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Werlang avalia que inflação deve convergir para a meta em 2017 e não em 2016

19:20 | 12/03/2015
O mais provável é a inflação convergir para a meta em 2017, avaliou nesta quinta-feira, 12, Sergio Werlang, ex-diretor do Banco Central (BC) e sócio da Divitia Investimentos. Como uma depreciação adicional do câmbio é esperada, para levar a inflação à meta de 4,5% será preciso conter a demanda por mais tempo, na avaliação de Werlang. "Já atingimos o pleno emprego em outubro de 2010. Há um grande excesso de demanda", afirmou Werlang, pouco antes de dar palestra no 1º Seminário de Política Monetária, realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), no Rio.

Para Werlang, embora o cenário traçado pelo BC, de levar a inflação à meta em 2016 seja "possível", o mais provável é isso ocorrer em 2017. "Primeiramente, isso depende da intensidade da política fiscal", comentou o ex-diretor do BC.

Além da intensidade, é importante que os superávits primários das contas públicas sejam atingidos com cortes de despesas, e não apenas aumento de receitas, pois os primeiros são mais efetivos na contenção da demanda.

"Se (a meta de superávit) fosse feita com corte de gastos (a convergência para a meta de inflação) poderia ser mais rápida", afirmou Werlang, para quem é cedo lançar desconfianças sobre a capacidade de a meta de superávit de 1,2% do PIB, anunciada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ser cumprida.

Política monetária

Com o crescimento do crédito nos últimos anos, a efetividade da política monetária atualmente é muito maior do que em períodos anteriores, sem a necessidade de se elevar tanto a taxa de juros, avaliou Werlang. "Como a efetividade da política monetária vem subindo, o (efeito do) aumento de juros agora também é muito maior do que no passado", afirmou.

Segundo Werlang, a conclusão é de que não se deve insistir muito em fazer política monetária apertada, uma vez que o Brasil já está com juros reais "bastante restritivos". "Não é por aí que vamos ganhar o jogo, mas sim mexendo na política fiscal", disse.

Nesse caso, Werlang apontou que isso deve ser feito por meio de corte de gastos do governo: "A política de contração fiscal, para ser mais eficaz, tem que ser muito mais baseada em cortes de despesas do governo".

O economista avalia que o País estava com um crescimento do PIB bastante acima do potencial, o que implica uma economia inflacionária. "Dada à falta de mão de obra, essa é uma inflação de demanda", afirma Werlang.

A falta de mão de obra é um dos motivos por trás do cenário de "pleno emprego", por isso, Werlang defende que a solução para o problema de curto prazo do Brasil é o incentivo da "migração maciça" de trabalhadores. "Não há porque não fazer. É só copiar (a experiência em) outros países, não precisa criar nada excepcional", disse Werlang, que criticou ainda a desoneração da folha de pagamento, em meio ao período de pleno emprego.

Inflação

No mesmo evento, o sócio do banco Brasil Plural e ex-diretor do Banco Central (BC) Mário Mesquita avaliou que o ano de 2007 foi um "divisor de águas" na política monetária de combate à inflação, e o grande erro então foi não ter reduzido a meta, hoje em 4,5%.

"O erro foi não reduzir a meta de inflação. Mesmo com as expectativas (de inflação) abaixo disso, resolveram manter a meta em 4,5%", criticou Mesquita em sua palestra.

Na visão de Mesquita, a manutenção da meta em 4,5%, considerada por ele muito elevada, num momento em que a crise internacional provocou retração do PIB e arrefeceu a inflação, "sinalizou-se o fim do processo de desinflação" ocorrido em 2005 e 2006.

Já no primeiro governo da presidente Dilma Rousseff, a virada nos juros no segundo semestre de 2011 foi mais um fator que contribuiu para desancorar as expectativas de inflação. Ao comentar o abandono da tentativa do BC de jogar a taxa de juros para patamares mínimos, Mesquita anunciou que faria um "mea culpa".

"O Copom (Comitê de Política Monetária) é muito mais reativo do que preventivo. A maioria dos ciclos de aperto tem sido feita quando a inflação já subiu", afirmou Mesquita, sugerindo que esse hábito pode estar associado a uma tendência de "leniência com a inflação".

O ex-diretor do BC defendeu que, a partir de 2019, haja uma redução na meta de inflação, para "patamares civilizados", em torno de 3%, e uma redução na banda de tolerância com a meta, hoje em dois pontos porcentuais para cima ou para baixo.

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