Mapeamento identifica famílias ciganas em cinquenta cidades do Ceará

08:00 | Set. 03, 2018

[VIDEO1] Na mistura cultural brasileira, estão presentes as comunidades ciganas. Cerca de meio milhão de pessoas têm origem nesses grupos nômades, que chegaram ao Brasil ainda na época da colonização e se espalharam pelo território, guardando até hoje seu dialeto próprio, suas danças e místicas.

No estado do Ceará, predominam os ciganos da etnia Calon, enviados pela corte portuguesa ainda no século XVI, conforme os registros históricos divulgados pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

"Somos ciganos, somos brasileiros, fazemos parte da história do Brasil, porém muita gente não nos conhece", diz o cigano calon Rogério Ribeiro, presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana do Estado do Ceará (Asprecce), criada há cerca de um ano, e representante da comunidade cigana no distrito de Catuana, em Caucaia.

Os grupos, que antigamente eram andarilhos, formaram comunidades e hoje estão presentes em 50 municípios cearenses, de acordo com a cartografia da associação, que estima o contingente de oito mil ciganos no estado.

Hoje, realizam o Monitoramento de Ações e Projetos Prioritários (MAPP) para os ciganos, o MAPP 590, para identificar as principais carências dos povos cigano, entre eles a educação.

"Gostaríamos de diminuir o índice de analfabetismo nas comunidades ciganas, dando acesso à educação de qualidade e livre de qualquer estigma e preconceito", diz Ribeiro.

Língua Chibi

Os ciganos planejam como a educação pode ser aliada na preservação de sua identidade e de sua língua materna. "Idealizamos uma escola que valoriza a diversidade cultural do Brasil e isto inclui a cultura cigana e sua diversidade étnica. Queremos a preservação do nosso dialeto próprio, nosso Chibi, nossas danças e rituais. Não queremos mais ser ridicularizados pela nossa forma de ser, agir e viver", afirma.

Comidas, música e quiromancia

Em Sobral, uma comunidade Calon mora há quase cem anos, reunida no bairro Sumaré, onde vivem cerca de 80 pessoas. Francisca das Chagas Cruz, de 60 anos, chegou ali em 1972, aos 12 anos de idade. Na infância, foi um dos "ciganos de barraca" e tinha sua família migrando pelas cidades, seguindo a rota que seu avô escolhia. "A gente andava em lombo de jumento, vivia de troca, venda e leitura de mão. Vivia em acampamento, acendia a fogueira debaixo da árvore". Ao contrário da imagem de que são arredios, Francisca diz que, na verdade, são um povo inofensivo e amigável. "Cigano é um povo alegre, gosta de se divertir, de cantar, sabe dançar", diz ela.

A tradição de predizer o futuro na leitura da mão, nos búzios e cartas também é mantida pelos ciganos de Sumaré. Francisca diz que muitas pessoas buscam os rituais em busca de amor, saúde e fortuna. "Magia cigana é feita com orações e preces, não trabalha para fazer mal a ninguém", explica ela.

Os ciganos calon das cidades da comunidade Catuana, em Caucaia, e de Sumaré em Sobral apresentaram palestras, danças, músicas tradicionais, comidas, oficinas de quiromancia no Encontro Herança Nativa, promovido pelo Sesc de 26 a 29 de agosto no Sesc Iparana Hotel Ecológica.

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