Mulher e dois adolescentes são capturados por agredir travesti no Vila Velha

Três pessoas ainda seguem foragidas: dois acusados de participarem do espancamento e a suposta mandante do crime

13:53 | Dez. 19, 2019

Investigação conduzida pelo 17º Distrito Policial (DP) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) identificou seis pessoas envolvidas na agressão contra um travesti de 16 anos no bairro Vila Velha,  em Fortaleza, no dia 29 de novembro. Uma mulher e dois adolescentes foram capturados e outras três pessoas continuam foragidas. Segundo os investigados, a vítima teria sido agredida por praticar roubos na região. No entanto, a Polícia não identificou indícios que comprovem essa declaração.

Segundo o titular do 17º DP, Carlos Eduardo Silva, a Polícia só tomou conhecimento do crime após o vídeo do espancamento ter sido compartilhado nas redes sociais e publicado pela imprensa. A vítima sentiu medo de retaliação e acabou não registrando o Boletim de Ocorrência (B.O.). As investigações só começaram no dia 2 de dezembro. Foram ouvidas 16 pessoas entre suspeitos, comerciantes do entorno do local do crime e conhecidos da travesti.

De acordo com a Polícia, os suspeitos Kevin de Oliveira da Silva, 19, e Robert Wanderson Araújo Bezerra, 27, participaram ativamente do espancamento e confessaram participação no crime em depoimento. Eles já tinham antecedentes criminais por receptação e roubo, respectivamente. Ana Vitória da Silva Guimarães, 20, responsável por registrar a ação em vídeo, incitou a violência contra a vítima e impediu que ela fugisse da agressão. Ela também confessou. Os adolescentes apreendidos são suspeitos de participarem do espancamento. 

Como a investigação começou alguns dias depois do ocorrido, mesmo confessando, Kevin e Robert não puderam ser presos em flagrante. Assim, quando a Polícia conseguiu prender Ana Vitória a partir de um mandado, Kevin e Robert conseguiram fugir após prestarem depoimento. Eles ainda estão foragidos e seguem sendo procurados.

A pessoa apontada como mandante do crime, Joelma Moura de Lima, também está foragida. Conhecida na região como "Lôra", ela teria oferecido uma quantia de R$ 100 para cada um dos jovens bater na vítima. Ana Vitória foi a única que não recebeu o dinheiro. De acordo com o delegado, a mulher seria motivada por estar incomodada com a presença da travesti em um ponto de prostituição do qual Joelma se considerava a dona. Além de organizar o ataque, Joelma participou da tortura e foi reconhecida no vídeo divulgado.

Motivação por homofobia não é descartada

Enquanto a tortura acontecia, a vítima foi chamada de “viado”. O uso dessa palavra por parte dos agressores será investigada pela Polícia. A homofobia não foi descartada como uma das motivações do crime. “O uso desse termo pejorativo atenta contra a dignidade dessa população”, diz o delegado.

Devido a situação de vulnerabilidade da adolescente, o Centro de Referência LGBT Janaína Dutra se comprometeu a acompanhar o caso. De acordo com Carlos Eduardo, na segunda-feira, 23, a vítima será levada para uma reunião com os responsáveis pelo Centro. Há possibilidade de ela conseguir apoio psicológico por meio da instituição.