PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

Para Erico Firmo, ao PSDB resta a implosão ou a reinvenção

2017-11-10 01:30:00

Se, com a guerra interna instaurada, o PSDB conseguir eleger o presidente da República em 2018, terá encontrado a receita de fazer tudo errado para chegar ao resultado certo. Na teoria, o principal partido de oposição seria favorito para a eleição subsequente a um impeachment. Na prática, nem sempre é assim. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a ser dado como certo como presidente após o impeachment de Fernando Collor. Na época, o PSDB levou.


Aécio Neves (PSDB) transformou o mal-estar e a disputa interna em guerra irreconciliável. Tasso nunca foi acostumado a ser contrariado. Não é seu estilo levar desaforo para casa. Irá às últimas consequências para não sair derrotado e humilhado.


A jogada de Aécio ou foi muito genial ou uma completa trapalhada. Atende aos interesses óbvios do presidente Michel Temer (PMDB). Se a aliança com o governo já é polêmica entre os tucanos, fica agora com toda cara de intervenção dentro da legenda. Quem estivesse indeciso tende a pender a favor de Tasso. Diante de gesto tão brusco e violento, Aécio pode ter fortalecido Tasso e a oposição a Temer no PSDB.


Havia algum nível de diálogo entre Tasso e o governador goiano Marconi Perillo na tentativa de um entendimento para a eleição de presidente do partido, em menos de um mês. Agora, a disputa interna é inevitável. É quase impossível conciliar os grupos que deixaram de ser adversários: são agora inimigos. A saída possível que se coloca talvez seja Geraldo Alckmin como presidente do partido, na tentativa de um consenso.


O PSDB pega fogo com a destituição de Tasso. A indecisão e o muro deixam de ser alternativas para o partido. Briga sempre teve, mas o racha interno alcança patamar talvez nunca antes visto. No fim do governo Fernando Henrique Cardoso, o próprio Tasso se envolveu em muita briga. Mas, sem chegar a gesto extremo como o da destituição. Com tamanha divisão interna, ou PSDB se decide e encontra um rumo novo, ou a implosão será o destino do partido.


A REVOLUÇÃO, A DITADURA E O MEDO

O início da primeira ditadura da República brasileira, o Estado Novo, completa hoje 80 anos. Na terça-feira, a Revolução Russa completou 100 anos. O acontecimento de 20 anos antes foi determinante para a instalação de regime ditatorial de Getúlio Vargas, que ascendeu com apoio da extrema-direita integralista.

Vargas usou o medo dos comunistas como pretexto para centralizar poderes e se fortalecer de forma absoluta. Fechou o Congresso Nacional, assembleias estaduais e câmaras municipais. Governadores e prefeitos passaram a ser indicados. A imprensa permaneceu sob censura. Houve tortura nos porões da polícia. Ícone da brutalidade do período foi a entrega de Olga Benário, mulher de Luís Carlos Prestes, à Alemanha nazista, onde foi assassinada.


O motivo alegado para instituir ditadura autoritária como nenhuma outra na história brasileira foi a ameaça comunista. Em 1935, Prestes havia liderado tentativa de golpe, apoiada por Moscou. Nunca teve chances reais de vitória e foi submetido a campanha de desmoralização. A começar pela alcunha recebida: Intentona Comunista. Depois, porém, percebeu-se que seria mais útil usar o medo que a chacota.


Em 30 de setembro de 1937, foi revelado pelo general Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior, o chamado Plano Cohen. O documento teria estratégias para derrubar o governo e instalar uma ditadura comunista. Fabricou-se o pânico. No dia seguinte, Vargas pediu e o Congresso, no mesmo dia, decretou Estado de guerra. Teve início perseguição a opositores. Por exemplo, foi cassado o governador gaúcho Flores da Cunha, ex-apoiador que se tornou obstáculo para o governo. Aliás, Cunha foi eleito para o primeiro mandato de deputado federal pelo Ceará, mesmo sem ter ao menos conhecido o Estado. Mas, isso não vem ao caso. Derrotados os adversários, Vargas instituiu sua ditadura em 10 de novembro de 1937.

 

Congresso foi cercado pelo Exército e fechado. Nova Constituição foi outorgada. Em 1945, com o Estado Novo caindo de podre, Góes Monteiro revelou que o Plano Cohen havia sido uma fraude. A Constituição de 1934 previa eleição e Vargas não queria largar o osso. O custo da farsa para o Brasil foram oito anos de ditadura. Em 1964, novamente o medo dos comunistas criou uma ditadura de direita.


Os comunistas brasileiros queriam, sim, tomar o poder. Daí a terem algum dia reunido as mais remotas condições para tal vai longa distância. Nunca passaram perto de ter perspectiva de vitória. Considerá-los ameaça significativa serviu, sim, para regimes de direita imporem governos de exceção ao longo de três décadas.


REAÇÃO AOS COMUNISTAS

Desde o século XIX, as ideias comunistas sacodem o planeta e forçam governos a reagir. Isso ocorreu de diversas maneiras no passado e hoje. Por exemplo, na Alemanha, na esteira da Comuna de Paris (1871), o chanceler Otto von Bismarck criou a primeira previdência moderna do mundo. A seguridade social era maneira de resguardar garantias mínimas aos trabalhadores e tentar evitar que se revoltassem.

No Brasil de hoje, quem enxerga risco do comunismo pretende censurar obras de arte e patrulhar o trabalho dos professores em sala de aula.

 

Érico Firmo

TAGS