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O arquiteto dos projetos monumentais

01:30 | 11/02/2015
O que permeiam os projetos arquitetônicos de Daniel Arruda são os conceitos de gentileza urbana e inovação. Afeto ao desafio, montou seu escritório de arquitetura, que carrega seu nome, e foi atrás de parceiros que aceitassem as suas ideias. Desde então, vem se destacando e atuando em diversas áreas: prédios residenciais, comerciais, empreendimentos turísticos hoteleiros, resorts, projetos de segunda moradia, empreendimentos institucionais, entre tantos outros. Dos trabalhos que marcam sua carreira, destacam-se a Mansão Macêdo,  no Meireles, e o BS Design, prédio comercial que deverá ficar pronto em 2019. Assim, Daniel Arruda ficou e é reconhecido como o arquiteto dos projetos monumentais.

O POVO - Como o senhor ficou conhecido como arquiteto renomado?
Daniel Arruda - Desde que a gente montou o escritório a gente tinha a ideia de fazer uma arquitetura diferenciada de tudo aquilo que a gente já vinha acostumado aqui nos projetos da Cidade. E isso também é uma quebra de paradigmas perante as construtoras, porque são projetos mais inovadores. Então,  foi a partir daí que a gente conseguiu ir entrando devagarzinho no mercado. E o mercado viu que projetos diferenciados, ou com crise ou sem crise sempre estão em alta.

OP - Por onde o senhor começou?  
Daniel - A primeira construtora que apostou no nosso trabalho foi a Diagonal que tem esse perfil de gostar de fazer coisas diferentes.

OP - E qual foi o projeto?
Daniel - Foi o edifício Villa Firenze, na Aldeota, onde  a gente colocou o conceito de dois de um por andar. A gente via que em apartamentos de dois por andar eu tinha apenas dois elevadores, um social e um de serviço. E esse projeto a gente vendeu ele como sendo cada apartamento possuindo seu elevador social privativo e um de serviço comum aos dois. Esse aí foi por volta de 2003.

OP - O senhor alavancou depois desse?
Daniel - Exatamente. Aí surgiram diversos outros projetos que a gente vem desenvolvendo com as empresas e os projetos foram aparecendo, as novidades foram surgindo e as construtoras começaram a nos solicitar esses projetos diferenciados. Hoje em dia os clientes já chegam no nosso escritório esperando algo diferente.

OP -
Qual o projeto que o senhor tem um carinho especial?
Daniel - Tem a Mansão Macêdo. O maior apartamento de área plana residencial de Fortaleza. É um projeto que tem 883 m de área privativa e é o primeiro residencial com heliponto na Cidade. São 12 vagas de garagem para cada apartamento. E de prédios comerciais foi o BS Design da BSPAR, que tem um projeto monumental, com conceito de gentileza urbana muito forte e isso é  uma assinatura nossa.

OP - Serão as praças, shoppings...
Daniel - As praças integradas aos projetos. ou seja, o projeto ele não é 100% privado, ele é público. Ele interage com a Cidade através de suas praças, bulevares. Então as pessoas permeiam por dentro do projeto.
 
OP - Isso aqui no Brasil começou em São Paulo...
Daniel - Começou em São Paulo… na verdade, isso é uma tendência de mercado. Ou seja, mundialmente isso já vem acontecendo. São os chamados projetos de quadra aberta, então as coisas acontecem lá no vêm acontecendo em São Paulo, Rio de Janeiro e depois vêm descendo aqui para o mundo, depois Nordeste, então, mas são projetos pioneiros que eu diria que no Nordeste e no Brasil.

OP - E quais são as tendências do mercado hoje?
Daniel - Por exemplo, as áreas de lazer hoje são uma tendência dos projetos por questão da segurança. Outra questão é a ideia do pé direito duplo, que você também valoriza a questão da ventilação, da iluminação natural e, consequentemente, dá uma amplitude maior aos ambientes.

OP - Em que se diferencia os mercados nas regiões onde o senhor atua? E no Brasil?
Daniel - Diferencia exatamente o programa dos projetos. O Norte e Nordeste pedem muito a questão da individualização dos banheiros privativos. Já no Sul já existe menos essa linha. Essa questão do tamanho dos quartos, aqui no Nordeste os quartos eles normalmente são maiores do que nas regiões Sul e Sudeste, onde lá se valorizam outros ambientes. Então exigem pontualmente algumas diferenciações.

OP - E qual a diferenciação no custo?
Daniel - Isso não. Eu diria que é perfil mesmo, perfil dos moradores, perfil das famílias. É o dia a dia das pessoas.
 
