Com "Parabéns pra você", vítima de incêndio é enterrada no dia em que faria 15 anos

O cemitério ficou lotado de adolescentes aos prantos e trajados de camisas rubro-negras para se despedir do zagueiro Arthur Vinícius da Silva

18:39 | Fev. 09, 2019

Arthur Vinícius completaria 15 anos neste sábado, 9(foto: (Foto: Reprodução Facebook))>

Ao som do hino do Flamengo, palmas e de "Parabéns pra você", familiares, amigos e colegas enterraram neste sábado a primeira vítima do incêndio do alojamento do CT Ninho do Urubu. O cemitério Portal da Saudade, em Volta Redonda, a cerca de 120 km do Rio de Janeiro, ficou lotado de adolescentes aos prantos e trajados de camisas rubro-negras para se despedir do zagueiro Arthur Vinícius da Silva, enterrado no dia em que completaria 15 anos.

O defensor foi uma das dez vítimas da tragédia desta sexta-feira. O garoto foi levado para a cidade natal, onde atraiu mais de 500 pessoas durante as duas horas de velório. Também estiveram presentes o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o prefeito da cidade, Samuca Silva, que mais cedo inauguraram uma pista de atletismo em Volta Redonda e decidiram batizar a estrutura com o nome do garoto.

Arthur Vinícius deixaria o alojamento do Flamengo na quinta-feira, 7, para poder comemorar o aniversário, mas decidiu ficar mais um dia para participar de um jogo no Maracanã. "Como jogador, ele era ótimo. Nós, da família, estávamos preparando uma festa de aniversário para ele. O Arthur vivia um sonho e tinha muito futuro pela frente", disse o tio do garoto, Anderson Pereira, o Andinho, ex-jogador do Volta Redonda.

O corpo chegou ao cemitério por volta das 14 horas e foi velado até 16h40min. Amigos de escola e ex-colegas de futebol, todos na faixa dos 15 anos, eram a maior parte do público do enterro. Devido ao forte calor, algumas pessoas chegaram a passar mal. Um dos mais comovidos era o atacante da base do Flamengo, Guilherme Quintino, de 16 anos, que era conhecia o zagueiro há sete anos.

"A gente se conheceu em Volta Redonda e depois ele foi morar com a minha família, lá no Rio. Ele ficou um ano em casa, até fazer 14 anos e poder morar no alojamento do Flamengo. A gente era só risada. Como eu sou filho único, o Arthur era um irmão para mim", comentou Quintino, que contou ser o responsável por colocar em Arthur o apelido de "Bigode".

Bastante abalada, a mãe do garoto, Marília Silva, ficou o tempo todo ao lado do caixão, que foi pintado na cor branca e decorado com a foto do garoto. Na despedida, ela puxou o hino do Flamengo e se emocionou quando colegas de escola bateram palmas e cantaram para marcar a data que seria o 15º aniversário do garoto.

Talento e esperança

O técnico de futsal Felipe Araújo treinou Arthur dos seis aos 13 anos e explicou que o garoto era a esperança da família mudar de vida. "O pai dele foi assassinado anos atrás e a mãe não tinha condições de manter o garoto no Rio. Por isso, ele foi morar no Flamengo e estava orgulhoso de ter conseguido essa oportunidade. Uma pena que isso acabou por causar a morte dele", comentou.

O pai de Arthur foi assassinado há dez anos, na frente do filho. O zagueiro da base do Flamengo tinha como um dos amigos da família o volante Felipe Melo, do Palmeiras, que é de Volta Redonda e chegou a escrever nesta sexta-feira, 8, uma mensagem em homenagem ao garoto.

"Ele vivia um sonho"

A dona de casa Marília Barros se preparava para neste sábado, 9, receber o filho em Volta Redonda para a festa de 15 anos. Porém Arthur Vinícius foi para a cidade natal para ser sepultado.

Apesar da tristeza, o sentimento mais forte da mãe durante a despedida era o orgulho. "Meu filho morreu feliz porque vivia um sonho. Ele dizia que se sentia bem no Flamengo. Era onde ele queria jogar. Ele até fez teste no Atlético-MG, mas era flamenguista", afirmou a mãe.

Arthur Vinícius esteve com Marília dias atrás e teve como uma das últimas conversas acertar detalhes da festa de aniversário. O garoto foi enterrado no cemitério Portal da Saudade com o público cantando o hino do Flamengo e "Parabéns pra você".

Marília disse que não queria apontar a responsabilidade pelo incêndio no Ninho do Urubu e contou que prefere ter na memória os momentos com o único filho em vez da indignação pela tragédia. "Não sei como será minha vida sem ele, seu meu rei Arthur. Ele era um garoto determinado. Encarou morar sozinho no Rio. Quando ele era criança, eu o levava para tudo. Mas depois ele ficou independente", contou.

A própria escolha do nome tem ligação com o Flamengo. A família da mãe é torcedora do clube. "Eu escolhi Arthur por causa do Zico. O pai dele era botafoguense e quis colocar também Vinícius. Fico tranquila porque fiz meu papel como mãe. Meu filho era um garoto sensacional", comentou.