PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

JBS terá multa em 10 vezes e não haverá denúncia

2017-05-20 01:30:00
NULL
NULL
[FOTO1]

Logo nas primeiras falas de sua delação, Joesley Batista descreve motivação pouco convincente para ter resolvido contar tudo - do que bancava e sabia. Teria descoberto o “pagamento de propina” durante uma “auditoria interna” em suas empresas, coisa “de 10, 15 anos até a data atual”, muito mais recorrente nos últimos cinco anos.

[SAIBAMAIS]

Os beneficiários do dinheiro sujo distribuído pela JBS eram “senadores, deputados federais, presidentes da República e outros agentes públicos”.


Os acionados para a deduragem da JBS formam uma lista de nomes pouco comuns. São os irmãos Joesley e Wesley Batista, Demilton Antônio, Francisco de Assis, Valdir Boni, Ricardo Saud, Florisvaldo Caetano. Os controladores e seus homens de confiança, do conglomerado surgido em Goiás, que reúne Friboi e Seara e hoje é a maior empresa de carnes do mundo.


Da gravidade dos fatos nada republicanos que vêm sendo revelados desde a última quarta-feira, 17, a “punição” pareceu branda. Eles nem sequer serão denunciados à Justiça. Como parte do acordo com o Ministério Público Federal (MPF), à empresa bastará quitar a multa de R$ 110 milhões. Valor a ser pago em dez prestações, o primeiro “boleto” apenas para 1º de junho de 2018. Vale comparar que, só na conta da propina exibida por Joesley, teriam sido R$ 600 milhões liberados ao senhorio da República.

[FOTO2]

Além de tratar bem o parlamento e no convívio dadivoso com o Executivo, o dono da JBS também cortejava gente do Judiciário e do Ministério Público. Joesley sabia que o resultado das operações Greenfield, Cui Bono e Sépsis estava no encalço de sua empresa. Num trecho da delação, o empresário conta que um advogado seu, Willer Tomaz, intermediava contatos com o procurador da República Ângelo Goulart.


“O perigo que é...”


Era Goulart quem conseguia vazamentos importantes de investigações do MPF. Joesley pagava muito bem por isso: R$ 50 mil por mês ao procurador, através de Willer. Goulart teria até obtido informações de dentro da blindada força-tarefa da Lava Jato. Neste momento da delação, o dono da JBS até se declara preocupado “em face do perigo que é ter um procurador como esse dentro de uma força-tarefa”.


Diz até que teria sido esse um dos motivos que o levaram a procurar a Procuradoria para a delação. O procurador Goulart e o advogado Willer acabaram presos na última quarta-feira.


O detalhamento da delacão da JBS vai embrulhando o estômago e mostrando que praticamente não havia escolhidos a serem corrompidos. Praticamente bastava que os interessados se apresentassem.


O documento de 181 páginas expõe, como supostos beneficiados, de Michel Temer, presidente da República até o fechamento desta edição, ao ex-governador do Ceará Cid Gomes e o presidente do Senado, Eunício Oliveira; do ex-deputado Eduardo Cunha e o senador Aécio Neves a doleiros e operadores de fundos de pensão.


De desimportantes a graúdos políticos como os ex-presidentes Lula e Dilma.

A lista dedurada por Joesley e seu pessoal não faz nenhuma distinção por cor e sigla partidárias.


O pessoal da JBS completou as horas de falação aos procuradores federais com mais cinco pendrives e suas planilhas anexadas de beneficiários da propina. Todos os citados têm negado o dinheiro recebido ou nem se manifestado publicamente.


A diferença em relação à lista da Odebrecht, por exemplo, é que ninguém estava apelidado. Tanta propina talvez ajude a entender a conta que fez a JBS saltar de um faturamento de R$ 4 bilhões/ano, em 2006, para R$ 170 bilhões em 2016.

 

Saiba mais


Acordo de leniência


O Ministério Público Federal (MPF) informou ontem que até o momento não foi fechado o acordo de leniência com o Grupo J&F e que está defendendo que a empresa pague o valor de R$ 11,169 bilhões no prazo de 10 anos.


Segundo o MPF, os representantes da J&F propuseram pagar apenas R$ 1 bilhão e que, diante da divergência em relação ao valor a ser pago, estabeleceu o prazo até as 23h59 desta sexta-feira para que o grupo responda se aceitará o valor sugerido.

 

TAGS