PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

Temer pula uma fogueira no TSE

2017-06-09 01:30:00
NULL
NULL

Nenhuma surpresa: por apertada maioria (4 votos a 3), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) resolveu fingir que toda a investigação da Operação Lava Jato não existe. A Corte, para usar expressão do gosto do seu presidente, mandou “às favas” o rosário de indícios de crimes (caixas 1, 2 e 3, além de “caixa-poupança” e “caixa-gordura”) presentes no testemunho de Marcelo Odebrecht, colhidos pelo relator da ação no colegiado, Herman Benjamin. É junho, mas o cardápio na Casa ontem foi uma pizza preparada a oito mãos.


Os ministros Admar Gonzaga, Tarcísio Vieira, Napoleão Nunes e Gilmar Mendes rejeitaram em bloco a inclusão dos depoimentos de Odebrecht. Para os magistrados, considerar essas provas seria extrapolar a petição inicial da ação ajuizada pelo PSDB, que pede a impugnação da chapa Dilma/Temer por abuso de poder econômico nas eleições de 2014. Na apreciação do processo, agora, passa a valer apenas o que estiver diretamente relacionado ao esquema na Petrobras, com financiamento irregular de campanha.


Ainda que, excluídas as falas de Odebrecht, o que reste seja muito grave (os depoimentos dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura é igualmente comprometedor), não há qualquer sinal hoje de que o TSE tem disposição para cassar Temer. Num mês em que rojões cruzam os céus de Brasília e passeios em jatinhos de empresários investigados engrossam o coro pela renúncia do presidente, é possível que o peemedebista consiga saltar essa fogueira.


A CRISE CONTINUA

Embora possa se livrar do TSE, Temer não tem razões para comemorar: logo ele terá encontro com o Supremo Tribunal Federal (STF), que o investiga por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de justiça no caso das delações da JBS. Tudo indica que, já na próxima semana, Rodrigo Janot, procurador-geral da República, apresentará denúncia contra o presidente. Antes de chegar ao Supremo, porém, o pedido precisará ser aceito pela Câmara dos Deputados.

[FOTO1] 

O Planalto conta com sua rede de amigos para barrar mais esse ataque que, se avançasse no STF, converteria Temer em réu, obrigando-o a se afastar da Presidência enquanto a ação penal transcorresse para apurar os crimes atribuídos ao presidente. Hoje, porém, nada faz crer que a base do governo no Congresso desmorone antes da apresentação da denúncia por Janot. Ou seja, Temer pode conseguir pular esse braseiro também.


Salvo por um “fato novo”, como tem repetido Tasso Jereissati, senador cearense e presidente interino do PSDB. E fatos novos parecem abundar perigosamente no horizonte de Temer.


TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE

Ainda que salte uma fogueira hoje no TSE e uma segunda no STF nas próximas semanas, Michel Temer terá pela frente uma sucessão de dificuldades, a começar pela iminência de delação de dois nomes ligados ao governo: o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial e braço direito do peemedebista, e o lobista Lúcio Funaro, que operava para Eduardo Cunha, preso em Curitiba, e todo o PMDB. E, não custa lembrar, há sempre o baú de Janot à vista, cujo fundo não se sabe ainda até onde vai - nos bastidores, diz-se que o procurador, que deixa seu posto em setembro próximo e não vai disputar novo mandato, vem represando gravações do presidente para divulgá-las em ocasião conveniente. É possível que tudo isso seja versão plantada pelos advogados de Temer para conferir ares de credibilidade à narrativa de que Janot se move por razões pessoais. Mas é possível também que seja verdade.

UMA SEMANA INFERNAL PARA CID

O ex-governador e ex-ministro Cid Gomes vive talvez o seu pior momento político. Num intervalo de menos de um mês, foi citado na delação da JBS acusado de receber propina de R$ 20 milhões, virou réu em ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF) por suposto crime contra o Sistema Financeiro Nacional e viu uma construção da qual é sócio ser embargada por suspeita de crime ambiental na serra da Meruoca, no interior do Ceará. Tudo isso talvez explique a ligeireza com que o pedetista anunciou sua candidatura ao Senado em 2018.

 

Henrique Araújo

Jornalista, editor-adjunto de Conjuntura do O POVO

Escreve esta coluna interinamente de terça a sábado

 

Adriano Nogueira

TAGS