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Aéreas podem enfrentar ano turbulento, com câmbio volátil

17:10 | 11/01/2015
O cenário macroeconômico negativo, o câmbio volátil e a perspectiva de maior competição podem levar as aéreas a enfrentar um ano mais turbulento em 2015. O alento vem dos preços mais baixos do combustível, em particular se permanecerem no atual patamar ao longo do ano. Ainda assim, após terem passado os últimos dois anos buscando cortar custos e ganhar eficiência, as empresas se estruturam para garantir um bom posicionamento com o aguardado desenvolvimento da aviação regional, que pode garantir novos passageiros e crescimento futuro.

 

"Em 2015, o principal vento contrário para as aéreas é o cenário econômico. Transporte aéreo depende muito da demanda e qualquer crise é um balde de água fria. O setor não vai assistir ao crescimento que se viu no passado", diz o sócio diretor da Pezco Microanalysis, Cleveland Teixeira. Já o consultor da Bain & Company André Castellini considera que o setor terá "na melhor das hipóteses, um pequeno crescimento", mas não descarta uma estagnação.

 

As empresas aéreas evitam dar projeções sobre a demanda. Os mais recentes dados compilados pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) apontam para uma taxa anualizada de demanda em alta de 5,8%, com base nos resultados até novembro. A taxa é utilizada como sinalizador do desempenho futuro, mas vale salientar que 2014 foi atípico, com Copa e eleições alterando o perfil de viagens. Historicamente, o setor cresce 2,5 vezes o Produto Interno Bruto (PIB), relação que chegou a ser superada nos últimos anos, com a expansão da renda. Agora, o panorama econômico leva o mercado a vislumbrar um recuo aos patamares históricos.

 

Do lado da oferta, as companhias têm sinalizado com a manutenção da capacidade atual. Ontem, o Grupo Latam confirmou a meta de manter estável o número de assentos ofertados pela TAM no mercado doméstico. Já o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, embora ainda não tenha divulgado uma projeção, disse que o cenário "seguia exigindo disciplina de capacidade".

 

Analistas de mercado não descartam, porém, novos cortes de oferta. Ao comentar o anúncio da Latam, Rodrigo Fernandes, do UBS, afirmou que, levando em consideração o atual momento econômico, a aérea "pode precisar ser mais agressiva no corte de capacidade para recuperar suas margens operacionais".

 

Para Castellini, os cortes observados já nos últimos dois anos foram fundamentais e prepararam as companhias para enfrentar 2015. "Se a recessão viesse em meio à situação de dois anos atrás, elas poderiam não sobreviver, mas as empresas fizeram um corte de rotas menos rentáveis e estão mais preparadas", avalia. Ele acrescenta que a recente redução do preço do petróleo, que influencia diretamente o querosene de aviação (QAV), dá um alívio adicional.

 

O preço internacional do QAV caiu 42% em um ano, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). Como o combustível responde por cerca de 40% dos custos de uma aérea brasileira, qualquer redução tende a permitir aumento na rentabilidade.

 

Mas, com cerca de 55% dos custos denominados em dólar, inclusive o QVA, os ganhos para as empresas aéreas não devem ser tão fortes como no exterior, e a moeda norte-americana mais cara deve elevar custos de manutenção e reposição de peças e leasing de aeronaves. "A oscilação negativa da commodity (petróleo) é contrabalançada por uma constante depreciação do real, o que impõe uma pressão adicional de custos", resumiu a TAM, em nota.

 

Castellini salienta, porém, que o saldo entre QVA e dólar é positivo, e pode ser usado pelas companhias seja para garantir maior rentabilidade seja para estimular a demanda, repassando parte do ganho para a tarifa. O dólar só não deve evitar, na sua opinião, que as empresas acumulem mais um ano de prejuízos líquidos, tendo em vista seus passivos em dólar. "Mas do ponto de vista operacional, elas devem se manter estáveis", diz.

 

Aviação regional

 

Apesar do momento exigir cautela, as empresas devem se comprometer como novos investimentos, acertando a compra de novas aeronaves, em preparação para a esperada expansão do mercado regional, que deve ser impulsionado a partir da efetivação do programa federal de Desenvolvimento da Aviação Regional.

 

O programa, que inclui investimentos em 270 aeroportos e subsídio para as aéreas realizarem voos ao interior, foi objeto de Medida Provisória encaminhada ao Congresso em julho de 2014. A matéria, entretanto, não foi votada dentro do prazo e perdeu validade. O texto debatido foi então incluído no projeto de conversão de outra MP, a 656, que originalmente versa sobre tributação e que ainda aguarda sanção presidencial.

 

O recém-empossado ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Eliseu Padilha, disse esta semana que a aviação regional é sua "prioridade absoluta" e garantiu que os anunciados cortes de gastos públicos não afetarão o plano, já que os recursos que o financiarão são do Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), formado a partir das outorgas dos aeroportos concedidos.

 

Enquanto aguardam a publicação da lei e a regulamentação do programa, as principais companhias do País estão em fase adiantada de negociação para a compra de aeronaves menores, a serem usadas nesse mercado. A TAM já informou que está negociando com a Embraer a compra de até 30 aeronaves, com até 110 assentos, e estimou que o negócio deve ser fechado até março.

 

O presidente do Conselho de Administração da empresa, Marco Antonio Bologna, garantiu que a decisão da TAM não está sujeita ao plano de aviação regional, mas é estratégia da companhia para ampliar o fluxo de passageiros em sua malha. Ele lembrou que apesar do fraco desempenho da economia brasileira, a expansão da demanda é puxada pelos mercados de menor densidade, ou seja, os destinos regionais. "Independentemente de qual seja a fórmula (para o subsídio), a decisão da TAM está tomada", comentou. A previsão da companhia é atender entre 12 e 15 novas cidades em três anos, começando com mais três a cinco em 2015.

 

A Gol também analisa a compra de novas aeronaves, com até 140 lugares. Estão na concorrência os E-195 E2, da Embraer, e os 737 Max-7 da Boeing. Embora o presidente Paulo Kakinoff tenha salientado que a compra desses aviões não está relacionada diretamente ao plano de aviação regional, mas à substituição de parte da frota a partir de 2018, ele reforçou o plano da companhia de ampliar sua malha com novos destinos regionais, com a expansão de três a quatro destinos por ano, e esse tipo de aeronave, a menor da frota, deve ser usada nesse mercado.

 

A Azul também já anunciou uma carta de intenções para a compra de 30 novas aeronaves da Embraer. Em meio aos debates no Congresso para mudança nas regras do plano regional, o presidente da empresa, Antonoaldo Neves, ameaçou cancelar o acordo. Procurada, a empresa não comentou o caso, por estar em período de silêncio, em meio à nova tentativa de abertura de capital. Mas seu prospecto preliminar cita a compra dos 30 jatos Embraer de nova geração. Colaboraram: Erich Decat, Anne Warth e Eduardo Rodrigues

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