44% da água potável do Ceará é desperdiçada, aponta estudo

Apenas um a cada quatro cearenses vive com coleta de esgoto; cerca de 40% da população do Estado não tem acesso à água potável

19:16 | Jun. 05, 2020

A perda de água por vazamentos é um dos casos contabilizado pelo estudo. (foto: Cecília Bastos/Usp Imagem)

Um total de 44% da água potável do Ceará foi desperdiçada em 2018, de acordo com estudo do Instituto Trata Brasil divulgado nessa quinta-feira, 4. Essa porcentagem não chega de forma oficial a ninguém: se perdem em vazamentos, roubos ("gatos"), fraudes, erros de leitura dos hidrômetros, entre outros problemas.

A média cearense é ainda superior à nacional, que registrou 39% de perdas. Considerando todo o território brasileiro, a perda de faturamento decorrente da água desperdiçada foi de R$ 12 bilhões, valor equivalente aos recursos investidos em água e esgotos no Brasil no mesmo ano. Além disso, houve um aumento do prejuízo de cerca de 25% em relação a 2015 — nesse ano, foram perdidos R$ 9,8 bilhões.

Dos estados com piores índices, apenas três não são do Norte ou Nordeste do País. (Foto: Divulgação/Instituto Trata Brasil)

O presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, argumenta que há elementos para que o cenário fosse diferente. “É desanimador ver que, mesmo importantes regiões do país tendo sofrido crises hídricas recentes, as autoridades e empresas operadoras continuam não priorizando o combate às perdas de água potável. Estamos tirando mais água da natureza, não para atender as pessoas, mas para compensar a ineficiência do setor", ponderou.

O desperdício de água acontece de forma diferente nas regiões do País. Norte e Nordeste lideram o ranking, com índices de 55% e 46% de perda, respectivamente. Já a região com menor taxa de desperdício é o Sudeste, com 35%. Em relação ao cenário global, o Brasil é o oitavo país que mais desperdiça água potável.

Mais da metade da água potável captada na região Norte não chega oficialmente á população. (Foto: Divulgação/Instituto Trata Brasil)

Para Pedro Scazufca, pesquisador do Instituto Trata Brasil, uma alternativa para que as perdas sejam reduzidas é ter uma maior participação da iniciativa privada na gestão da área. Ele citou, por exemplo, a possibilidade de que sejam celebrados contratos de performance, que condicionam a remuneração de acordo com os resultados obtidos.

O especialista ressaltou ainda que esse investimento inicial para conter perdas será compensado ao longo dos anos. De acordo com estimativa do Instituto, o Brasil terá ganho líquido de até R$ 39 bilhões até 2033 se adotar as medidas mais adequadas.

No Ceará, 41% da população não tem acesso à água potável, de acordo com dados de 2018 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Além disso, 75% dos cearenses vivem sem coleta de esgoto: a porcentagem equivale a mais de 6,5 milhões de pessoas.

O POVO entrou em contato com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), responsável pela gestão da água no Estado, e aguarda resposta.

Sobre o Instituto Trata Brasil

O Instituto Trata Brasil é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), formada por empresas com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. Atua desde 2007 com objetivo de que o cidadão seja informado e reivindique a universalização do “serviço mais básico, essencial para qualquer nação: o saneamento básico”.