Virologista da Fiocruz alerta para potencial pandêmico de vírus encontrado no Paraná

As condições para a gripe apresentadas no Brasil demandam uma atenção especial para o vírus, que pode sofrer mutação genética a partir de infecção de porcos

18:14 | Jul. 27, 2020

(foto: Peggy Choucair/Pixabay)

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estuda nova variante do vírus influenza descoberta no Paraná e com potencial pandêmico. Por meio de amostrar de pacientes, a instituição busca encontrar casos da H1N2. Serão cerca de 3 mil amostras analisadas, coletadas de moradores de Ibiporã e Londrina que apresentavam doença respiratória. As informações são do O Globo.

Segundo a virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), ao O Globo, o termo "potencial pandêmico" é usado devido ao poder de contágio do vírus influenza e porque quando um novo vírus surge, a população não possui a imunidade necessária. Ele se estende a todos os vírus de contágio por via aérea.

Transmitida de porcos para seres humanos, ela já foi encontrada mais de 25 vezes desde 2005. Entretanto, a amostra encontrada em Ibiporã, no Paraná, é diferente das outras. A pesquisa busca entender a capacidade de transmissão e, assim, vigiar o vírus. Já é possível saber que ele é genomicamente diferente dos outros, entretanto, não há como classificar se ele representa mais ou menos riscos. A busca de novos casos se torna importante por conta disso.

De acordo com os indícios encontrados, ele não passa de uma pessoa para a outra e há dificuldade para transmissão de porcos para seres humanos. É preciso que ele passe por mutações que deem a capacidade de transmissão com eficiência entre humanos.

"Não são eventos comuns, mas são eventos possíveis, que já ocorreram várias vezes na história, a mais recente agora. Precisamos manter vigilância intensa e constante porque as pandemias de H1N1 e do coronavírus Sars-CoV-2 deixam mais do que evidente como vírus respiratórios podem ser devastadores. Então, precisam ser detectados e contidos no início", afirma Marilda Siqueira.

Segundo a virologista, o potencial pandêmico do vírus influenza e coronavírus é semelhante, entretanto, um fator distancia os dois: já é possível manufaturar vacina contra influenza, o que ajudaria a desenvolver imunização adequada. Mesmo que a imunidade não seja duradoura, seria o bastante para evitar uma pandemia.

Ela afirma que as condições para a gripe apresentadas no Brasil demandam uma atenção especial para o vírus. "Temos todas as condições para a gripe. Temos uma grande população; temos aves migratórias, as maiores carregadoras mundiais de vírus influenza; e temos um imenso rebanho suíno (o Brasil é o quarto maior produtor e exportador do mundo de porcos)", diz.

Marilda alerta para o perigo da mutação do vírus.

"A ave carrega o vírus pelo planeta. Mas é no porco que o vírus influenza “rearranja” o seu genoma. Os suínos são pequenas fábricas de vírus, que se adapta muito bem a eles. O genoma do influenza é particularmente suscetível a essas rearranjos, que levam a mutações. Volta e meia uma delas permite que esses vírus ganhem a capacidade de “pular” de espécies. Foi o que aconteceu em Ibiporã. A moça infectada trabalhava num matadouro. É assim que essas gripes emergem. E não foi a primeira vez", pontua.

Marilda lembra que o Brasil precisa sempre estar em alerta. "Uma outra variante desse mesmo H1N2 foi encontrada também em trabalhadores de um matadouro de suínos no Paraná, porque reúne uma grande quantidade de pessoas e suínos ou carcaças", finaliza.