"Não temos outros caminhos a não ser a luta", diz membro da direção estadual do MST sobre ocupação do Incra

Conforme a direção estadual do movimento, a desocupação do espaço depende do cenário nacional, cuja pauta principal é o fortalecimento do Incra

22:51 | Mar. 09, 2020

MST ocupa sede do Incra no Ceará, em agenda nacional (foto: DEÍSA GARCÊZ/Especial para O POVO)

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocupa, desde a manhã desta segunda-feira, 9, a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Ceará. Conforme a direção estadual do movimento, a desocupação do espaço depende do cenário nacional, cuja pauta principal é o fortalecimento do Incra.

Conforme Gene Santos, membro da direção estadual do MST, o sucateamento do Incra tem prejudicado a agricultura familiar, visto que o órgão cumpre função importante na reforma agrária. "Sucateado ao ponto dos funcionários não terem nem como chegar ao assentamento. Tem assentamento que está com 3, 4 anos, que um técnico do Incra andou. Não tem recurso para fazer vistoria, não tem recurso para fazer emissão de posse, nem para infraestrutura. Portanto, a gente acredita que é necessário fortalecer o Incra e retomar uma política de reforma agrária que valorize principalmente a nossa agricultura camponesa", argumentou.

O atual governo federal foi criticado e apontado como o "pior governo em toda a história do Brasil para a reforma agrária". A ocupação também criticou a privatização de terras do assentamento. "No Brasil são mais de 80 mil famílias acampadas; no Ceará são mais de três mil famílias. Nós acreditamos que o papel do Incra é realmente fazer a reforma agrária e não ficar perseguindo os movimentos sociais como tem sido", disse Gene.

Na ocupação, além dos representantes do MST, também participam o Levante Popular da Juventude e o Movimento dos Atingidos por Barragens, somando cerca de 700 pessoas. No local que serve de acampamento há uma grande quantidade de bolsas, malas, redes, colchonetes e barracas, além de diversos espaços que estão sendo utilizados para estender toalhas. Com estes itens e os alimentos armazenados, o movimento afirma que não há previsão de finalização da ocupação.

Membro de um assentamento no município de Santa Quitéria, distante cerca de 222 quilômetros de Fortaleza, Valdemir Mesquita reforçou, além da importância da reforma agrária, a participação de jovens e valorização do papel da mulher na mão de obra brasileira. "A gente está aqui fazendo essas solicitações, buscando melhorias também para a juventude, para que a gente tenha o nosso jovem lá no campo produzindo também de forma ecológica; para as nossas mulheres, que também não recebe investimento em nenhum trabalho junto as mulheres".

Valdemir afirmou que não há tempo determinado para permanecer na sede do Incra. "A gente tem a nossa pauta para ser resolvida junto ao superintendente. Se for necessário permanecer aqui por uma semana ou duas, estamos preparados. Estamos firmes e não vamos desistir jamais", concluiu.

Gene Santos fez coro a Valdemir ao confirmar que a ocupação permanece até que a pauta nacional seja atendida. "Nós não temos outros caminhos a não ser a luta. É o que a gente sabe fazer. Se organizar para poder reivindicar os direitos dos trabalhadores, daquele que realmente faz os movimentos no Brasil", explicou.

Segundo o representante do MST Ceará, mais de 70% de todo alimento que vai para a mesa do povo brasileiro atualmente é produzido pela agricultura familiar camponesa, por isso a importância de respeito a esse público produtor. "Portanto, a gente acha que a nossa luta é no sentido de garantir que a reforma agrária realmente saia do papel. Nós estamos discutindo, além da desapropriação de terra, também a infraestrutura para assentamento, de estrada, de escola, de acesso ao desenvolvimento. A gente tá nessa luta para garantir a segurança hídrica, também. Desde a perfuração de poço profundo até barragem".

Conforme as lideranças do movimento, uma reunião com o superintendente do Incra estava marcada para acontecer na tarde desta segunda-feira, 9, quando as pautas seriam apresentadas oficialmente. O POVO foi até o gabinete da superintendência, onde nenhuma declaração oficial foi obtida. Somente após a reunião, com o conhecimento das solicitações dos manifestantes, um posicionamento do órgão seria divulgado.