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Prévia do IGP-M mostra trégua, mas riscos persistem

16:39 | 09/07/2013
A primeira prévia do IGP-M de julho, divulgada nesta terça-feira, 09, pela Fundação Getulio Vargas (FGV), sinaliza uma trégua na tendência de alta da inflação. O indicador apresentou variação positiva de 0,26% na prévia deste mês, inferior à alta de 0,43% em junho. "A prévia teve uma expressiva desaceleração", afirmou o superintendente adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), Salomão Quadros.

Apesar disso, o cenário ainda não é de queda consistente da inflação, uma vez que os itens que pressionam os indicadores ainda persistem. Nas contribuições para a desaceleração do IGP-M no período, o economista destacou a revogação do aumento de R$ 0,20 nas tarifas de ônibus nas principais capitais brasileiras, em resposta aos protestos que tomaram as ruas do País.

A anulação dos reajustes pelas prefeituras e pelos governos estaduais coincidiu com a fase de apuração do indicador, entre os dias 21 e 30 de junho. Com isso, o item transporte passou da ligeira alta de 0,04% para uma queda de 0,52%. "O preço do álcool também está ajudando, mas a revogação dos aumentos é o fator mais importante", disse Salomão.

O comportamento das matérias brutas foi outro item que ajudou a desacelerar o indicador. O minério de ferro passou de uma alta de 0,62%, em junho, para um forte recuo de 4,64%, em julho, e a soja desacelerou de 7,41% para 4,07%, dois itens com peso significativo no cálculo do IGP-M. "Esses movimentos iniciados na primeira prévia, tanto na soja quanto no minério de ferro, devem prosseguir", estimou o economista.

O preço do minério de ferro no mercado internacional vem caindo com o ritmo menor de crescimento da economia chinesa, o que reduziu a demanda pelo produto. "Esse fator impactou e vai continuar impactando. Por mais que se incorpore a desvalorização do câmbio, a resultante ainda é de queda no preço", explicou o especialista da FGV.

No caso da soja, Salomão informou que o produto teve um pico de elevação no preço até junho, mas há sinais de que o movimento começa a perder força. As cotações da soja têm sido influenciadas pelas dúvidas do mercado sobre o nível de produtividade da safra norte-americana, cuja colheita irá ocorrer em agosto, que pode ter sido comprometida pelas chuvas no primeiro semestre.

Os dados apurados pela FGV mostram que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) desacelerou de 0,25% para 0,04%. Além da contribuição do setor de transporte, a queda dos preços dos alimentos no período foi determinante para um IPC próximo a zero. O tomate, vilão da inflação no começo deste ano, acelerou a queda (de -15,81% para -19,48%); o mamão papaya variou de alta de 22,27% para queda de 21,08%; e a cenoura passou de uma redução de 7,33%, em junho, para um recuo de 21,24%, em julho.

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) também teve expressiva desaceleração, de 2,4% para 1,01%, refletindo a redução dos custos com a mão de obra (de 4,03% para 1,50%). Salomão disse que as prévias anteriores haviam sido contaminadas pelos dissídios coletivos, cujo efeito está terminando. "Estão ficando para trás os impactos da mão de obra. Em São Paulo e em Brasília, isso já acabou. E o impacto em Porto Alegre está acabando este mês."

Apesar do bom comportamento do IPC na primeira prévia do IGP-M, Salomão ponderou que "não é o fim da história". O índice relativo aos bens intermediários teve forte alta, passando de 0,36% para 1,05%, refletindo, principalmente, o aumento dos preços dos derivados de soja, entre eles o farelo, produto usado na alimentação de animais. O preço do trigo também está subindo por causa de restrições do governo argentino às exportações ao produto.

"A partir de agosto, podemos ter o repasse de alguns aumentos, como ração de frangos e suínos, por causa da soja. O trigo, que está vindo forte, pode ter alguma repercussão no futuro. O preço do leite in natura está difícil de desacelerar. Ainda há um efeito escondido que deve reaparecer mais para a frente", projetou Salomão, acrescentando que a valorização do dólar frente ao real pode repercutir negativamente em breve. "Hoje, ainda não há nada do efeito do câmbio no varejo, mas, aos poucos, isso pode ir se propagando." Atualmente, a moeda norte-americana está cotada ao redor de R$ 2,26.

Evitando arriscar a decisão dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom), na noite da quarta-feira, 10, sobre a taxa de juros (Selic), Salomão ponderou que os dados do IGP-M e do IPCA sinalizam que o momento atual "está mais para uma trégua e uma desaceleração temporária do que um movimento consistente (de queda da inflação)". Para o economista, os produtos agrícolas e os serviços devem seguir pressionando a inflação, assim como o efeito do câmbio ainda não apareceu nos preços.

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