Esporte delas: como os incentivos podem mudar a realidade de meninas e mulheres no Ceará
O incentivo das escolas à participação feminina ajuda na construção de identidade e competências que só são desenvolvidas por meio do esporte
19:00 | Set. 30, 2025
A estudante Arya Gabriela acaba de completar 12 anos e já começou a lutar para conseguir os seus direitos. Foi na coordenação da escola particular onde estuda e entregou um abaixo assinado com a adesão de várias outras estudantes, solicitando um time de futebol feminino da escola. Não conseguiu, mas depois de muito procurar, com a ajuda da família, Arya encontrou um local adequado para ela e treina futebol duas vezes por semana.
“Apesar de ter pessoas que acham que futebol é coisa de menino, eu continuo jogando e fazendo também com que as meninas joguem mais e participem mais dos jogos”, explica a jovem.
A falta de incentivos
Se fosse um menino, sabemos que não haveria essa dificuldade. A professora Lucélia Souto, mãe da adolescente, conta que encontrou vários obstáculos, como a idade mínima para a prática de meninas, times mistos e grandes diferenças de idade.
“As escolinhas de futsal praticamente não têm times femininos, e o que encontramos tinha seletiva a partir dos 14 anos. Em alguns locais, a escolinha feminina reúne meninas de 8 a 18 anos, o que cria insegurança e desestímulo. Mas a Arya persiste, e é gratificante vê-la voltar do treino com sorriso no rosto”, relata a professora Lucélia Souto, mãe de Arya.
Para a psicóloga do esporte e professora do curso de Educação Física da Universidade Federal do Ceará, Lívia Viana, o incentivo das escolas à participação feminina vai muito além do físico. Ajuda na construção de identidade e na consolidação de competências que só são desenvolvidas por meio de práticas esportivas.
“A falta desse incentivo gera dificuldades para que elas encontrem um espaço seguro, protegido, onde possam jogar e se desenvolver fisicamente, socialmente e emocionalmente. Além disso, o esporte permite aprender a cooperar, lidar com frustração, desenvolver força, capacidade cardiorrespiratória e autoestima”, diz a especialista.
Esporte Delas
Foi a partir dessa perspectiva que nasceu o projeto Esporte Delas, iniciativa da Fundação Demócrito Rocha com a Universidade Aberta do Nordeste (Uane), para criar oportunidades reais de inclusão, permanência e liderança para meninas e mulheres no esporte. Nessa segunda edição, o projeto busca sensibilizar profissionais da educação, gestores, comunidades e toda a sociedade para que sejam agentes de mudança, criando ambientes seguros, acolhedores e potentes para a inclusão e permanência de meninas e mulheres no esporte.
Com inscrições abertas até o dia 20 de outubro (acesse o site), o projeto oferece um curso gratuito e online para explorar as diferentes dimensões da participação feminina no esporte, que exploram desde os equívocos e ambiguidades do corpo feminino, passando pelo papel da escola na inclusão e permanência das meninas no esporte, até como o esporte pode ser tornar um fio condutor de promoção de autoestima, liderança e protagonismo feminino.
“No esporte, a criança aprende a se comunicar, a trabalhar em equipe, a lidar com as adversidades, a superar os seus próprios desafios e limites. É um ambiente educativo em todas as possibilidades de reflexão”, reitera Lívia, que irá realizar oficinas nas escolas municipais como parte da programação do projeto.
Ceará Atleta
O Ceará Atleta, programa do Governo do Estado que apoia jovens da rede pública e atletas de alto rendimento, tem sido fundamental para alimentar os sonhos de quem busca no esporte um caminho de superação. O apoio financeiro é destinado a atletas e paratletas em situação de vulnerabilidade, que representam o estado em diversas modalidades esportivas.
A carateca Letticia Maria Lins de Souza, de 32 anos, foi contemplada com a bolsa de alto rendimento no ano passado. Ela treina desde os quatro anos de idade, inspirada pelo pai. Dos irmãos, foi a única que seguiu no esporte e nunca deixou de acreditar nos próprios sonhos, dedicação que a levou a conquistar três títulos mundiais, o primeiro aos dez anos. A participação no último campeonato na Argentina só foi possível graças ao auxílio da iniciativa estadual.
“Esse apoio financeiro faz toda a diferença não só em torneios internacionais, mas também nos estaduais e regionais, garantindo que a gente consiga se preparar melhor e alcançar grandes resultados”, afirma a atleta que treina com o Sensei Gabriel Alves, no Instituto Social Dom TITA.
Letticia acaba de disputar o campeonato brasileiro de karatê que aconteceu em Fortaleza e saiu com quatro medalhas, uma de prata e três de bronze. Agora, ela se prepara para o PanAmericano que acontece em novembro em Natal. Apesar de tantas medalhas e campeonatos, a atleta está sem patrocínio.
O edital do Ceará Atleta é uma iniciativa do Governo do Ceará, por meio da Secretaria do Esporte (Sesporte), e segue aberto até o próximo dia 5 de outubro.
Sobre o Esporte Delas
O projeto Esporte Delas 2025 promove o direito de meninas e mulheres à prática esportiva com dignidade, respeito e oportunidades iguais. No contexto da iniciativa, o esporte é entendido como atividade física, mas também como espaço de empoderamento, inclusão e cidadania.
O objetivo é sensibilizar educadores, gestores, comunidades e a sociedade para criar ambientes seguros e acolhedores que garantam a permanência feminina no esporte. O Esporte Delas 2025 é uma realização da Fundação Demócrito Rocha (FDR) com a Universidade Aberta do Nordeste (Uane). Patrocinado pela Enel Brasil, o projeto tem apoio da Lei de Incentivo ao Esporte estadual e da Secretaria do Esporte do Ceará
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