos dá uma segurança e mais determinação para fazer o bem a esses pequenos anjinhos. Estou muitíssimo grata pela ajuda”, elogia, destacando a simplicidade no processo de cadastro.

 

Rotina de proteção

Aos 58 anos, Edvane Mesquita Gomes, conhecida como Vânia do Projeto Rodapet, dedica a vida ao cuidado de animais abandonados. Pet sitter e protetora independente, ela conta que a relação com a causa vem desde a infância, quando já acolhia filhotes em casa, movida pelo fato de sempre se identificar com o sofrimento dos animais.

Hoje, sua rotina envolve resgates, alimentação diária, castrações e a busca por adoções responsáveis.

No loteamento onde mora, em Messejana, Vânia percorre as ruas todos os dias para alimentar gatos em pontos de abandono e mantém casinhas espalhadas para protegê-los do sol e da chuva.

“Toda noite eu saio para alimentar e trocar a água e olhar como é que eles estão”, relata. A iniciativa conta com o apoio de moradores e até dos catadores de lixo, que respeitam os recipientes de água e comida deixados nos locais.

Segundo a protetora, a maior dificuldade sempre foi garantir a alimentação. “Às vezes, temos que tirar das nossas necessidades para suprir, porque não há nada mais triste do que ver um animal morrendo de fome”, afirma.

O programa Ração do Bem, do Governo do Estado, trouxe alívio. “Não se preocupar por um tempo com a questão alimentar me ajuda a pensar em outras necessidades”, como castrações e despesas veterinárias, relata a cuidadora.

Vânia destaca ainda a atuação direta do secretário de Proteção Animal, Erich Douglas. “Ele não ficou na distância em seu gabinete, ele veio até onde moro para me ouvir”, diz, citando ainda ações como vacinação antirrábica, orientação veterinária e campanhas de encoleiramento realizadas no bairro.

Como funciona

O Ração do Bem atende exclusivamente ONGs e protetores independentes cadastrados, que recebem cotas trimestrais:

• Abrigos: 470 kg por trimestre
  
• Protetores independentes: até 120 kg por trimestre, de acordo com a atuação validada no cadastro

A distribuição acontece em 14 macrorregiões do Ceará, utilizando estrutura estadual para facilitar a logística. Um sistema informatizado garante transparência, rastreabilidade e acompanhamento de todas as entregas.

 

Quem pode se cadastrar

Podem participar ONGs e protetores que comprovem atuação em:

• resgate e acolhimento de animais vulneráveis;
  
• promoção de adoções responsáveis;
  
• manutenção de ambientes limpos e adequados;
  
• participação em ações de conscientização contra o abandono.
  

A Sepa exige ainda que o beneficiário não se enquadre como acumulador e esteja de acordo com as normas estabelecidas na regulamentação da figura do Protetor Animal, prevista na Lei Estadual nº 18.442/2023.

Como participar

O cadastramento segue aberto no site www.protecaoanimal.ce.gov.br. As regiões em atendimento são divulgadas pela Sepa, permitindo que mais protetores sejam integrados à ação conforme o cronograma estadual se expande.