Policiais militares escoltavam cargas de drogas e alertavam traficantes sobre as operações

A omissão ou atuação dos policiais militares sustentava os crimes dos traficantes. Oito suspeitos de participação no esquema ainda estão soltos

20:22 | Mai. 27, 2021

Montante superior a R$ 600 mil teria sido cobrado em apenas dois episódios (foto: Divulgação/MPCE)

Policiais militares investigados na 3ª fase da "Operação Gênesis", deflagrada na manhã desta quinta-feira, 27, davam suporte aos traficantes para que realizassem livremente o tráfico de drogas e de armas.  É o que aponta o Ministério Público do Ceará (MPCE). Ao todo, foram expedidos 21 mandados de prisão preventiva contra integrantes de facções, sendo que oito deles já estavam presos, e cinco contra agentes da segurança de Fortaleza e de Caucaia. Oito suspeitos de tráfico ainda estão soltos.

De acordo com o promotor de Justiça Adriano Saraiva, que integra o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (GAECO) do MPCE, nas duas primeiras fases da operação, foi descoberto um consórcio entre policiais civis, militares e traficantes, que se reuniam com a finalidade de extorquir outros traficantes. Já nesta terceira fase, a investigação identificou que as as ações dos suspeitos estavam mais organizadas, e os policiais operavam dando suporte aos traficantes. 

"Eles davam todo o tipo de suporte para que esses traficantes realizassem livremente o tráfico de drogas e de armas sem serem abordados pela Polícia. Muitas vezes, eles faziam a escolta da droga para os traficantes e passavam informações de eventuais operações que a Polícia fosse fazer no Bom Jardim e nas adjacências", explica Adriano Saraiva.

A primeira e a segunda fase da "Operação Gênesis" foram deflagradas, respectivamente, em setembro e em outubro de 2020. Na época, os policiais, junto com outros traficantes, escolhiam os alvos baseados nos antecedentes criminais e no poder aquisitivo deles e simulavam uma compra de droga ou de arma com um dos traficantes. Tudo era previamente combinado, e os policiais chegavam ao local onde o traficante estaria simulando a compra,"para dar ares de legalidade à abordagem".

O criminoso que estava sendo abordado pelos policiais e pelo comparsa traficante era preso e, no momento daquela prisão, os policiais, juntamente com os outros traficantes, extorquiam esse alvo. Após a liberação do dinheiro da propina, tanto os traficantes quanto os policiais da organização criminosa revendiam os bens apreendidos e dividiam o dinheiro. Somente na segunda fase da operação, a investigação aponta que foram movimentados R$ 2 milhões em um período de sete meses. 

Agora, as ações estavam mais estruturadas, e o modus operandi da organização criminosa era diferente. Nessa fase, a função dos policiais era dar proteção a esses traficantes, visto que já existia uma organização criminosa própria com suas lideranças. Essa organização tinha um vínculo com uma facção de atuação nacional e internacional.

O promotor acrescenta ainda que um dos policiais, que exercia uma certa influência sobre os outros, emprestava dinheiro para que o traficante líder da organização criminosa comprasse a droga para ser vendida no bairro. A lavagem de dinheiro desse líder era feita em um posto de gasolina. "Pedimos o sequestro do posto de gasolina onde era lavado o dinheiro e o bloqueio das contas bancárias", acrescenta o promotor. 

O homem apontado como líder da organização criminosa já estava preso há mais de dois anos. Ele mantinha o esquema de lavagem por meio de laranjas. Segundo o MPCE, a investigação começou no fim do ano de 2016.

A 3ª fase da "Operação Gênesis" contou com o apoio da Coordenadoria Integrada de Planejamento Operacional (COPOL), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado (SAP).