Economia faz milionários subirem exposição em renda fixa
17:10 | Set. 14, 2014
Dados antecipados com exclusividade para o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, mostram aumento de 14% de dezembro de 2013 a junho deste ano, para R$ 24,7 bilhões, no volume de recursos alocados em ativos de renda fixa por milionários que administram suas fortunas com o auxílio de gestores de patrimônio. A renda fixa respondia por 38% dos investimentos feitos por esse grupo em junho, superando os 33,6% de dezembro. A estatística do segmento é feita com base em 19 gestoras de patrimônio, também conhecidas como family offices, que se reúnem em um comitê na Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Juntas, essas gestoras tinham R$ 64 bilhões em ativos sob gestão em junho. Ao todo, são 3.673 clientes, entre indivíduos e famílias.
"Parte dos ativos imobiliários foi monetizada, aproveitando-se a valorização dos preços dos imóveis, e esses recursos foram direcionados a investimentos financeiros, que hoje tem um estoque maior em renda fixa", explicou o diretor da Anbima, Richard Zillioto, que também é sócio da gestora de patrimônio Taler. Esse movimento é explicado, segundo ele, pelo período de maior volatilidade nas expectativas econômicas e incertezas políticas, acompanhada pelo apelo do alto rendimento dos títulos públicos e de instrumentos de renda fixa privada incentivados.
Zillioto observa que o investimento imobiliário tradicionalmente ocupa uma fatia relevante no patrimônio, representando, em média, 30% do total. O preço elevado dos imóveis, conta Zillioto, incentivou a realização desse lucro, especialmente no começo do ano, e, ao mesmo tempo, reduzindo o interesse na aquisição de ativos imobiliários reais. Essa estratégia vem ao encontro com o cenário vivido pelo setor imobiliário nos últimos meses, diante do arrefecimento das vendas e aumento dos estoques das construtoras.
Entre as alternativas que esses clientes buscam na renda fixa, o executivo citou, as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito Agrícola (LCA), que possuem isenção de imposto de renda. "Em um momento em que a indústria de fundos não está performando houve muita migração para esse tipo de ativo", destaca. A despeito desse cenário, o diretor da Anbima disse que no mercado de administração de alta fortuna, a alocação em multimercados foi mantida.
Ele observa, entretanto, que existe um sentimento negativo em relação à economia agravado pela decisão da Moody's de alterar a perspectiva do rating de crédito do Brasil de estável para negativo. "Apesar de o retorno sobre o título público brasileiro estar entre os mais altos do mundo, se o sentimento é muito negativo, pode haver preocupação de perda de valor e questionamento sobre se não seria melhor mandar o dinheiro para fora do Brasil ou ter outro tipo de investimento", diz.
Nesse sentido, o diretor da Anbima afirma que, ao mesmo tempo em que houve uma migração para a renda fixa, o porcentual de investimentos feitos no exterior e em participações em empresas, também aumentou, embora em menor proporção. Essas são percepções que estão fora do alcance das estatísticas do estudo da Anbima, portanto, não existem números disponíveis para avaliar o quanto cresceram.
Zillioto afirma ainda que, além de mandar o capital para fora do Brasil, uma alternativa que vem sendo olhada é a de aposta contra o Brasil. "Ir para um multimercado apostando em uma situação em que o real irá se desvalorizar muito, por exemplo", afirma.