Plínio Bortolotti, jornalista do O POVO

A greve geral, levada a cabo ontem, é mais um cavalete na corrida de obstáculos na qual se transformaram as reformas trabalhista e - principalmente - a previdenciária. Esta, virou assunto nos almoços familiares de domingo, todos contra, e quando isso acontece é sinal de estrada perigosa à frente, ou pior, de rua sem saída.

Ainda que críticos possam dizer que a greve foi pouco representativa, o movimento deu um recado vigoroso ao governo Temer. E, certamente, isso será levado em conta pelos deputados e senadores na hora do voto. Por isso o governo já cogita novo adiamento na reforma da Previdência, pois ainda não tem o cabalístico número de 308 votos na Câmara para aprová-la.

Quanto à reforma trabalhista, já votada na Câmara, segue agora para o Senado, sendo, teoricamente de mais fácil aprovação, pois precisa apenas de maioria simples. No entanto, pode esbarrar no líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros que, estranhando antigos aliados, já avisou que “reforma mal feita” não passa por ali. E ainda emendou discurso típico dos mais ferrenhos opositores da medida, dizendo que a reforma “só interessa à banca, ao sistema financeiro”. Imaginem, portanto, o que ele deve estar preparando para a reforma da Previdência.

Há outro ponto a considerar: o movimento conseguiu inédito acordo entre todas as centrais sindicais brasileiras, incluindo a Força Sindical, próxima do governo Temer. Além disso, deixou de ser um protesto somente de “sindicalistas” e ganhou apoio de setores importantes da sociedade, como a igreja católica e alguns ramos das religiões evangélicas. Nas palavras de dom Leonardo Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), “reformas de tamanha importância não podem ser conduzidas sem um amplo debate”.

Mas o governo Temer corre do debate, como o diabo foge da cruz. Com 4% de popularidade e o “mercado” em seu encalço, o que ele menos quer é conversa. O negócio é ligar o trator.