Guálter George, editor-executivo de Conjuntura

Uma vitória, é inegável, mas não convém ao presidente Michel Temer comemorá-la além do que a realidade permite enxergar. Há timidez nos 264 votos de apoio que a forte articulação dos últimos dias permitiu obter, apesar de em números frios serem muito mais do que os 227 que queriam autorizar o STF a investigar o peemedebista hoje ocupando o gabinete principal do Palácio do Planalto. Na matemática própria da política seria necessário um resultado pró-governo muito mais expressivo, superior à casa dos 300 votos, para ser capaz de impressionar. Até pelo fato de a sessão histórica de ontem ter deixado problemas que exigirão uma delicada e eficiente administração ao longo dos próximos dias. A começar por uma rebeldia preocupante do aliado que ainda oferece algum verniz de qualidade à base partidária formada em torno do arco que sustenta Temer no Congresso, no caso, o PSDB. Sem os tucanos, que têm sinalizado uma intenção de desembarque reforçada na orientação da liderança pelo voto favorável à investigação, o governo arrisca perder uma consistência que somente poderia ser compensada por uma força de números incontestáveis e capazes, no âmbito do parlamento, de sugerir vida tranquila à agenda de seu interesse. É justo que o presidente peemedebista e seus articuladores tenham dormido aliviados na noite passada, embora demonstre-se necessário também que entre eles haja consciência de que os novos desafios exigirão muito mais nos próximos dias. É só lembrar da inevitável chegada breve à Câmara de mais uma denúncia nascida das delações dos irmãos da JBS. Ou seja, vai começar tudo de novo e com uma base que se pode considerar realmente fiel muito menor.