Mineira escravizada por 38 anos tinha pensão de R$ 8 mil usada por família

Madalena Gordiano, que foi resgatada em novembro, teve casamento de fachada com tio de Valdirene Lopes da Costa, esposa de Dalton César Milagres Rigueira; casal é suspeito de manter Madalena em cativeiro, sem salário ou direitos trabalhistas, e controlava o dinheiro da pensão

21:46 | Jan. 03, 2021

Maria das Graças Rigueira (esquerda), Dalton César Milagres Rigueira (centro) e Valdirene Lopes da Costa (direita) são acusados de controlar pensão de R$ 8,4 mil a que Madalena Gordiano tem direito; trio é suspeito de ter mantido Madalena em condições análogas à de escravidão por 38 anos (foto: Reprodução/Rede Globo)

Madalena Gordiano, a mineira que foi resgatada em novembro de condições análogas à escravidão em Patos de Minas (MG), tem direito à pensão de cerca de R$ 8,4 mil, mas nunca recebeu o dinheiro. Os pagamentos, referentes a um casamento de fachada com um ex-militar, eram controlados pelo professor universitário Dalton César Milagres Rigueira, suspeito de manter Madalena em cativeiro. As informações são do Uol.

Em 2001, Maria das Graças Rigueira, mãe de Dalton, organizou o falso casamento com Marino Lopes da Costa, tio da esposa do professor. Em 2008, a união entre os dois chegou a ser alvo de denúncia, mas o processo foi extinto em 2015 por falta de provas.

Marino, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, estava com a saúde debilitada e morreu em 2003, aos 80 anos. Madalena, que nunca morou com o esposo, passou a ter direito a duas pensões, totalizando mais de R$ 8 mil por mês, mas nunca teve controle do dinheiro.

Inicialmente, os valores ficavam nas mãos de Maria das Graças, e foram usados para pagar o curso superior da filha dela, Vanessa Maria Milagres Rigueira. Ela se formou em 2007 pela Faculdade de Medicina de Petrópolis - em 2019, o valor da mensalidade na instituição era de R$ 7.350.

Perto da formatura de Vanessa, Dalton passou a ser o responsável pelo dinheiro. À época, ele foi contratado como professor universitário em Patos de Minas, com salário de R$ 10 mil. Ao Ministério Público do Trabalho (MPT), ele informou receber o salário de professor e R$ 1,3 mil pelo aluguel de dois imóveis. O MPT, no entanto, entende que a renda da família, considerando as informações de Dalton, é incompatível com o patrimônio declarado: além de um apartamento na área nobre da cidade, com parcelas de R$ 1,7 mil, Dalton também paga a faculdade das duas filhas - uma delas estudante de Medicina, em instituição cuja mensalidade é de R$ 6,8 mil.

Além de controlar o dinheiro da pensão de Madalena, a família Milagres Rigueira é suspeita de ter cometido fraudes financeiras. Dalton teria realizado empréstimos consignados no nome de Madalena, dos quais ainda restam cerca de R$ 18 mil em dívidas. A esposa Valdirene e a filhas do casal, por sua vez, solicitaram o auxílio emergencial e, mesmo com renda familiar oficial acima de R$ 11 mil, receberam cada uma R$ 3.300: as cinco parcelas de R$ 600 e uma de R$ 300.