Consumo de ultraprocessados no Brasil mais que dobrou em 40 anos

O apontamento faz parte de uma série de artigos publicados na revista The Lancet sobre a temática, com dados globais sobre o crescimento

21:11 | Nov. 30, 2025

Por: Penélope Menezes
Alimentos ultraprocessados cresceram de 10% para 23% nos últimos 40 anos no Brasil (foto: Rodrigo Araya na Unsplash)

Uma coletânea de artigos publicados na revista científica The Lancet em novembro aponta um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados ao redor do mundo. No Brasil, em quatro décadas, a presença evoluiu de 10% para 23%, o equivalente ao dobro nesse período.

Outros países, como a Espanha, viram as compras alimentares relacionadas aos produtos quase triplicarem em 30 anos, de 11% para 31,7%. Já no Canadá, o aumento foi de 24,4% para 54,9% em oito décadas.

”Essa mudança na forma como as pessoas se alimentam é impulsionada por grandes corporações globais, que obtêm lucros extraordinários priorizando produtos ultraprocessados”, aponta o pesquisador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP e líder do trabalho, Carlos Monteiro.

Monteiro é reconhecido como um dos “pais” do termo “ultraprocessado”, referente aos alimentos industrializados prontos ou semiprontos para o consumo.

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Consumo de alimentos ultraprocessados: conheça a pesquisa

O primeiro artigo, de uma série de três partes na The Lancet, avalia hipóteses sobre o padrão alimentar baseado em alimentos ultraprocessados. Mais dois artigos complementares especificam ações políticas e estratégias de saúde pública de apoio às dietas com produtos frescos e minimamente processados.

“O conjunto das evidências apoia a tese de que a substituição de padrões alimentares tradicionais por ultraprocessados é um fator central no aumento global da carga de múltiplas doenças crônicas relacionadas à alimentação", apontam os cientistas responsáveis pelo estudo.

A produção do relatório global ainda indica que “a educação e a mudança de comportamento individual” seriam insuficientes para lidar com a questão dos ultraprocessados.

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Na China e na Coreia do Sul, por exemplo, a presença dos alimentos “prontos para consumo” triplicou em três décadas: de 3,5% para 10,4% (China) e de 12,9% para 32,6% (Coreia do Sul).

“A deterioração das dietas representa uma ameaça urgente à saúde pública, que exige políticas coordenadas e ações de defesa para regulamentar e reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e melhorar o acesso a alimentos frescos e minimamente processados”, aponta o estudo.

(Com Agência Brasil)