OP - Como o senhor traz esses conceitos para Fortaleza?
Daniel - A gente filtra. Uma das coisas que eu posso dizer é a seguinte: a realidade do nosso País em relação a custo é bem diferente desses outros países. Filtrar no sentido de você buscar novos conceitos, mas que esses novos conceitos caibam dentro do custo de construção, de mercado, de preço de venda da nossa realidade de mercado. Nós não podemos fazer um projeto altamente futurista que o custo se torne inviável, que esse projeto não se venda. Então o filtro é exatamente esse de trazer novas concepções, fazer projetos inovadores, mas dentro de uma realidade de custo do nosso mercado.
 
OP - Qual a realidade de custo do nosso mercado? Até onde ele pode ir?
Daniel - Olha, eu vou te dar um exemplo assim que o próprio BS Design é um projeto que é bastante arrojado e tem realmente um custo mais elevado que os demais. Os outros projetos comercias que foram até lançados na sua época, só para se ter uma ideia, em nível de valor de metro quadrado de uma sala comercial normalmente se vente entre R$ 9 e R$ 10 mil e o BS Design está sendo vendido a R$ 14 mil. Ou seja, por toda a sua concepção, por todo o conceito, ele se torna um projeto único.
 
OP - Onde o senhor busca referências para os projetos?
Daniel - Dubai, com certeza, é um local. Anualmente eu faço de três a quatro viagens internacionais de pesquisa. A gente vai para locais onde existem projetos inovadores, como Cingapura, Chicago, Nova York e os Emirados Árabes como um todo. Fui até ao Catar também, onde será a nova Copa do Mundo.

OP - Como o senhor descreve a arquitetura que faz?
Daniel - Eu acho que diferente e inovadora seriam dois termos que se aplicam diretamente a nossa arquitetura. Sabe, a gente procura trabalhar a arquitetura como algo monumental. Algo exatamente para ser visto, apreciado. Até porque a gente tem uma responsabilidade muito grande perante a nossa Cidade. Então a arquitetura hoje ela faz parte de grandes destinos turísticos mundiais. E a intenção é essa: fazer com que esses projetos sejam referências.

OP - O senhor pode antecipar algum projeto da sua prancheta?
Daniel - Nós temos um projeto que ele vai ser um ícone na Cidade. Chama-se Blue Diamond, que é da construtora Manhattan, na avenida Dom Luís com Coronel Jucá. Ele tem um conceito de mall com uma torre comercial em cima, salas com pé direito duplo e vai ter um grande boulevard na frente.

OP - Então vocês estão sempre trazendo esse espaço de convivência...
Daniel - Isso eu diria que é uma assinatura nossa. Os projetos hoje aqui do escritório eles interagem, a gente procura interagir ao máximo com a Cidade para exatamente que ele seja um atrativo e não apenas um projeto arquitetônico. Que seja algo para que as pessoas possam usufruir dele também. Não só os moradores. Então ele interage como um todo. Nós fizemos agora um projeto residencial que foi lançado no ano passado, chamado praça da luz, da construtora Diagonal, que ele é um residencial com esse conceito, ele é um residencial de três torres e que existe uma praça pública embaixo do empreendimento com a área de lojas em volta dessa praça. Que dizer que são projetos mistos onde o projeto ele tem vida. A ideia exatamente é que o projeto possua vida ao longo do dia e da noite.E a tendência é melhorar a questão de acessibilidade, a questão exatamente de ter espaço onde as pessoas possam usufruir desses espaços na Cidade.
 
OP -
Como é a escolha dos materiais para os projetos que vocês realizam?
Daniel - Olha. Aqui no Brasil a gente esbarra muito na questão do custo. O custo de construção hoje é um balizador para a gente muito forte. Então a escolha de materiais é um elemento que ele impacta diretamente no custo e como são grandes projetos então, assim, são fachadas gigantescas, então vai existir realmente um custo de revestimento muito alto. A gente procura juntamente com a construtora, lógico que nós estamos trabalhando já com alguns diferenciais como a fachada aerada, fachada ventilada que são as tendências, mas tudo isso trabalhado e estudado com as construtoras para que se encaixe dentro do custo estabelecido para aquele empreendimento.
 
OP - O quão mais caro são os projetos inovadores?
Daniel - Isso é muito relativo. As pessoas pensam assim: projetos inovadores, monumentais são muito mais caros. Isso não é uma verdade, porque muitas vezes o que manda no custo é a eficiência do projeto. Então muitas vezes você tem um projeto super inovador, super eficiente. Em contrapartida, você pode ter um projeto convencional e altamente ineficiente. Então, o que a gente tem conseguido aqui é exatamente isso: fazer projetos inovadores, super eficientes, onde eles se encaixam dentro do custo do nosso mercado. Eles são eficientes na questão de custo construtivo, você pode ter soluções arquitetônicas mais simples, soluções construtivas mais simples. A gente pode se utilizar de tecnologias, como em diversos projetos nosso existe a mescla da estrutura de concreto com a estrutura de metálica. Então quer dizer que você usufrui das tecnologias novas para ter um custo mais atrativo. Tanto um custo construtivo, quanto o custo de mão de obra, porque é menos mão de obra e é mais produtivo, é mais rápida, a coisa já vem pronta, é içada e é encaixada. Então é nessa linha que a gente vem trabalhando esses projetos inovadores.
 
