Cachaça: do Brasil para o mundo

Com maior diversidade de produtos no mercado e mais atenção à qualidade, a Cachaça tem passado por processo de "premiunização". Reconhecimento internacional da origem exclusivamente brasileira para a bebida é desafio para os produtores

07:00 | Jul. 14, 2018

Galpão com barris de cachaça (foto: )

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Límpida mesmo após envelhecida, uma boa cachaça deve ser apreciada aos poucos, em pequenas porções, e de preferência após tomar um copo de água para limpar a boca. Segunda bebida alcoólica mais consumida no Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), a Cachaça esteve presente ao longo da história do País. Nos últimos anos, ela tem ganhado caráter premium, com maior atenção dos produtores à qualidade.

Atualmente, segundo o Ibrac, a bebida é exportada para mais de 50 países e, em 2017, os principais importadores, em valores, foram Estados Unidos, Alemanha e Paraguai. Porém, apenas três países a reconhecem como de origem exclusivamente brasileira. Esse processo de reconhecimento internacional teve início com a Colômbia, em 2012, seguida pelos Estados Unidos, em 2013, e, mais recentemente, pelo México, em 2016. Já a Tequila, por exemplo, é protegida em mais de 46 países.

O Ibrac está construindo nova proposta para o Projeto Setorial de Promoção às Exportações de Cachaça, desenvolvido por meio de parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Após ser aprovado pela Apex-Brasil, o projeto, que conta com propostas de ações de promoção da cachaça em oito mercados prioritários, terá vigência por dois anos.

De acordo com Igor Brandão, gerente de Agronegócios da Apex-Brasil, os projetos setoriais contaram com investimento da Agência de pouco mais de R$ 1,5 milhão, no período de 2014 a 2017, além dos mais de R$ 400 mil investidos pelas empresas participantes. "Estes projetos beneficiaram mais de 60 empresas do setor, por meio da elaboração de estratégias de posicionamento, estudos de mercado, participação em feiras internacionais e convite a potenciais compradores para virem ao Brasil", afirma.

"Apesar de termos algumas iniciativas nesse sentido, acho que falta, para o Brasil, maior engajamento de todos os atores de forma ordenada e, claro, unida, na promoção da Cachaça em âmbito internacional. Enquanto as instituições não vestirem a camisa da Cachaça e tiverem orgulho desse destilado brasileiro, dificilmente vamos conseguir trilhar o caminho que o México trilhou em relação à Tequila", afirma Carlos Lima, diretor-executivo do Ibrac. O reconhecimento e a proteção da bebida brasileira representa ganho de valor imaterial para o País.

Mais atenção à bebida

Há cerca de 20 anos, a Cachaça vem passando por um processo de "premiunização". De acordo com Lima, ao contrário do que se percebia antigamente, hoje existe grande variedade de produtos no mercado, além de maior investimento em melhorias tecnológicas e em embalagens diferenciadas. Além disso, o diretor destaca o uso de mais de 30 tipos de madeira para o processo de envelhecimento da bebida.

"Quando comparamos a Cachaça com outros destilados, todo mundo utiliza carvalho para envelhecer as suas bebidas. O whisky utiliza carvalho, a tequila utiliza carvalho e nós trabalhamos hoje com mais de 30 tipos de madeira diferentes para o envelhecimento de Cachaça, o que dá uma riqueza, em termos de produto, uma versatilidade e uma variedade de produtos incrível. Hoje, quem consumir diversos tipos de Cachaça sempre vai estar tendo uma experiência nova", afirma o diretor.

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Percebe-se, também, mudança na maneira como ocorre o consumo do produto. De acordo com Nelson Duarte, master blender da Ypióca, apesar de não haver fidelidade do consumidor, há busca por mais qualidade, o que reflete na atenção dos produtores com a bebida. "Temos uma preocupação dos produtores em atender esse mercado porque o brasileiro está aprendendo a beber menos, mas beber melhor. Você vê isso nas cervejas artesanais, com a Cachaça, em bons whiskies."

Inovação na categoria

Detentora da Ypióca desde 2012, a Diageo é uma das empresas que trabalha para elevar a categoria e promover a Cachaça como uma bebida genuinamente brasileira. O reconhecimento da qualidade do produto se mostra nos prêmios recebidos em competições nacionais e internacionais, como a Berlin International Spirits Competition, a New York World Wine and Spirits Competition, o Spirits Selection by Concours Mondial de Bruxelles e a Expocachaça, de Minas Gerais. "Isso tudo atesta a preocupação de mostrar para o mercado externo que temos um produto de qualidade que concorre com qualquer outro destilado do mundo sem [deixar] nada a dever", afirma o master blender. Mais de 20 países já consomem a cachaça exportada pela Diageo a partir do Brasil.

"A Diageo investe constantemente em inovação e qualidade. A Ypióca Cinco Chaves, primeira cachaça super premium Ypióca lançada desde a aquisição, e a Ypióca Mel & Limão são produtos novos que simbolizam o melhor da qualidade e o desejo do consumidor nos dias de hoje", expõe  Juliana Ballarin, gerente de marketing de Ypióca. Os resultados, segundo a representante da marca, são a expansão da participação de Ypióca no mercado fora do Ceará, onde a marca já tem 90% de participação.

São 300 mil pontos de vendas pelo Brasil, com a Ypióca Ouro na liderança de cachaças Ouro no território nacional. Desde que adquiriu a marca cearense, a Diageo segue investindo em Ypióca apostando em iniciativas para o crescimento da marca e aperfeiçoamento das suas credenciais de qualidade.

TRAJETÓRIA DA CACHAÇA NO BRASIL

1997 – É lançado o Programa Brasileiro para o Desenvolvimento da Aguardente de Cana;

2001 – É criado Decreto 4062/2001 (define as expressões "Cachaça", "Brasil" e "Cachaça do Brasil" como indicações geográficas e dá outras providências);

2004 - Fundação da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça;

2006 - Fundação do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac);

2012 - Cachaça é reconhecida pela Colômbia como exclusiva do Brasil;

2012 - Início do Projeto Setorial de Promoção às Exportações de Cachaça — Cachaça: Taste the New, Taste Brasil;

2013 - Reconhecimento mútuo entre Brasil e Estados Unidos para a cachaça e os whiskies Bourbon e Tennessee Whiskey;

2016 - Assinatura do Acordo de Reconhecimento Mútuo da Cachaça e da Tequila como Designações Próprias e Produtos Típicos do Brasil e do México, respectivamente;

2016 - Assinatura, em dezembro de 2016, do Acordo de Cooperação Mútua entre o Ibrac e a Scotch Whisky Association (SWA), entidade representativa do setor produtivo do Scotch Whisky;

2016 - Aprovação do retorno da Cachaça ao Simples Nacional.

Fonte: Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac)