Futuro e desafios: como inspirar mais meninas a entrarem no mundo tech

Projeto Fábrica de Programadores aproxima adolescentes da lógica de programação e abre caminho para mais diversidade na tecnologia

06:00 | Nov. 19, 2025

Por: Lucas Casemiro
Alunos classificados para apresentação dos projetos de games na edição 2024 do Fábrica de Programadores. O pódio foi inteiramente conquistado por mulheres. (foto: João Filho Tavares)

A presença feminina no setor de tecnologia cresce, mas ainda está distante do ideal. Dados da Brasscom apontam aumento de 7,7% na participação de mulheres entre 2020 e 2023 no campo das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).

O número anima, mas especialistas garantem: há muito trabalho pela frente. Iniciativas de formação, como o projeto Fábrica de Programadores, da Fundação Demócrito Rocha, surgem como uma das chaves para reverter a desigualdade histórica.

O projeto oferece gratuitamente a cerca de 2 mil jovens e adolescentes acesso à lógica de programação, tendo como propósito ensinar a pensar “de forma algorítmica”. É justamente neste ambiente que o estímulo à participação feminina se torna urgente.

Mais mulheres, mais segurança, mais inovação

Para quem atua no setor, o avanço existe, mas ainda não é suficiente. A desenvolvedora Rayanne Reveg, cofundadora do estúdio cearense Bravika, percebe as mudanças de perto.

“Eu vi muita presença (feminina) quando pude ser mentora recentemente de mais mulheres e isso me motivou muito. Na minha época de faculdade, eu não tinha tantas representações localmente, e isso me fazia ficar insegura dos espaços que eu frequentava”, afirma.

Rayanne relata que hoje encontra mulheres tanto nas áreas técnicas quanto na gestão e nos negócios, um movimento que considera imprescindível para tornar o ambiente mais seguro e inspirador.

Na indústria de jogos, o cenário é semelhante. Raquel Gontijo, diretora de Relações Institucionais e Governamentais da Abragames, destaca que, apesar do crescimento, o setor ainda é predominantemente masculino, principalmente na programação e nos cargos de liderança.

“Cerca de 30% a 37% das empresas desenvolvedoras de jogos têm mulheres, mas ainda é muito aquém do que deveria ser. Nos cargos de liderança, por exemplo, esse número cai para quase 10%”, lembra.

“Atualmente, o que a gente tem dentro dos nossos dados é que cerca de 30%, 37% das empresas desenvolvedoras de jogos são identificadas com sexo feminino, mas isso você vê que ainda é muito aquém da quantidade de pessoas, tanto que estão na formação de mercado, quanto da população em geral”, explica. “As mulheres nos cargos de liderança já baixam para quase 10%. Então, são muito poucas mulheres nos cargos de liderança”, complementa.

O caminho para inspirar mais meninas

  • Representação importa: ver mulheres em desenvolvimento, arte, liderança e empreendedorismo encoraja novas gerações;
  • Ambientes seguros importam: empresas e instituições precisam assumir o compromisso de combater assédios e discriminações;
  • Formação importa: projetos como o Fábrica de Programadores reduzem a distância entre meninas e o mundo tech;
  • Continuidade importa: iniciativas isoladas ajudam, mas políticas permanentes transformam.

Empreender é uma alternativa, mas não a única

Diante das barreiras, empreender parece, à primeira vista, uma saída para assumir protagonismo. Mas Rayanne e Raquel reforçam que essa escolha não resolve tudo.

“Empreender vale a pena se é algo que a pessoa quer. Não é atalho para ganhar dinheiro. É dedicação, é trabalho duro”, afirma Raquel. Já Rayanne enfatiza que a motivação precisa ir além da fuga de ambientes hostis. “Empreender não é para todo mundo. O mais essencial ainda é buscar empresas que possam prover um ambiente seguro para você se desenvolver”, incentiva.

O papel da formação

A transformação também passa por programas de formação que democratizam o acesso ao conhecimento. O Fábrica de Programadores é justamente esse primeiro empurrão, especialmente para quem nunca teve contato com programação.

A iniciativa ensina desde fundamentos de lógica até noções de construção de sistemas e aplicativos, tornando o universo tech menos abstrato (e mais possível) para meninas e meninos de escolas públicas.

Na edição 2024 do Fábrica de Programadores, elas dominaram: foram três vencedoras. Além disso, em todas as três edições precedentes do projeto, os primeiro e segundo lugares foram sempre femininos. Relembre:

Edição 2022

  • 1º Lugar: Sabrina Ferreira de Souza (Fortaleza) - jogo “Mission Impawssible”
  • 2º Lugar: Ana Karen Vasconcelos Alves (Viçosa do Ceará) - game “Bunny Girl”

Edição 2023

  • 1º Lugar: Tamires de Fátima Frota da Silva (Fortaleza) - jogo Mundo de Aprendizado do Yan (MAY)
  • 2º Lugar: Maria Tânia Ferreira de Santa (Alto Santo) – jogo “Química play”

Edição 2024

  • 1º Lugar: Maria Paula Mesquita (Fortaleza) - jogo "Açaí Play"
  • 2º Lugar: Maria Giovanna Siqueira da Silva (Juazeiro do Norte) - jogo Ecoaventura
  • 3º Lugar: Margarida Ellen Almeida Gomes (Alto Santo) - jogo "Woman is history"

Outros programas, como o Sebrae Developers, mostram como o mercado também se movimenta para criar oportunidades, tanto para iniciantes quanto para empresas já formalizadas.

Para Rayanne, esses programas funcionam como incentivo real. “Isso são espécies de incentivos: capacitar desenvolvedores, apoiar estúdios, permitir que empresas e jovens estejam presentes em ambientes de negócios”, reforça.

Vencendo barreiras

O setor de jogos, por exemplo, é apontado como um dos mais promissores para o Brasil, com empresas cearenses exportando propriedade intelectual e conquistando prêmios internacionais. Ainda assim, burocracia, dificuldade de acesso a investimentos e a falta de visibilidade ainda limitam o crescimento, especialmente para mulheres.

Raquel destaca que os incentivos que faltam não dizem respeito apenas a financiamento. Segundo ela, o que mais impacta hoje é a desburocratização e a simplificação para abrir e manter empresas, além de políticas que estimulem formação e competitividade.


Sobre o Fábrica de Programadores

O projeto Fábrica de Programadores – Aprendendo a Programar com Games e IA capacita, há quatro anos, jovens cearenses em tecnologia, lógica e desenvolvimento de jogos. A iniciativa forma talentos e abre caminhos para o ingresso no mercado digital, mostrando que o futuro da economia criativa passa também pelos games.

O curso 100% digital e gratuito, desenvolvido pela Fundação Demócrito Rocha (FDR) com apoio da Universidade Federal do Ceará (UFC), permite que estudantes do ensino médio e jovens aprendam lógica de programação, criem jogos e explorem fundamentos da inteligência artificial.

Chegando à quarta edição em 2025, o projeto já revelou talentos e aproximou a juventude do universo tecnológico, com foco em pensamento computacional e resolução de problemas. Em edições anteriores, estudantes desenvolveram projetos inspirados em desafios reais de suas comunidades, conectando tecnologia às demandas do dia a dia.

Acesse fdr.org.br/fabricadeprogramadores e saiba mais!