Cenário macroeconômico pós-Covid pode ser benéfico para o Brasil
Em artigo enviado ao O POVO, Leonardo Cavalcante, especialista em finanças e investimentos, fala sobre oportunidades que podem surgir no mercado brasileiro após a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus
13:01 | Jul. 08, 2020
Em crises, o pessimismo toma conta de negócios e a economia tende a contrair com a piora das perspectivas. A pandemia combinou um choque de demanda e oferta sem precedentes, e levou o mundo a recordes negativos de atividade, gerando enormes desafios.
No Brasil, além da crise sanitária, a crise política se instaurou e a economia, que havia passado pelo pior período de sua série histórica (2014-2016) e começava a ensaiar uma tímida recuperação com algumas reformas, tomou um duro golpe. A pesquisa mensal do IBGE para abril mostrou que todos os setores recuaram. O comércio, a indústria e os serviços apresentaram contração de 16,8%, 17,3% e 18,8%, respectivamente. O último relatório Focus indica que a economia deve encolher 6,5% neste ano.
O cenário fiscal se deteriorou rapidamente com as pressões para o aumento dos gastos públicos na pandemia, o que fez o déficit primário chegar ao patamar de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) – algo jamais visto – e com risco de mais prejuízos futuros, o que faria com que a relação dívida/PIB passasse de 100%, podendo gerar um quadro de insolvência financeira ao país. Um alento são os juros em patamares baixos – 2,25% ao ano (a.a.)– o que deve incentivar investimentos produtivos.
Elevação dos gastos na economia global
Os impactos da pandemia levaram o bloco europeu a quedas de dois dígitos no nível de atividade, enquanto os EUA elevaram o desemprego em 10 pontos percentuais – 3,5% para 13,3% - saindo de uma situação de pleno emprego para recordes semanais de pedidos de auxílio desemprego. O mundo imediatamente elevou seus gastos com programas de assistência social, aumentou o acesso ao crédito e recorreu a mecanismos de geração de liquidez.
Apesar desses pacotes somarem mais de U$ 17 trilhões em países ricos, o consenso dos economistas não é de recuperação em “V”, e os desafios incluem ainda uma possível segunda onda, dificuldades nas relações comerciais, desinflação e armadilhas de liquidez.
O cenário macroeconômico mundial apresenta uma oportunidade: taxas de juros devem manter-se próximas a zero. Isso é o que aponta um estudo publicado por três pesquisadores da Universidade da Califórnia - “Longer-run economic consequences of pandemics” – que analisa os impactos econômicos das 12 maiores pandemias desde o século 14 e aponta que que estes eventos reduzem as taxas de juros por longos períodos, o que corrobora com a previsão do FED (Banco Central Americano) - taxas de juros nominais devem ficar em 0,1% a.a. até 2022, enquanto as taxas reais de longo prazo ficaram próximas à zero, semelhante aos níveis Europeus.
Alternativas de investimentos
O impacto disso no Brasil pode ser tremendo, dado que o mundo precisará procurar alternativas de investimento mais arriscadas para conseguir rentabilizar seu capital, o que possibilitará que o interesse em economias emergentes para projetos de infraestrutura seja alto. O nosso País apresenta diversas carências – investimento em infraestrutura no país é de 2% do PIB –, desde a área de saneamento, aos nossos portos, estradas e ferrovias.
Todos esses ramos têm impacto estrutural no PIB e poderiam representar ganhos sustentáveis de produtividade, algo que ajudaria a mudar a trajetória da dívida brasileira e nosso quadro de desenvolvimento.
Apesar dos desafios internos, o cenário macroeconômico pode estar ao nosso favor. Montar estruturas e projetos eficientes são essenciais para melhorar nossas perspectivas.
Leonardo Cavalcante, especialista em finanças e investimentos pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e analista de finanças corporativas | M&A na Arêa Leão Consultoria Empresarial