Werlang avalia que inflação deve convergir para a meta em 2017 e não em 2016
Para Werlang, embora o cenário traçado pelo BC, de levar a inflação à meta em 2016 seja "possível", o mais provável é isso ocorrer em 2017. "Primeiramente, isso depende da intensidade da política fiscal", comentou o ex-diretor do BC.
Além da intensidade, é importante que os superávits primários das contas públicas sejam atingidos com cortes de despesas, e não apenas aumento de receitas, pois os primeiros são mais efetivos na contenção da demanda.
"Se (a meta de superávit) fosse feita com corte de gastos (a convergência para a meta de inflação) poderia ser mais rápida", afirmou Werlang, para quem é cedo lançar desconfianças sobre a capacidade de a meta de superávit de 1,2% do PIB, anunciada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ser cumprida.
Política monetária
Com o crescimento do crédito nos últimos anos, a efetividade da política monetária atualmente é muito maior do que em períodos anteriores, sem a necessidade de se elevar tanto a taxa de juros, avaliou Werlang. "Como a efetividade da política monetária vem subindo, o (efeito do) aumento de juros agora também é muito maior do que no passado", afirmou.
Segundo Werlang, a conclusão é de que não se deve insistir muito em fazer política monetária apertada, uma vez que o Brasil já está com juros reais "bastante restritivos". "Não é por aí que vamos ganhar o jogo, mas sim mexendo na política fiscal", disse.
Nesse caso, Werlang apontou que isso deve ser feito por meio de corte de gastos do governo: "A política de contração fiscal, para ser mais eficaz, tem que ser muito mais baseada em cortes de despesas do governo".
O economista avalia que o País estava com um crescimento do PIB bastante acima do potencial, o que implica uma economia inflacionária. "Dada à falta de mão de obra, essa é uma inflação de demanda", afirma Werlang.
A falta de mão de obra é um dos motivos por trás do cenário de "pleno emprego", por isso, Werlang defende que a solução para o problema de curto prazo do Brasil é o incentivo da "migração maciça" de trabalhadores. "Não há porque não fazer. É só copiar (a experiência em) outros países, não precisa criar nada excepcional", disse Werlang, que criticou ainda a desoneração da folha de pagamento, em meio ao período de pleno emprego.
Inflação
No mesmo evento, o sócio do banco Brasil Plural e ex-diretor do Banco Central (BC) Mário Mesquita avaliou que o ano de 2007 foi um "divisor de águas" na política monetária de combate à inflação, e o grande erro então foi não ter reduzido a meta, hoje em 4,5%.
"O erro foi não reduzir a meta de inflação. Mesmo com as expectativas (de inflação) abaixo disso, resolveram manter a meta em 4,5%", criticou Mesquita em sua palestra.
Na visão de Mesquita, a manutenção da meta em 4,5%, considerada por ele muito elevada, num momento em que a crise internacional provocou retração do PIB e arrefeceu a inflação, "sinalizou-se o fim do processo de desinflação" ocorrido em 2005 e 2006.
Já no primeiro governo da presidente Dilma Rousseff, a virada nos juros no segundo semestre de 2011 foi mais um fator que contribuiu para desancorar as expectativas de inflação. Ao comentar o abandono da tentativa do BC de jogar a taxa de juros para patamares mínimos, Mesquita anunciou que faria um "mea culpa".
"O Copom (Comitê de Política Monetária) é muito mais reativo do que preventivo. A maioria dos ciclos de aperto tem sido feita quando a inflação já subiu", afirmou Mesquita, sugerindo que esse hábito pode estar associado a uma tendência de "leniência com a inflação".
O ex-diretor do BC defendeu que, a partir de 2019, haja uma redução na meta de inflação, para "patamares civilizados", em torno de 3%, e uma redução na banda de tolerância com a meta, hoje em dois pontos porcentuais para cima ou para baixo.