PUBLICIDADE
Jornal

Bolsonaro, o agente do caos

21/03/2019 02:39:00
Plínio Bortolotti
plinio@opovo.com.br
Jornalista do O POVO
Plínio Bortolotti plinio@opovo.com.br Jornalista do O POVO (Foto: O POVO)

Em artigo publicado recentemente em meu blog, concluí afirmando que, por vezes, tinha a impressão que Bolsonaro não queria, de fato, governar. Ele seria uma espécie de Coringa, do Batman, um agente do caos, que somente se realizaria reinando sobre os escombros. Como diz o arquivilão: "Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos. E sabe, a chave do caos é o medo!".

O próprio Bolsonaro acabou confirmando essas palavras ao discursar no jantar oferecido a ele na casa do embaixador brasileiro em Washington. Textualmente: "O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos de desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa, para depois então começarmos a fazer".

Pela amostra, tem-se ideia do que ele pretende destruir: pôr fim nos direitos dos trabalhadores, das minorias e das mulheres; liquidar com a educação; acabar com os direitos humanos; abalar as instituições e a própria democracia. No lugar, almeja uma sociedade armada; livre do "politicamente correto"; sem "ideologia de gênero"; formada somente por "cidadãos de bem".

Mas, acima de tudo, sonha com uma utopia reacionária; uma sociedade autoritária-religiosa, a exemplo de uma república islâmica, porém cristã. Em seus devaneios, Bolsonaro tem certeza, como afirmou em seu discurso, ter linha direta com o próprio Deus. Disse que "Ele" estará sempre ao seu lado para ajudá-lo a levar adiante a "missão", que lhe teria sido confiada pelo Todo Poderoso.

E a lambança continuou em sua visita: portou-se de forma subordinada; defendeu a construção do muro na fronteira dos EUA com o México; ofendeu milhares de brasileiros, ao dizer que "a maioria dos imigrantes não tem boas intenções; deixou aberta a possibilidade de participar de uma aventura militar na Venezuela, para agradar ao seu ídolo, Donald Trump.

Os bolsonaristas de sempre vão se queixar: você só fala mal, não viu nada de bom na visita que o presidente fez aos Estados Unidos? Talvez haja, mas a avalanche de impropriedades tem a propriedade de soterrar qualquer possível análise positiva. n

Plínio Bortolotti