Autores de comentários pejorativos contra mulher com síndrome de Down são investigados

A família pede justiça e teme que a vítima, com síndrome de down em estágio pouco avançado, tenha depressão. Além de multa, os suspeitos podem ser presos

18:28 | Jan. 26, 2016

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A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o crime de injúria racial cometido contra uma mulher com síndrome de Down que foi alvo de comentários depreciativos nas redes sociais, em Quiexeramobim, 206,1 km de Fortaleza. A vítima teve uma foto de seu perfil pessoal no Facebook republicada por uma mulher, que apagou a conta após a repercussão.

A imagem de Maria Evangelista Brasil, 36, foi publicada na última terça-feira, 19, por uma mulher que ironizava comentários dos amigos e familiares da vítima. "Amizades verdadeiras assim não se encontra (sic) em qualquer esquina", escreveu a internauta, que ainda disse ofensas como "é a filha do Voldemort'' [personagem da saga Harry Potter] e "desde quando eles são lindos?".

O print da publicação, que recebeu vários comentários pejorativos de outros usuários, chegou ao conhecimento da família no início desta semana. A irmã de Maria Evangelista, a cabeleireira Rose Brasil, 34, registrou um Boletim de Ocorrência na última segunda-feira, 25. "A gente ficou pasma, com raiva. Agora minha irmã não quer sair de casa porque está com vergonha. Ela tem síndrome de Down, mas não em um estágio avançado. Também é mãe de uma adolescente de 16 anos, que lhe mostrou os comentários”, relata a irmã.

O delegado Salviano de Pádua, que investiga o caso, informou que também há outros internautas que estão sendo identificados. "São pessoas que chamam a vítima de feia, comparam a mulher com objetos estranhos. A pessoa que postou, além de quem comentou, poderá ser processada e responder pelo crime de injúria racial. Já temos perfis de usuários até de outros estados", explica o delegado.

[SAIBAMAIS 2] Segundo Salviano, os suspeitos devem responder pelo crime de injúria racial, que trata de ofensas com a utilização de elementos referentes a cor, etnia, religião ou condição de deficiência. "Além de multa, eles podem pegar até três anos de prisão em regime fechado", frisa.

Rose afirma que a família está revoltada e quer justiça, pois teme que a irmã tenha depressão. "Ela tem epilepsia e faz tratamento psiquiátrico. Chorou muito, até aumentamos a dosagem do remédio dela. Eu não sei nem o que pensar de uma pessoa que faz uma maldade dessa, esse tipo de gente não tem coração. E ainda moram aqui, mas não conhecemos", completa.

Suspeitos

O POVO Online procurou os internautas que aparecem nas imagens, mas nenhum dos perfis foi encontrado. Um áudio, supostamente gravado pelo marido da autora da publicação ofensiva, foi divulgado no aplicativo WhatsApp. Na gravação, ele alega que a imagem foi criada por outra pessoa e a mulher "não fazia a menor ideia'' de que a vítima fosse de Quixeramobim. ''A gente está servindo como bode expiatório [...] Estão me esculachando, expondo minha imagem [...] Isso sim dá processo”, defende.

O que diz a lei
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.
3º parágrafo Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.

O POVO Online não publica o nome dos autores dos comentários depreciativos porque eles ainda não foram indiciados.