Mulher de miliciano é policial civil e trabalhava em delegacia que investiga quadrilha

A inspetora, hoje lotada na 43ª DP (Guaratiba), unidade responsável por outra área sob domínio da milícia, é alvo de investigação

13:42 | Ago. 12, 2020

O capitão da PM Leonardo Magalhães Gomes da Silva é acusado de chefiar milícia de Vargem Grande, no Rio de Janeiro (foto: Divulgação)

A mulher do PM Leonardo Magalhães Gomes da Silva, preso acusado de ser o chefe do grupo paramilitar, é inspetora da Policia Civil e trabalhava na delegacia que deveria investigar a quadrilha do marido, a 42ª Delegacia Policial, em Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. A delegacia é responsável por investigar crimes nos dois bairros sob domínio da quadrilha. A inspetora está no local desde outubro de 2019, o que coincide na época que a milicia do marido se consolidou na capital fluminense.

Hoje lotada na 43ª DP (Guaratiba), unidade responsável por outra área sob domínio da milícia, a policial é alvo de investigação. Ela foi achada por meio de interceptações telefônicas incluídas nas investigações da Delegacia de Homicídios (DH) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio.

O nome da policial foi citado por comparsas de Leonardo em duas ligações diferentes. Na ligação de julho de 2019, uma mulher pergunta a um dos gerentes da milícia, “qual o nome da mulher do capitão” e ele responde com o nome da inspetora. O motivo seria porque uma amiga da fonte teria que comparecer à delegacia em que a mulher do miliciano trabalhava. As informações são do Jornal Extra.

Já na outra ligação, em junho de 2019, Gabriel da Silva Alves, o Biel, mais um apontado como gerente da milícia, explica ao interlocutor que o capitão iria se atrasar para um encontro do grupo porque a inspetora “está passando mal”, se referindo à mulher pelo nome.

Em uma terceira ligação, há indicação de pagamento de propina, pelos milicianos, a agentes da 42ª DP. Na ocasião, em outubro do ano passado, Biel havia sido detido e levado à unidade. Um membro da milicia dá a entender que os policiais exigiram a quantia de R$ 6 mil para liberar Biel. “Eles estão esperando o capitão trazer o dinheiro”, disse o homem. De acordo com a denúncia do Gaeco contra o grupo, Biel pagou a quantia para se livrar da autuação e o dinheiro teria sido entregue pelo capitão.

As interceptações telefônicas, feitas de maio a outubro do passado, culminaram na Operação Porto Firme, que levou à prisão de 14 milicianos, entre ele o capitão. De acordo com a denúncia, o grupo paramilitar explorava a venda de drogas na região. A investigação também identificou seis assassinatos cometidos por integrantes do grupo nos últimos dois anos.

Referências a 'Bolsonaro'

Segundo a denúncia do MP, o capitão Leonardo Silva, além de comandar todas as ações do milícia, também era responsável por viabilizar o pagamento de propinas a outros PMs para evitar prisões dos integrantes do grupo. De acordo com o Ministério Público, seus comparsas se referiam a Leonardo, em ligações telefônicas, como “Bolsonaro”.

Na Polícia Militar, o oficial era responsável por fiscalizar gastos da corporação. Duas semanas antes de ser preso, Silva era gestor de contratos da Diretoria de Transporte (DT). Sua atribuição era supervisionar contratos das oficinas mecânicas credenciadas pela PM para a manutenção de viaturas.