OP - É o caso da fachada aerada…
Daniel - Isso. ela é mais cara se você analisar de forma pontual ela é mais cara que uma fachada convencional, mas em contrapartida ela dispensa reboco, o endosso, ou seja, a pessoa não precisa mais descer com a fachada. Ela é entregue e a pessoa já vai aplicando os perfis e os porcelanatos. Então tudo isso é feito uma conta não da própria tecnologia, mas do processo construtivo como um todo.
 
OP - Estamos falando construções dry. Aquelas sem resíduos, secas…
Daniel - Exatamente. Essa é uma tendência mundial e é isso que a gente vem discutindo com as construtoras.
 
OP - Até onde se consegue fazer uma obra dry aqui em Fortaleza?
Daniel - Estamos com as fachadas ventiladas e aeradas que hoje são o que eu diria o que há de mais novo nessa linha de construções mais limpas. As paredes de gesso, os drywalls, também facilitaram muito a questão interna dos apartamentos porque hoje você pode aplicar o piso no apartamento como um todo e depois se alguém aplicar as paredes de gesso drywall em cima desse próprio piso, a produtividade e o desperdício de material são muito menores. Ou seja, uma obra seca.

OP - O que o senhor trouxe de novo para Fortaleza?
Daniel - Eu posso dizer que a gente trouxe edifícios pontes. Com aquelas interligações entre os edifícios. Foram uma novidade para o mercado e muito bem aceitos.

OP - Qual o seu sentimento pela Cidade?
Daniel - Nossa Cidade ainda é muito insegura. Então, a ideia de fazer projetos integrados à Cidade é para tentar melhorar a questão da segurança, ou seja, nada mais seguro do que colocar pessoas na rua, pessoas andando. Você afugenta os marginais porque existe uma grande concentração de pessoas.

OP - O senhor vê o mercado imobiliário mais cauteloso?
Daniel - O mercado imobiliário está muito cauteloso e é realmente para estar. O momento que estamos vivendo é de pé no chão. As coisas têm de acontecer de uma forma muito profissional, corretas. Você não pode errar porque um deslize ou erro podem gerar um grande prejuízo. Com a alta dos juros houve um freio no mercado imobiliário, mas as construtoras não param, continuam trabalhando, mas num ritmo um pouco menos acelerado.

OP - Mas o mercado em Fortaleza é diferente do Sudeste. Chegam a dizer que ele é um case...
Daniel - Muitas vezes o que acontece no País não acontece em Fortaleza. Ela não depende muito de tantos investimentos externos, nem de estrangeiros. Existe um mercado local muito forte. Isso é o grande diferencial de Fortaleza, que cresceu de maneira muito gradativa e ordenada. Diferentemente de outras regiões e cidades do País que cresceu absurdamente de uma forma muito rápida e estagnou. Então Fortaleza vem crescendo de uma forma muito gradativa, profissional, o que é o grande diferencial.

OP - Depois da expansão para o lado Sul, qual será o rumo do crescimento em Fortaleza?
Daniel - Eu diria que hoje tem dois vetores de crescimento. O sentido Sul, que eu diria ser o principal vetor de crescimento. Ali na continuação da Washington Soares: Guararapes, Cambeba. Aquela região seria exatamente para onde a Cidade tem para crescer. E o setor Oeste eu diria que seria o segundo vetor de crescimento naquela área.

OP - O senhor tem algum projeto na área Sul?
Daniel -Nós estamos desenvolvendo o primeiro hotel daquela região que é o Hotel Ibis, que já está em obras. Um hotel voltado totalmente para o Centro de Eventos. Existem até que eu já escutei outros projetos de hotéis sendo desenvolvidos na região.

OP - E no interior o mercado também está cauteloso?
Daniel - Eu vou falar um pouco de onde a gente trabalha no interior, que é em Juazeiro do Norte. Lá eu diria que está bem, lógico que tudo de forma cautelosa. Nós tivemos lá um grande empreendimento, que foi o Unique, um sucesso absoluto. E estamos desenvolvendo um outro projeto também lá residencial também super diferente, todo escalonado. É um residencial que tem várias tipologias dentro de uma mesma torre. É um conceito bem diferente que acho que para Juazeiro vai ser uma grande novidade.

OP - Mas o preço em Juazeiro tem que ser menor...
Daniel - O preço lá é um pouco abaixo. Então você tem que propor algo inovador, mas com o custo ainda mais abaixo.

