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Dividido e enfraquecido, PSDB procura rumo

2017-10-20 01:30:00
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O PSDB arca com o que talvez seja o mais pesado ônus políticos pelo apoio ao governo Michel Temer (PMDB). O PMDB já é o que é mesmo e não demonstra grandes ilusões de eleger o presidente em 2018. Com a retirada do PT do poder, os tucanos seriam, na teoria, os favoritos para emplacar o próximo presidente. Podem até ser vitoriosos no ano que vem, mas nada sugere o favoritismo hoje. E as perspectivas não são de melhoras, longe disso. O desgaste tem ocorrido fora e dentro do partido.


Os tucanos viram naufragar o pouco que restava do discurso contra a corrupção ao contrariarem o Supremo Tribunal Federal (STF) e jogarem pesado para salvar Aécio Neves. Aliás, é hilário hoje reler a mensagem do senador mineiro no Twitter, na época do afastamento do então petista Delcídio do Amaral. O post voltou a circular nas redes sociais. Nele, Aécio afirma: “Ao votar de forma transparente pela manutenção da decisão do STF sobre a prisão do senador Delcídio, sinalizou que a Justiça vale para todos”. Era um distante 26 de novembro de 2015.


Em defesa de Aécio, Temer se envolveu pessoalmente nas negociações. O senador, por sua vez, tem articulado a favor do presidente dentro do partido. A simbiose amplifica o desgaste e a crise interna e externa.


Na votação da denúncia contra Temer, o PSDB rachou. Cinco votos contra o presidente, três a favor. Um desses últimos do relator da denúncia, que não teve maioria na própria bancada. No plenário, será parecido.

[FOTO1]

No meio disso tudo, o presidente nacional interino, Tasso Jereissati, afirmou que Aécio não tem condição de ficar na presidência do PSDB. Ora, para ficar no Senado, propor e votar leis e representar o povo ele serve. Para representar os filiados do PSDB não serve?


O partido está perdido. Uma bagunça de fazer inveja aos tempos mais conturbados de disputas internas no PT.


CONSENTIMENTO E EXPLORAÇÃO

A coluna de ontem abordou como a portaria do Ministério do Trabalho exclui do conceito de trabalho escravo até pessoas que eram escravizadas pela legislação brasileira que perdurou até o século XIX. O cerceamento de liberdade como condição para caracterizar o trabalho escravo aparece porque o governo considera o não consentimento do trabalhador como essencial para essa condição. As Nações Unidas e organismos internacionais que promovem operações de resgate de pessoas entendem ser irrelevante o consentimento ou não. A pessoa pode até concordar em trabalhar por comida. Pode estar em desespero tal que aceite se submeter a condições degradantes e perigosas. Ainda assim, o empregador não tem direito de se aproveitar e explorar a situação. E cabe ao poder público impedir isso.

Para ler a coluna de ontem, acesse este link: http://bit.ly/trabescravo


O ATRASO MOSTRA FORÇA

Nas décadas que antecederam a abolição, formaram-se os chamados clubes da lavoura. Eram associações de grandes fazendeiros, unidos para tentar atrapalhar ao máximo a libertação dos negros. Diziam que a libertação dos negros explorados destruiria a economia nacional. Nos últimos anos em que perdurou a escravidão, pressionavam pela indenização dos proprietários. Para eles, a “reparação financeira” de quem investiu para usar trabalho de negros caçados e trazidos a peso de ouro da África, ou de seus descendentes, era mais importante que cessar a violação de direitos humanos os mais elementares. Vale registrar: durante mais de 350 anos da história brasileira, a escravidão foi a força de trabalho central. Foi abolida há 129 anos.

Hoje, a bancada ruralista se move como os novos clubes da lavoura. Há produtores de mentalidade moderna. Acreditam na relação harmônica com o meio ambiente, em introdução de tecnologia para ter produção mais intensiva em menor quantidade de terra. E que apostam na qualificação de seus trabalhadores, com condições adequadas. Porém, permanecem em silêncio conivente enquanto age politicamente uma horda que representa o que há de mais atrasado na economia do País. Que apostam no desmatamento, queimadas, destroem vegetação de nascentes, pressionam pelo perdão de multas por grilagem e acreditam que explorar trabalhadores em condições degradantes é maneira inteligente e sustentável de fazer dinheiro. Agem como se não houvesse amanhã.

Érico Firmo

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