Covid-19: como lidar com o medo de voltar à rotina?

No momento em que muitas atividades presenciais estão sendo retomadas, como driblar a ansiedade causada pela pandemia?

07:00 | Ago. 13, 2020

No retorno ao trabalho presencial, é natural sentir medo (Foto: Freepik) (foto: Freepik)

Para quem conseguiu se adequar às recomendações de isolamento social, como estudantes e trabalhadores que tiveram suas atividades adaptadas ao regime remoto, voltar à rotina pode causar um mix de sentimentos. Mesmo quem estava ansiando por um retorno presencial pode se deparar com sensações de angústia, medo e ansiedade, causadas pelo contexto pandêmico em que ainda estamos inseridos.

Segundo a psicóloga Ivana Teles, do Sistema Hapvida, sentir-se ansioso ou assustado no momento é um fenômeno natural – e até mesmo saudável – quando consideramos que a pandemia ainda não acabou. “Para a maioria das pessoas, existe um medo de adquirir a Covid-19 e também de que algum ente querido seja infectado pelo coronavírus. Por isso, é comum que surjam preocupações e ansiedade, que são sentimentos comuns a qualquer ser humano”, lembra.

A analista de marketing Gabriela Soares, 28, passou quase quatro meses em home office antes de voltar às atividades presenciais no último dia 6 de julho. Para prevenir casos de Covid-19 entre os funcionários, a empresa onde trabalha aderiu ao formato antes mesmo do primeiro decreto de isolamento e só retornou na terceira fase do plano de retomada das atividades econômicas no Ceará.

“Apesar de a empresa estar totalmente capacitada para nos receber com segurança, o começo foi muito assustador, porque não há nada de normal nesse novo processo. Acho que os principais impactos negativos foram as viagens de transporte público, o uso contínuo da máscara, que incomoda, e o fato de não poder me aproximar das pessoas com quem eu convivia anteriormente de maneira afetiva”, conta.

Para Gabriela, o principal elemento causador da ansiedade foi o ônibus: tendo que utilizar o transporte público em horários de pico duas vezes por dia, tornou-se impossível manter o distanciamento social durante todo o tempo fora de casa, como orientam as autoridades de saúde.

“Senti muito medo e preocupação. Ultimamente, tenho tentado revezar viagens de transporte público e transporte pago, por meio do uso de aplicativos, para diminuir os riscos. No entanto, à medida que as semanas foram passando, essa sensação de medo foi diminuindo; como retornei há mais de um mês e permaneço saudável, assim como meus familiares, estou mais tranquila e mais confortável. Acho que todos que ainda estão em home office irão sentir esse choque quando voltarem a frequentar lugares públicos”, completa.

Quando procurar ajuda profissional?

De acordo com Ivana Teles, sentimentos de medo e ansiedade funcionam como um mecanismo de defesa, e só deve haver preocupação caso aconteçam em excesso. “A preocupação com essas questões deve vir quando elas forem uma fonte de adoecimento, de paralisação ou de fuga diante dos conflitos. Para identificar isso, é importante verificar como a pessoa está lidando com as situações do dia a dia, quais os pensamentos que surgem nesse momento de medo intenso. A partir disso, passamos para um outro tópico, que é trabalhar com a razão e analisar se essas preocupações são compatíveis com a realidade ou não”, explica a psicóloga.

Uma dica da especialista é que pessoas com esses sentimentos façam o exercício de focar no que elas, enquanto indivíduos, podem controlar, como manter os cuidados necessários de higiene para combater a doença. Em caso de persistência, uma boa opção é procurar auxílio especializado com psicólogos ou grupos de acolhimento terapêuticos – muitos com atendimento online e gratuito durante a pandemia.