Roupas que contam história: a moda sustentável dos brechós

Segmento cresce mais que mercado de luxo e atrai novos empreendedores

00:36 | Abr. 13, 2021

Venda direta tem mais crescimento com uso de mídias sociais (foto: Getty Images)

Foi-se o tempo em que usar roupas de segunda mão poderia ser motivo de vergonha. Hoje a ideia já caiu no gosto de muita gente e os brechós tem sido esse elo entre roupas paradas em um guarda-roupa com clientes apaixonados por garimpar peças de estilo único, mas que também trazem consigo toda uma história, além de quebrar o ciclo de produção em massa da cadeia têxtil, que tem causado grande impacto negativo ao meio ambiente.

Foi em busca desse estilo único, que a estudante de engenharia química, Dayane Wendy, começou sua história com os brechós: “Eu adoro essa situação de você ter peças únicas, um estilo próprio, de você saber que o valor daquela peça não se perde por que roupa não é descartável, ela só muda de história”. Ela ressalta o preço acessível como outro diferencial desses espaços, além do conceito de sustentabilidade. “Amo saber que posso prolongar a vida útil dos produtos e a economia circular permite justamente isso, fazer as peças terem novos lares, por que o que pra mim ficou antigo, vai ser completamente novo pra outra pessoa”, destaca. Em 4 anos, ela já gastou em torno de R$1500 em brechós, valor que acredita que seria muito maior se tivesse adquirido as peças em lojas convencionais.

Alimentado pelas gerações Y e Z, o segmento second hand cresce, atualmente, mais que a indústria de luxo. Levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontou que seis em cada 10 consumidores compraram algum item de segunda mão entre 2018 e 2019. A maioria dos entrevistados, 96%, ficou satisfeita com a transação. Em Fortaleza, já são muitas as opções desses espaços, com estilos e preços diferenciados, mas com uma ideia em comum: repensar o universo da moda sob a ótica da sustentabilidade e do preço acessível. Charllyane Teles, 29, desde criança usa roupas de brechó e bazar. Dentro do curto orçamento da família, as opções eram as únicas possibilidades de consumo, na época.

 

Mas a Charllyane cresceu, virou mãe e na busca por conciliar a rotina domiciliar e os cuidados com o filho, foi no mundo dos brechós que ela se achou novamente, agora como possibilidade para empreender. Foi assim, que nasceu a Pitéu Store, que como ela mesma define, é um respiro em meio ao caos da produção em massa da indústria têxtil. “No processo de desenvolvimento da loja, passei a encarar o brechó como mais que uma fonte de renda (embora essa tenha sido a intenção inicial), mas também como um conceito, uma possibilidade de resignificar a nossa interação com nós mesmos e o mundo por meio da sustentabilidade. Dessa maneira, reafirmo o pensamento de que o brechó não se reduz a um local destinado ao que é descartável, sujo, mal cuidado, mas a um universo de possibilidades com relação aos aspectos econômicos, sociais, culturais e até mesmo histórico”. A Piteu é um brechó de curadoria, isso significa que as roupas garimpadas tem diferentes origens: “partimos do princípio de que ‘roupa ideal’ é aquela que já existe, por isso acreditamos no brechó como um meio de reduzir de maneira considerável os impactos ambientais causados pela produção em massa da indústria têxtil”, pondera.

 

Faz curadoria, cadastra, mede, higieniza peças, engoma looks, tira a foto, posta nas redes, faz stories, responde aos clientes. A rotina de quem decide investir no segmento não é fácil, como conta Stefani Gurgel Muniz, 26. No ramo há seis anos, a empreendedora dona do Bazar Online Fortaleza, dedica seu dia inteiro a função: “pra quem acha que é muito simples ter uma rotina para cuidar de um brechó, o maior trabalho é ter que postar bastante, o dia inteiro sem ser algo cansativo e desinteressante ao público”. Segundo Stefanni, gerar conteúdo todos os dias é o segredo. Hoje o Bazar Online Fortaleza não está mais só no virtual, mas conta com um espaço físico na aldeota, o que aumenta os custos do brechó, que precisa faturar, em média, R$15 mil por mês para manutenção do espaço e dos dois funcionários. Durante a pandemia, Stefani conta que tem estendido seu horário de trabalho para manter o que conquistou até aqui: “mesmo lucrando menos, acredito que se eu manter meu negócio vivo voltarei a atingir minhas metas de maneira simples, tenho bastante resiliência e fé, pra mim se esforçar muito nunca foi problema”, enfatiza.

 

Luciana Valente, da Susclo, defende que para começar no segmento não é preciso muito e nem esperar o momento ideal. Ela, por exemplo, iniciou vendendo as peças do próprio guarda-roupa: “muita gente acha que o início precisa ser perfeito, né? Que preciso ter um acervo grande de peças, um sistema de precificação, preciso ter tudo muito controlado, Instagram com audiência tal. Não! no início você precisa o mínimo do mínimo”, revela. Simples, mas com todo o cuidado, Luciana conta que desde o início, mesmo sem ainda entender muito dos trâmites financeiros de uma empresa, sempre prezou muito pela qualidade das peças e pelos fundamentos da marca, que deram solidez a Susclo. Com quase dois anos de existência o brechó ganhou maturidade, novos clientes e a Luciana já tem toda uma expertise de empreendedora. “No início foi tudo bem simples, precificação era de cabeça, com base no que a gente achava que ia vender ou não. Agora, depois de dois anos, é que a gente tá ajustando nosso modo de precificação pra já ser automático”. E desde o ano passado, a Susclo já é um time composto por 4 pessoas, que trabalham diariamente no espaço que foi carinhosamente batizado de Sushouse, local físico onde Luciana e sua equipe operacionaliza todo o acervo. Segundo o relatório de impacto ambiental e social produzido pela marca, no último ano foram mais de 2 mil peças que aumentaram o tempo de vida, proporcionando R$32 mil reais de renda extra para 416 mulheres, que são diretamente impactadas pela economia circular da Susclo.

 

É fato que hoje em dia o consumidor está muito mais atento ao que consome e cobra cada vez mais das empresas responsabilidade ambiental, o que delineia um horizonte crescente para o mercado dos brechós, que ganham novos adeptos tanto do lado do consumidor como dos empreendedores, que tem visto no segmento uma ótima fonte de renda, além de gerarem impacto positivo social e ambiental.

 

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