Dólar vai a R$ 5,52, no maior valor desde 1º de agosto, com quadro eleitoral

19:24 | Dez. 17, 2025

Por: Agência Estado

O dólar emendou nesta quinta-feira, 17, o quarto pregão consecutivo de alta e fechou acima de R$ 5,50, no maior nível desde o início de agosto, em meio a um processo de ajustes de prêmios de risco desencadeado pela percepção de aumento das chances de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A moeda americana também avançou no exterior, com ganhos em relação a divisas latino-americanas, o que pode ter contribuído para a depreciação do real.

Operadores afirmam que o resultado da pesquisa eleitoral da Genial/Quaest divulgada na terça continua a ecoar nos mercados ao amparar um desmonte do chamado "trade Tarcísio", que se traduz na aposta em valorização dos ativos locais com a mudança da política fiscal a partir de 2027 com a ascensão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Palácio do Planalto no pleito de 2026.

Primeiro a trazer o nome de Flávio na disputa pela presidência, o levantamento da Quaest mostrou o senador do PL com intenções de voto superiores às de Tarcísio em eventual primeiro turno - o que sugere viabilidade da candidatura do filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mais: o presidente Lula bate todos os postulantes da oposição em simulações de segundo turno.

Com máxima de R$ 5,5315, no início da tarde, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 1,10%, a R$ 5,5233 - maior valor de fechamento desde 1º de agosto (R$ 5,5456). A moeda americana acumula avanço de 2,20% nos últimos quatro pregões e de 3,53% em dezembro, após queda de 0,85% em novembro. As perdas da divisa no ano, que já superaram 14%, agora são de 10,63%.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que os investidores trabalhavam com uma disputa acirrada pela presidência em 2026, com boas chances de vitória da oposição, quadro que se alterou com a entrada de Flávio Bolsonaro na disputa.

"Ficou mais difícil pensar em uma eleição competitiva. Com o aumento das chances de Lula ganhar, há um ajuste dos prêmios de risco", afirma Lima, ressaltando que as pesquisas mostram que Flávio "tem votos", o que reduz a possibilidade de o senador retirar seu nome do pleito.

A reeleição de Lula, pontua Lima, reforça a percepção de que será mantido o modelo de busca crescente de receitas com aumento de impostos para financiar o forte crescimento das despesas, em vez de um ajuste estrutural do lado dos gastos públicos. "Estamos vendo uma piora do câmbio por questões idiossincráticas, com aumento da incerteza local. Não houve mudanças relevantes no exterior", diz o economista-chefe da Western Asset.

A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta quarta o projeto de lei que reduz benefícios fiscais em 10%, recuperando ainda pontos da chamada "taxação BBB" (bancos, bets e bilionários), com impacto estimado em cerca de R$ 22 bilhões. O PL, que pode ser apreciado pelo Senado ainda nesta quarta, é visto como essencial para fechar as contas do ano que vem. A votação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026 - com meta de resultado primário de superávit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) - está prevista para esta quinta-feira, 18.

Segundo informações do portal Metrópoles, o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, teria dito a integrantes do mercado financeiro que Flávio será candidato ao Planalto, ao passo que Tarcísio tentará a reeleição ao governo de São Paulo. Ciro teria previsto que o filho de Bolsonaro será um candidato competitivo, mas deve perder as eleições para o presidente Lula.

Em relatório, o Citi afirma que ainda vê como "incerta" a candidatura de Flávio à presidência, lembrando que o senador já admitiu que pode retirar seu nome do pleito "dependendo do apoio" que receber para o perdão a seu pai, condenado por tentativa de golpe de Estado. O banco também chama a atenção para a rejeição elevada a Flávio e à possibilidade de o melhor desempenho do senador em relação a outros candidatos da oposição em simulações para o 1º turno estar relacionada ao maior conhecimento do seu nome.

A perspectiva era de que o real pudesse experimentar uma depreciação em dezembro com aumento das remessas a partir da segunda quinzena do mês, turbinado pela antecipação de pagamento de dividendos em razão das dúvidas que cercam a tributação imposta pelo projeto que ampliou a isenção do Imposto de Renda.

À tarde, o BC informou que o fluxo cambial total em dezembro, até o dia 12, é positivo em US$ 3,108 bilhões, graças à entrada líquida de US$ 4,254 bilhões pelo comércio exterior. Já o canal financeiro apresentou saídas líquidas de US$ 7,071 bilhões. Em novembro, o fluxo total foi deficitário em US$ 7,071 bilhões. No ano, é negativo em US$ 16,646 bilhões.

O economista Sérgio Goldenstein, sócio-fundador da Eytse Estratégia, observa que na semana passada (de 8 a 12 de dezembro) o fluxo total foi negativo em US$ 1,6 bilhão, com saída líquida de US$ 3,5 bilhões pelo segmento financeiro. "Vale notar que, segundo dados da B3, a posição comprada de investidores estrangeiros em derivativos cambiais aumentou em US$ 4 bilhões", afirma Goldenstein, em nota.