Respeitem a Constituição, é sempre melhor
Um voo abatido em plena decolagem. Uma largada queimada. As imagens são várias para traduzir o agravamento da crise política nesta fase ainda tão incipiente de retomada da economia. O ânimo advindo daquele 1% de crescimento no trimestre, conforme indicador do Banco Central divulgado esta semana, deu lugar à incertezas antigas, dos piores momentos do finado Governo Dilma.
A despeito das resistências naturais e de profissionais da resistência, o País avançava com a Reforma Trabalhista e com a Reforma da Previdência; debatia de quanto deveria ser a redução da Taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom); por onde deveriam seguir as concessões públicas - fundamentais para melhorar a produtividade brasileira - e tantas outras agendas de quem voltou a ter agenda.
Agora, como uma avaria grave no motor ou um cronômetro zerado – para usar duas imagens da primeira linha -discute quem será o presidente da República. A esta hora da noite de quinta (trocadilhos à parte) o debate involuiu. Selic nem se sabe se a Autoridade Monetária poderá se dar ao luxo de cortar, concessões de ativos viraram assunto secundário (e afinal que empresa se interessaria por investir em um País com ambiente tão movediço?) e (neste momento) tampouco sabemos se o presidente cai ou não cai.
Em verdade, está a acontecer o que os mais céticos temiam ainda quando dos estertores da Era Dilma, com o impeachment galopando no Congresso e Temer engomando a calça: o aviso de que um Governo ajambrado nos membros inferiores enfrentaria imensa dificuldade para empunhar as reformas com tantos membros, digamos, inferiores a compor o time. Justiça seja feita, afora o que têm feito as diversas instâncias, da 1ª ao STF: Temer conseguiu fazer muito. Em boa medida pela qualidade de sua equipe econômica.
Até aqui, de modo surpreendente, o Governo avançou com temas polêmicos. A PEC do Teto dos Gastos foi um marco. Mas foi só um início. Estabeleceu racionalidade nos gastos. Afora os Joesleys e afins, o Governo Temer (não necessariamente o presidente) tinha a torcida de quem acredita que a economia não se sustenta na aba do chapéu público. Neste rol incluídos todos os potenciais candidatos em 2018, ávidos por herdar o serviço pesado já feito. Sem exceção. Mas o Governo Temer derrete ao sol.
Involuimos. O País debate hoje a tese das “Diretas Já”. Não parece ser boa ideia. A referida proposta une gente bem intencionada e útil, o arroubo juvenil e uma estratégia partidária de fazer o indiciado Lula candidato já. Sim, involução já. A Carta é bem clara. E como acreditar no futuro da nação sem respeitá-la?
Jocélio Leal
Editor executivo do núcleo de negócios
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