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Cachorro vendido no Quilo

01:30 | 19/01/2018

Jair fora avisado pela veterinária que, castrado, o cachorro engordaria. Por que capar o Brega – vira-latas do Poeta dos Cachorros? Pro bicho parar de fazer menino no cadelaral do bairro. Contados na ponta do lápis, 621 cachorrinhos sob a paternidade do cachorro do Jair. Que só não esperava uma coisa: o animal engordar mais de quinhentos por cento. Dos 20kg d’outrora (peso dum bode magro), alcançou estratosféricos 100kg.

Jair assustado. Brega comilão, cagão, mijão, carrapatento, fedorento. Sem contar que tá paradão, lesado, preguiçoso, depressivo, incapaz de dar uma carreira num peba velho. E o pior: peidando muito, a ponto de enlouquecer o gato de estimação da mulher de Jair (felino passa a ter atitudes de um cururu). Poeta instado a dar solução àquilo, ou a mulher sairia de casa. Foi vender Brega na feira da Parangaba.

Setor dos cachorros, aqui estamos nós – acompanhei o amigo na empreitada. Tudo muito organizado: ala de pastor alemão e de pinscher, de pé duro e de cachorro enjeitado. Todos de acordo com idade, pedigree dos pais, caderneta de vacinação. Brega era o único a destoar. Mais parecia uma porca, das que já nem andam. Criadores simpáticos e solícitos seguram seus bichos na esperança de comprador que apareça. Brega chama a atenção, todos frescam.

Jair, parido por seu cachorro, na verdade não quer vendê-lo. Mas também não admite que valha um simples poodle, de magros 7kg (ao preço 800 reais), mais do que seu gordo Brega, de maciços 100kg. Curiosa senhora se aproxima, espia o bichão deitado... Pergunta se é pra vender e Jair responde jactante:

- É! E é no quilo!!!

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A esposa fraca dos nervos

Nanita era conhecida. Da menor coisa fazia a maior tragédia. Nervosa, tadinha. “É mental!”, diziam. Um espirro do netinho e já pensava em UTI. A prova mais contundente do que se diz foi no acidente do marido Joab, vindo do sítio de Pacajus, de onde trazia ovos e farinha. Vinha numa reta e, sabe-se lá como, capotou o carro. Saveiro de rodas pra cima. Mas, Joab sem um único arranhão. Liga pra Nanita, tranquilo, do celular.

- Dona menina, capotei o carro...

- Joaaaaaab!!! Tu morreu!!! – esposa fora de si.

- Morri não, Nanita! Senão não estaria falando contigo!

- Mentira, Joab, tu bateu o catolé!!!

- Mulher, ainda não!!!

- Pois me prove!

Ele não queria passar por aquilo, mas, sabedor das fragilidades da cara metade, chama um curioso e pede que diga à mulher que ele está vivo.

- Gente ruim não morre, dona. Seu marido escapou. Tá viv...

- Tá vivo nada! Morreram ele e você! Passe o celular pra finado Joab!!!

- Diz, Nanita – dispara o recém-acidentado, já se enfezando.

- Joaaaaaab!!! Tu bateu o catolé!!!

Só tinha um jeito de provar que estava vivo: aparecer pra Nanita em carne e osso. Desvirado o carro, deu partida, chegou em casa. Saveiro do lado de fora. Adentrou. Mulher nos braços da vizinha. Joab usa a mais alta psicologia em momentos assim.

- O carro virou, mas não quebrou um único ovo. A farinha tá intacta...

- Graças a Deus, meu amor! Graças a Deus!

Gabrielle Zaranza

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