OP - Inova-se menos no interior?
Daniel -Nem sempre, a gente pode inovar, mas desde que você consiga ter uma maior eficiência.


OP - Você trabalha com mercado de alto padrão…
Daniel - A gente  trabalha com todos os mercados. Fizemos algo de alto, médio ou baixo padrão e isso depende muito da situação do País. No boom imobiliário antes de 2008 a bola da vez era o baixo padrão. Apartamentos para a classe C e D, então, quer dizer, o próprio cenário mundial vai norteando o que vai acontecer mais.

OP - Quais diferenças nos projetos para os mercados de baixo, médio e alto padrão?
No mercado baixo padrão você tem que ter projetos super otimizados para você tentar encaixar dentro do custo de construção, para que o preço de venda não se torne algo absurdo. Quando você vai para o médio e para o alto padrão, aí você já tem que ter diferenciais que sejam atrativos para o próprio consumidor.

OP - E em relação à legislação de Fortaleza, o Código de Obras e Posturas, a Lei do Uso e Ocupação do Solo e o Plano Diretor estão defasados, como a questão do gabarito dos prédios...
Daniel - Eu diria que falta aqui na nossa Cidade exatamente uma legislação que ela possa permitir ao arquiteto melhorar ainda mais o urbano da nossa Cidade. eu acho que a legislação nos freia muito e impõe muitas restrições que muitas vezes prejudicam o próprio urbanismo da cidade e você fica amarrado nessas premissas sem poder inovar e fazer um projeto até melhor, mais vertical, mais adensado. Permitindo uma melhor ventilação da Cidade. Eu tinha um sonho de realmente fazer um grande ícone na Cidade, um prédio vertical, um prédio onde ele pudesse aparecer cada vez mais por ele estar livre no seu entorno. Estamos buscando melhorar a legislação de Fortaleza, até porque a legislação é muito antiga e não acompanhou as evoluções tecnológicas e nem das próprias cidades e dos seres humanos. O novo plano diretor é de 2009, a lei de uso e ocupação do solo é de 1996 e o código de obras e posturas é de 1983. Estamos em 2015, então de 96 para cá mudou muita coisa: a forma como as pessoas enxergam as coisas, como elas se comportam, a forma como a gente trabalha também é totalmente diferente e tudo isso ainda muda a arquitetura. e hoje a gente ainda tem que seguir leis antigas, altamente retrógradas.

OP - Para o senhor, o que mais limita as construções nessas legislações?
Daniel - O que limita é a própria fração dos lotes, o gabarito limita. Então hoje a gente é todo o tempo norteado por uma série de limitações que você tem que exatamente trabalhar dentro daquele invólucro e você não pode fugir muito daquilo. E a gente sabe que as cidades lá fora estão expandindo no sentindo de desadensar, ter mais espaços urbanos. Isso quer dizer que quanto mais prédios verticais nós tivermos, eu libero mais área no seu entorno e posso trabalhar essas gentilezas urbanas para as pessoas usufruirem.

OP - O que o senhor gosta de fazer como hobby?
Daniel - Eu sou um apaixonado por arquitetura. Eu adoro obras diferentes, inovadoras. Trabalho muito, viajo muito e como hobby, meu principal hobby é viajar. viajo em torno de 3 a  4 vezes. arquiteto não viaja de férias, viaja sempre a trabalho. onde a gente vai é olhando, batendo foto. E aqui em Fortaleza eu curto muito a minha família. Eu trabalho e vivo a minha família.

OP - Como o senhor acha que as pessoas lhe enxergam no comando do escritório?
Daniel - Eu graças a Deus tenho uma grande honra de trabalhar no mercado imobiliário cearense. Eu costumo dizer que eu não tenho clientes, eu tenho grandes amigos. As construtoras que a gente trabalha hoje para mim são grandes amigos mesmo. Não existe mais a relação de clientes e sim de grandes amizades. Aqui no escritório, a gente comanda uma equipe de aproximadamente 25 pessoas dentre arquitetos projetistas e equipe de administrativo. A equipe é dividida em três núcleos e cada núcleo possui um coordenador, um arquiteto sênior, um arquiteto pleno, um arquiteto júnior, projetistas e estagiários.

OP - Como é a sua relação com essa equipe?
Daniel - Eu sempre trato todo mundo de uma forma igual, não costumo distinguir por hierarquia de classes. Eu trato o segurança, a copeira e o cliente da mesma forma que eu trato o meu coordenador, meus arquitetos. Eu trato todo mundo de uma forma igual. É tanto que todo mundo senta na minha mesa de forma igual. A hora que precisar, estamos sempre para ajudar. Eu trato a minha empresa como uma grande família. Ou seja, a minha equipe para mim é como se fosse uma grande família. São as pessoas com quem eu conto. São as pessoas que dão o suporte para a empresa crescer.
 
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